Entre dados e emoções: a revolução da inteligência artificial na saúde mental

Imagine um assistente virtual que, ao analisar sua voz ou suas mensagens, detecta sinais de estresse antes mesmo que você perceba

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Michelle Schneider 2 minutos de leitura

O Brasil enfrenta uma crise silenciosa, mas devastadora, de saúde mental. Com quase 20 milhões de pessoas sofrendo de ansiedade, o país lidera os índices globais desse transtorno, segundo a OMS.

Além disso, ocupa a segunda posição no ranking de burnout – superado apenas pelo Japão – e a quinta posição mundial em casos de depressão. Esses números são alarmantes, especialmente em um contexto no qual a saúde mental ainda é frequentemente negligenciada, tanto em ambientes corporativos quanto sociais.

Nesse cenário, a inteligência artificial surge como uma ferramenta poderosa e, ao mesmo tempo, controversa. Ferramentas de IA estão redesenhando o acesso à saúde mental: chatbots terapêuticos que fornecem suporte emocional 24/7, algoritmos que identificam sinais de depressão em padrões de escrita ou voz e plataformas de telemedicina que conectam pacientes a profissionais de forma ágil e personalizada.

Imagine um assistente virtual que, ao analisar sua voz ou suas mensagens, detecta sinais de estresse antes mesmo que você perceba. Esse é o presente – e o futuro – da saúde mental impulsionada pela tecnologia.

Essas inovações têm potencial transformador, especialmente em regiões onde o acesso ao cuidado psicológico é escasso ou estigmatizado. Startups e empresas globais, como o Woebot, estão liderando a criação de ferramentas acessíveis que democratizam o cuidado emocional.

Na Índia, por exemplo, onde a proporção de psicólogos por habitantes é preocupante, soluções de IA já ajudam milhões a buscar suporte.

No entanto, essa revolução tecnológica levanta uma questão crucial: pode a IA substituir a humanidade no campo da saúde mental? Um exemplo emblemático foi apresentado pela psicoterapeuta Esther Perel em sua palestra no SXSW 2023.

Crédito: Violet Kaipa/ iStock

Ela relatou que uma IA havia sido criada com base em seu trabalho e presença digital. Embora impressionante, Perel apontou que as respostas da IA muitas vezes não refletiam o que ela diria, pois faltavam à máquina as nuances da vivência e a empatia que só a experiência humana pode oferecer.

Esse caso ressalta a grande limitação da automação emocional. Terapias guiadas por IA podem oferecer conforto imediato e eficiência, mas não conseguem substituir o valor intangível de uma conversa genuína com um terapeuta humano. Para muitos, ouvir “eu entendo como você se sente” de uma máquina nunca terá o mesmo peso que de uma pessoa real.

O Brasil ocupa a segunda posição no ranking mundial de burnout e a quinta em casos de depressão.

Por isso, é essencial que a IA seja utilizada como um complemento, nunca como um substituto. Empresas têm a oportunidade – e a responsabilidade – de liderar essa transformação, integrando tecnologias para criar ambientes de trabalho mais saudáveis e inclusivos, mas sem negligenciar a importância do toque humano.

A grande revolução da próxima década não será apenas tecnológica, mas humana. Será sobre como escolhemos integrar a tecnologia em nossa jornada emocional. Afinal, como lidamos com nossas emoções – e como utilizamos a IA para cuidar de nós mesmos e dos outros – definirá o verdadeiro significado de progresso.


SOBRE A AUTORA

Michelle Schneider é palestrante, futurista e professora convidada na Singularity University e na Universidade Hebraica de Jerusalém. ... saiba mais