Como a música pode mudar seus sentimentos sobre as suas lembranças

A música age como um guia emocional, conectando-se às memórias e transformando sutilmente suas emoções

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Yiren Ren 3 minutos de leitura

Você já reparou como certas músicas podem trazer uma avalanche de memórias? Talvez seja aquela canção que tocava durante sua primeira dança ou a trilha sonora de uma viagem inesquecível.

Muitas vezes, vemos essas memórias musicais como retratos fixos do passado. Mas uma nova pesquisa que minha equipe e eu publicamos sugere que a música pode fazer mais do que apenas resgatar lembranças – ela pode também mudar a forma como você se lembra delas.

Nosso estudo revelou conexões fascinantes entre música, emoção e memória. Em especial, descobrimos que ouvir música pode transformar a maneira como você se sente em relação ao que lembra – abrindo oportunidades para reinterpretar memórias difíceis.

Quando você escuta uma música, não são apenas os seus ouvidos que entram em ação. Áreas do cérebro ligadas às emoções e à memória também são ativadas.

O hipocampo, essencial para guardar e recuperar memórias, trabalha em conjunto com a amígdala, que processa emoções. Isso explica por que certas músicas não são apenas inesquecíveis, mas também profundamente emocionantes.

Embora a música seja conhecida por evocar emoções e ativar memórias, nos perguntamos se ela poderia alterar o conteúdo emocional das lembranças já existentes. Partimos da ideia de “reativação de memória” – a ideia de que, quando você relembra algo, essa memória se torna temporariamente maleável, permitindo que novas informações sejam incorporadas.

Criamos um experimento de três dias para testar se a música poderia adicionar novos elementos emocionais a memórias durante sua recordação.

No primeiro dia, pedimos aos participantes que memorizassem histórias curtas e neutras. No dia seguinte, eles relembraram essas histórias enquanto ouviam músicas alegres, tristes ou ficavam em silêncio.

Os resultados indicam que a música funciona como um filtro emocional, remodelando e ajustando memórias.

No terceiro, pedimos que relembrassem as histórias novamente, mas dessa vez sem música. Durante o segundo dia, registramos a atividade cerebral dos participantes usando fMRI (Ressonância Magnética Funcional), uma tecnologia que mede mudanças no fluxo sanguíneo no cérebro.

Os resultados foram surpreendentes. Quando os participantes ouviam baladas cheias de emoção enquanto relembravam histórias, adicionavam novos tons emocionais que correspondiam à música.

Por exemplo, histórias neutras recordadas ao som de músicas alegres foram posteriormente lembradas como mais positivas, mesmo quando a música já não estava presente.

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Os exames que fizemos explicam essa dinâmica: a música ativa simultaneamente regiões cerebrais responsáveis pelas emoções e pelo processamento da memória. 

Além disso, observamos uma forte conexão entre essas áreas e as partes responsáveis pelo processamento visual, sugerindo que a música pode influenciar detalhes emocionais enquanto a pessoa visualiza mentalmente uma memória.

MEMÓRIAS REMIXADAS

Nossos resultados indicam que a música funciona como um filtro emocional, remodelando e ajustando memórias. Elas podem ser mais flexíveis do que imaginávamos, podendo ser moldadas por estímulos sonoros no momento da recordação.

Embora mais estudos sejam necessários, nossas descobertas têm implicações práticas interessantes tanto para o dia a dia quanto para a medicina.

a música ativa regiões cerebrais responsáveis pelas emoções e pelo processamento da memória. 

Para as pessoas que sofrem de doenças como depressão ou transtorno de estresse pós-traumático, nas quais memórias negativas são prevalentes, músicas cuidadosamente escolhidas podem ajudar a reinterpretar essas lembranças sob uma ótica mais positiva, reduzindo o impacto negativo ao longo do tempo. Isso também abre caminho para novas abordagens baseadas em música no tratamento de saúde mental.

Os resultados destacam o impacto das trilhas sonoras que escolhemos para nossas vidas. Memórias, assim como nossas músicas favoritas, podem ser remixadas e remasterizadas. Então, na próxima vez que você ouvir sua playlist favorita, considere como ela pode estar moldando não só seu humor atual, mas também suas lembranças futuras.

Este artigoi foi republicado do " The Conversation" sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.


SOBRE A AUTORA

Yiren Ren é pesquisadora adjunta de ciência cognitiva no Instituto de Tecnologia da Geórgia. saiba mais