Projeto tira roupas do armário e gera R$ 3,5 milhões para mulheres

Encabeçada pela Gerando Falcões, a ASMARA, plataforma de autonomia financeira para população feminina de favelas e periferias,

Divulgação
Divulgação

Paula Pacheco 4 minutos de leitura

Um dos projetos desenvolvidos pela maior ONG do mundo, a BRAC, em Bangladesh, inspirou uma iniciativa que acaba de completar um ano. Depois de um projeto-piloto, foi lançado o programa ASMARA.

A plataforma busca oferecer condições para a autonomia financeira em favelas e periferias. A estratégia é usar o modelo de venda direta de itens obtidos de doações para gerar renda – por exemplos, roupas e brinquedos.

Até agora, 4.400 mulheres foram impactadas pelo ASMARA. Elas conseguiram em um ano gerar um faturamento total de R$ 3,5 milhões e comercializaram em torno de 100 mil peças. O valor é compartilhado entre as vendedoras, as 80 ONGs parceiras que coordenam o programa nos seus territórios e utilizado para manter a logística e infraestrutura. Para 2025, a ONG planeja expandir o programa e multiplicar por quatro o atual número de vendedoras.

Como conta Mayara Lyra, co-fundadora e diretora de Negócios Sociais da ASMARA, o projeto-piloto foi desenvolvido na Favela dos Sonhos em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo.

“A ideia surgiu após uma visita do Edu Lyra, meu marido e co-fundador da Gerando Falcões, à BRAC, que tem 90% das receitas geradas pelos mais de 70 negócios sociais que eles possuem. Um desses negócios é a venda direta com microcrédito inicial para as participantes do projeto. Nós nos inspiramos nesse modelo de negócio e adaptamos para a realidade brasileira”, explica.

DESAFIO PERIFÉRICO

Mayara e Edu viam a dificuldade de muitas mulheres da periferia, sem rede se apoio e muitas vezes mães-solo, para conseguir um emprego com uma jornada de oito horas diárias e ainda cuidar dos filhos. O desafio era encontrar uma forma delas gerarem a própria renda em uma atividade produtiva com jornada flexível. O nome ASMARA vem de “as maravilhosas”, porque é dessa forma que enxergamos as mulheres batalhadoras das favelas.”

O modelo de negócio foi desenhado a quatro mãos entre a Gerando Falcões e a Accenture. ASMARA é uma das quatro tecnologias sociais da Gerando Falcões, que ainda conta com o Favela 3D, dedicada a oferecer dignidade, a digitalização e o desenvolvimento para as favelas do Brasil; Decolagem, estruturado como uma trilha de acompanhamento individualizada com metas para que as famílias se emancipem da pobreza; e a Falcons University, que forma líderes sociais para replicar os projetos da Gerando Falcões em suas próprias localidades.

No modelo de negócio social do ASMARA, as participantes não precisam de um capital inicial para participar do programa. Cada mulher recebe gratuitamente uma sacola com cerca de 40 peças de vestuário, em boa qualidade, todas doadas. As vendedoras têm acesso a catálogos digitais com outros tipos de produtos que também podem ser comercializados.

O projeto está na cidade de São Paulo, com organizações parceiras espalhadas pelas zonas sul, leste, oeste e centro, além de parte da Grande São Paulo, como Ferraz de Vasconcelos e Poá e no Litoral Paulista.

CAPACITAÇÃO

Mas não basta ter a sacola cheia para começar a gerar renda, explica Mayara. “Nós capacitamos e acompanhamos as vendas de cada Mara para que elas consigam cada vez mais aumentar sua renda a partir do seu trabalho no programa. Temos muitas histórias de superação, de mulheres que alcançaram seus sonhos e outras que voltaram a sonhar por voltarem a exercer uma atividade que as permitiu gerar sua própria renda e reconquistar sua independência financeira.”

O suporte às novas vendedoras inclui torná-las mais confiantes para encarar um trabalho que é novo para a maioria. Todas passam por treinamentos para ganhar mais familiaridade com a nova função. A renda média fica em torno de R$ 399,99. Para muitas, é um complemento de renda. Há também aquelas mulheres que conseguem conciliar a venda porta a porta com outras atividades. O programa, na avaliação de Mayara, vem para contribuir com a redução da pobreza.

Do valor arrecadado com as vendas, cerca de 30% vão para as vendedoras na forma de comissão, até 20% são direcionados para as ONGs parceiras da Gerando Falcões que coordenam ASMARA em seus territórios para que possam expandir projetos sociais e cerca de 50% voltam a Gerando Falcões para arcar com os custos com logística do programa.

A captação de mais mulheres é feita todo mês por meio da rede de Maras em parceria com as ONGs que integram a rede da Gerando Falcões. Além disso, a plataforma faz campanhas em canais digitais e promove mutirões de oportunidades para incentivar mais inscrições. Quem faz parte da equipe conta ainda com alguns incentivos que premiam os melhores resultados. Em um ano, já foram entregues cerca de 50 smartphones, R$ 5 mil em pix, 160 eletrodoméstico, moto e duas viagens internacionais.

MODA CIRCULAR

Outro pilar importante, segundo a diretora de ASMARA, é a disseminação dos aspectos ambientais. As vendedoras passam por uma imersão sobre o conceito de moda circular e se tornam “embaixadoras”.

A moda é uma das indústrias que mais geram resíduos no mundo. Dados divulgados em 2023 pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) apontam que em torno de 4 milhões de toneladas de resíduos são descartados por ano no país.

As doações são retiradas pela ASMARA. O agendamento pode ser feito pelo site doebazar.gerandofalcoes.com ou pelo telefone (11) 3426-9800.


SOBRE A AUTORA

Paula Pacheco é jornalista old school, mas com um pé nos novos temas que afetam, além do bolso, a sociedade, como a saúde do planeta. saiba mais