Tinta automotiva consegue capturar energia solar para recarregar carros elétricos
A Mercedes-Benz está desenvolvendo uma tecnologia inovadora que capta energia solar
Imagine um futuro no qual carros elétricos são revestidos por uma pintura especial capaz de capturar energia solar em toda a sua superfície. Não apenas no teto ou no capô, mas em todo o exterior do veículo.
Essa tecnologia, que parece saída de uma obra de ficção científica, está sendo desenvolvida por pesquisadores da Mercedes-Benz e pode revolucionar a mobilidade elétrica.
“Produzimos e pintamos centenas de carros por dia. Então, por que não aproveitar essas superfícies para captar energia solar?”, questiona Jochen Schmid, gerente da Future Electric Drive, divisão de pesquisa e desenvolvimento da montadora focada em tecnologias para veículos elétricos.
O segredo está em um material fotovoltaico que funciona como uma pasta aplicada à parte externa do carro. Essa tinta solar é incrivelmente fina, com apenas cinco micrômetros de espessura (um fio de cabelo humano tem cerca de 100 micrômetros) e pesa 50 gramas por metro quadrado.
Em um SUV médio, por exemplo, a pintura poderia cobrir cerca de 11 metros quadrados, gerando energia suficiente para percorrer até 12 mil quilômetros por ano em condições ideais. Contudo, a captação de energia varia com a intensidade da luz solar e a presença de sombras.
Por ser flexível, a tinta pode ser aplicada em superfícies curvas, como para-lamas, ampliando a área de captação, algo que os painéis solares rígidos não permitem. A composição do revestimento é feita de múltiplas camadas – material condutivo, isolamento, material ativo solar e uma camada final de acabamento –, totalizando os cinco micrômetros.
A energia captada seria transferida por fios para um conversor, que alimentaria a bateria de alta voltagem do veículo. Em Stuttgart, na Alemanha, onde fica a sede da Mercedes, motoristas percorrem, em média, 50 quilômetros por dia. Essa tecnologia poderia suprir até 62% dessa demanda diária usando apenas energia solar.
Outro destaque da tinta é a sustentabilidade. Ao contrário de painéis solares tradicionais, ela não utiliza metais raros, silício ou materiais tóxicos, tornando sua reciclagem mais simples.
Além disso, a fabricante está explorando maneiras de facilitar reparos. “Muitas pessoas podem temer que um arranhão comprometa a funcionalidade da pintura, mas desenvolvemos soluções para minimizar esses impactos”, garante Schmid.
Com veículos elétricos revestidos com tinta solar, a dependência de redes de recarga e carregadores domésticos diminuiria. Schmid observa que os consumidores ainda hesitam muito em comprar um carro elétrico devido a preocupações com o acesso a carregadores e o tempo necessário para a recarga.
“Se mais da metade da energia que você precisa puder vir gratuitamente do sol, isso é uma enorme vantagem”, diz ele, destacando que, com o carregamento bidirecional, os veículos elétricos também poderiam atuar como “usinas de energia pessoais”, já que qualquer sobra de energia pode ser redirecionada para a rede elétrica convencional.
Embora a Mercedes já tenha apresentado um primeiro protótipo dessa tecnologia em 2014, a tinta solar evoluiu bastante desde então. Há pouco tempo, a montadora exibiu um modelo atualizado em um evento de pesquisa na Alemanha. “Isso não é apenas uma ideia no PowerPoint. A tecnologia já está funcionando”, afirma Schmid.
No entanto, ainda levará anos até que esteja disponível comercialmente. Apesar disso, a Mercedes continua otimista e comprometida em torná-la uma realidade. “Acreditamos firmemente nessa ideia, caso contrário, não estaríamos investindo tanto nela”, conclui Schmid.