A TV ainda reina na sala de casa. Mas é o YouTube que reina na tela da TV

Balanço mostra que mais pessoas estão assistindo à plataforma de vídeos diretamente na televisão

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Chris Stokel-Walker 3 minutos de leitura

Desde seu lançamento, em fevereiro de 2005, o YouTube abraçou o lema “Broadcast Yourself” (algo como “transmita você mesmo”). No início, o conteúdo era consumido em computadores e, mais tarde, em smartphones. Agora, cada vez mais pessoas estão assistindo ao YouTube em seus televisores.

Essa mudança é um dos principais destaques do balanço anual da plataforma. Segundo a empresa, que pertence ao Google, em 2024 os usuários assistiram a mais de um bilhão de horas diárias de conteúdo em aparelhos de TV.

Ver o YouTube como parte central do entretenimento coletivo na sala de casa pode ser surpreendente, mas é apenas um reflexo de um processo de transformação nos hábitos que vem acontecendo há anos.

“Em um momento no qual o consumo de mídia está cada vez mais disperso, o YouTube está se posicionando como o ponto de convergência”, afirma Jess Maddox, professora e especialista em redes sociais da Universidade do Alabama, nos EUA.

Esse processo não se deu de uma hora para outra. Com o passar dos anos, conforme a plataforma aumentava o limite de duração dos vídeos, os criadores começaram a explorar formatos mais longos e elaborados. Alguns passaram a produzir conteúdos no estilo documentário, enquanto outros adotaram o formato de episódios – como os programas tradicionais de TV.

“O YouTube sempre foi uma plataforma consistente e confiável para os criadores de conteúdo. Não me surpreende que podcasters, produtores de audiovisual, criadores de conteúdo infantil e outros tenham encontrado nele uma forma de aumentar audiência e receita”, observa Brandon Harris, professor assistente da Universidade do Alabama e membro do Content Creator Scholars Network.

A receita está vindo, cada vez mais, do público que assiste à plataforma na TV. Segundo a empresa, o número de criadores que obtêm a maior parte de sua renda a partir desses espectadores aumentou mais de 30% em relação ao ano anterior.

DE PODCASTS A VIDEOCASTS

Outro fator importante para esse crescimento são os podcasts, que já acumulam 400 milhões de horas mensais assistidas em televisores. “Se a maioria dos podcasts já é gravada com câmeras e microfones de alta qualidade, faz todo sentido transformar esse conteúdo em vídeo e publicá-lo no YouTube, Spotify ou Audible”, aponta Harris.

A crescente presença do YouTube nas salas de estar mostra o quanto ele se tornou parte essencial do cotidiano. Afinal, é o segundo maior mecanismo de busca do mundo, atrás apenas do próprio Google.

“Ao oferecer podcasts, conteúdos de influenciadores, criadores independentes e até transmissões de TV em um só lugar, o YouTube simplifica um mercado de mídia cada vez mais fragmentado”, avalia Maddox.

A popularidade do YouTube na TV também pode estar relacionada ao alto custo de assinatura de múltiplos serviços de streaming. Ao reunir diferentes tipos de conteúdo – enquanto as empresas de entretenimento seguem na direção oposta –, a plataforma oferece uma alternativa gratuita para os consumidores.

“Isso é uma grande vantagem em um momento no qual empresas tradicionais de mídia estão se dividindo, fundindo ou criando suas próprias plataformas de streaming”, acrescenta Maddox. “O YouTube aponta para um novo caminho e é provável que mais empresas adotem esse modelo de convergência entre mídia e entretenimento.”

A receita dos criadores de conteúdo está vindo, cada vez mais, do público que assiste ao YouTube pela TV.

Harris concorda. “O YouTube se manteve como a principal plataforma de vídeos por décadas justamente por reunir conteúdos de diferentes setores em um só lugar, facilitando a experiência do espectador”. O fato de oferecer uma enorme variedade de conteúdo de entretenimento com apenas um clique no controle remoto o diferencia da concorrência.

Ainda assim, é preciso analisar com cautela o que realmente está impulsionando esse aumento de visualizações nos sofás pelo mundo afora. “O balanço menciona o crescimento do uso do aplicativo em smartTVs, mas isso não é o mesmo que um aumento no número de assinantes do YouTube TV para acessar conteúdos premium”, pondera Harris.

Entre os tipos de conteúdo com maior potencial de crescimento em 2025, a plataforma destaca esportes e programação infantil. Dados internos mostram que o tempo dedicado a assistir a destaques e análises esportivas aumentou 30% no último ano.


SOBRE O AUTOR

Chris Stokel-Walker é um jornalista britânico com trabalhos publicados regularmente em veículos, como Wired, The Economist e Insider saiba mais