Nem tão “Wicked” assim: como manter a autenticidade na era da IA

O filme – e um de seus personagens mais icônicos, o Mágico de Oz – oferece lições valiosas sobre o que está escondido atrás da cortina

Crédito: Hi! Estudio/ Unsplash

R. Vann Graves 3 minutos de leitura

Recentemente, tive a chance de assistir a “Wicked”, a adaptação cinematográfica do aclamado musical da Broadway. Dirigido por Jon M. Chu, o filme é a primeira parte de uma história que explora as origens dos personagens antes dos eventos de “O Mágico de Oz”. 

Enquanto o clássico de 1939 narra a encantadora aventura de Dorothy, o novo longa mergulha nas complexas dinâmicas sociais e políticas de Oz, questionando a tradicional visão de bem versus mal.

Entre os personagens centrais que aparecem nos dois filmes está Oscar Zoroaster Phadrig Isaac Norman Henkle Emmanuel Ambroise Diggs, mais conhecido como o Mágico de Oz. No livro de L. Frank Baum, publicado em 1900, ele é retratado como um governante poderoso e enigmático da Cidade das Esmeraldas, que Dorothy procura em busca de ajuda para voltar para casa.

No entanto, sua aura de poder é desfeita quando descobrimos que ele é apenas um mágico de circo do interior, que utiliza truques para criar uma ilusão de autoridade. Essa revelação aborda temas como engano e autodescoberta, extremamente pertinentes às discussões atuais sobre inteligência artificial e seu impacto na criatividade humana.

O QUE A IA TEM A VER COM ISSO?

O uso de ilusões pelo mágico guarda uma interessante semelhança com a forma como hoje confiamos na IA. Recentemente, enquanto preparava uma apresentação, usei o ChatGPT para organizar minhas ideias. O texto gerado era coeso e impressionante, mas não era realmente meu.

Era como se eu também estivesse usando um truque de mágica: a inteligência artificial transformou rapidamente meus pensamentos em um conteúdo convincente, mas faltava algo essencial – autenticidade. Isso me fez questionar: ainda podemos ser considerados líderes de pensamento quando dependemos da IA para moldar nossas ideias?

Assim como o personagem utilizava um elaborado maquinário para exercer sua autoridade, a inteligência artificial eleva nossa capacidade de comunicação e criatividade, mas às custas da nossa essência. 

Crédito: MGM

O que acontece quando a cortina metafórica é puxada e as nossas habilidades reais, sem o refinamento da IA, são expostas? Embora ela produza resultados impressionantes, a verdadeira magia acontece quando a utilizamos como uma ferramenta para potencializar o que somos, em vez de nos escondermos por trás dela.

Essa reflexão aponta para uma mudança cultural maior. Assim como Dorothy e seus amigos em “O Mágico de Oz” descobriram forças interiores, talvez o verdadeiro potencial da inteligência artificial esteja em nos ajudar a desbloquear e aprimorar nossas próprias capacidades. Reconhecendo a IA como ajudante, e não como substituta, podemos equilibrar eficiência com autenticidade.

A IMPORTÂNCIA DA TRANSPARÊNCIA

Incorporar a inteligência artificial no processo criativo exige um equilíbrio entre eficiência e autenticidade. Embora a tecnologia torne processos mais ágeis, a transparência é fundamental. De acordo com a Getty Images, quase 90% dos consumidores valorizam a transparência quanto ao uso de conteúdo gerado por IA, o que ressalta a importância da confiança na era digital.

Além disso, a inteligência artificial levanta questões éticas – como direitos autorais e originalidade – que precisam ser resolvidas para garantir seu uso responsável. A falta de clareza legal em relação a essa tecnologia pode, inclusive, desencorajar sua adoção, especialmente por empresas preocupadas com riscos jurídicos.

a inteligência artificial eleva nossa capacidade de comunicação e criatividade, mas às custas da nossa essência.

A jornada do mágico de Oz serve como uma metáfora da nossa relação com a IA. Assim como sua fachada foi desmascarada, revelando quem ele realmente era, a dependência da inteligência artificial não deve ofuscar nossa essência ou prejudicar nossa criatividade. Ao abraçá-la como uma parceira, ampliamos nossas capacidades sem perder de vista nossa individualidade.

Essa comparação também reforça a responsabilidade que temos ao introduzir novas tecnologias. A IA pode democratizar o acesso ao conhecimento, mas isso exige discernimento: saber quando utilizá-la e quando priorizar nossa própria voz. Ao encontrar esse equilíbrio, inovamos sem perder nossa humanidade.

Assim como os truques do mágico, a inteligência artificial tem um imenso potencial transformador. Mas ela deve ser usada de forma ética e transparente, amplificando nossa engenhosidade sem diminuí-la. Somente quando sairmos de trás da cortina e encararmos a IA como uma ferramenta, poderemos construir uma cultura de autenticidade e confiança na era digital.


SOBRE O AUTOR

R. Vann Graves é diretor executivo do VCU Brandcenter, programa de mestrado em publicidade, branding e solução criativa de problemas d... saiba mais