Meta tenta fazer com que o Threads se pareça mais com o Bluesky. De novo

Pela terceira vez em um mês, empresa anuncia mudanças em sua plataforma que parecem inspiradas no sucesso da rede rival

Crédito: Fast Company Brasil

Joe Berkowitz 3 minutos de leitura

O maior indício de que uma plataforma de mídia social está em alta? Quando a Meta começa a copiá-la.

Os Stories só chegaram ao Instagram em 2016, depois que o Snapchat mostrou que o conceito de conteúdos efêmeros era popular. Os Reels foram adicionados em 2020 e, no ano seguinte, foram incluídos também no Facebook, inspirados no grande sucesso do TikTok. 

Quando o BeReal começou a ganhar destaque com seu formato de câmera dupla, a Meta rapidamente adicionou o recurso ao Instagram. Agora, com o Threads, a empresa parece estar repetindo a fórmula, desta vez se inspirando no Bluesky.

A debandada em massa do X/ Twitter, de Elon Musk, após as eleições presidenciais norte-americanas, resultou em um aumento significativo no número de usuários tanto no Threads quanto no Bluesky.

A plataforma da Meta registrou 35 milhões de novos perfis em três semanas, alcançando a marca de 275 milhões no total, enquanto o Bluesky viu sua base crescer em 10 milhões, ultrapassando 25 milhões de usuários.  

Mas, embora o Threads esteja tecnicamente liderando a corrida para ser o “próximo Twitter”, pelo menos em números absolutos, sua concorrente tem algo que seus usuários, com um toque de ironia, chamam de “charme”. Ela é simplesmente mais “atraente”, gerando mais manchetes e conversas – especialmente sobre política, um tema que o Threads decidiu não priorizar.

Se ainda restam dúvidas sobre o sucesso recente do Bluesky, basta observar as tentativas do Threads de “se inspirar” – ou, mais precisamente, copiar – suas ideias.

Menos de duas semanas após as eleições dos EUA, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, anunciou que a plataforma começaria a testar um novo recurso de feeds personalizados, permitindo que os usuários organizem conteúdos de acordo com seus interesses. É difícil ignorar que o Bluesky já utiliza um sistema semelhante desde julho de 2023.

E as “inspirações” não param por aí. Uma reclamação frequente sobre o Threads é seu feed não cronológico, que muitas vezes mostra postagens antigas e fora de contexto. Enquanto isso, o Bluesky, com seu feed cronológico, continuava a atrair mais usuários diários.

Em resposta, Adam Mosseri, chefe do Instagram, anunciou que a plataforma começaria a exibir “menos conteúdos recomendados de contas que você não segue e mais postagens dos perfis que você acompanha”.

Essa mudança pode ser vista como uma reação ao sucesso do Bluesky – ou, talvez, como uma grande coincidência. Mas o que veio em seguida deixou claro que é uma resposta direta. Na semana passada, Mosseri anunciou que o Threads está testando sua própria versão de um recurso que, em muitos aspectos, já é marca registrada do Bluesky: os Starter Packs.

A debandada em massa do X/ Twitter resultou em aumento no número de usuários tanto no Threads quanto no Bluesky.

Introduzidos na plataforma em junho, este recurso permite que os usuários recomendem grupos de perfis em categorias específicas – de “especialistas em geologia” e “pessoas que me fazem rir” a “colunistas da Fast Company”. Assim, outros usuários podem seguir todos de uma vez ou selecionar apenas alguns.

Eis como Mosseri descreveu a versão da Meta: “uma maneira fácil de encontrar e seguir coleções de perfis que publicam sobre tópicos populares no Threads”.

Não é difícil entender por que o Threads está em modo “copia e cola”: é a estratégia clássica da empresa de Zuckerberg. O próprio Facebook surgiu de uma ideia supostamente inspirada no conceito do Harvard Connection, dos irmãos Winklevoss. 

Ainda assim, o Bluesky já se consolidou como a principal alternativa ao X/ Twitter, enquanto o Threads é visto como uma opção genérica mais popular – quase como um Mastodon com uma marca forte. Torná-lo mais parecido com o Bluesky não será suficiente para mudar essa percepção.

A maioria dos usuários que migrou do X/ Twitter – incluindo celebridades, jornalistas, políticos e os chamados “provocadores” – já fez sua escolha e não está disposta a começar do zero novamente.

O Threads pode até atrair pessoas que ainda estão em dúvida sobre para onde ir, mas é pouco provável que convença uma quantidade significativa de usuários a mudar de ideia. Na verdade, quanto mais tentar imitar o Bluesky, maior a chance de os "blueskyers" preferirem continuar na concorrência.

A imitação pode até ser a forma mais sincera de elogio, mas, neste caso, também é um sinal claro de desespero.


SOBRE O AUTOR

Joe Berkowitz é colunista de opinião da Fast Company. saiba mais