Pesquisa liga uso de óleo de milho e de girassol a risco maior de câncer
Altos níveis de ácidos graxos ômega-6 estariam relacionados à inflamação que pode favorecer o crescimento de tumores
De acordo com um estudo inovador publicado na "Gut", revista da Sociedade Britânica de Gastroenterologia, os alimentos que consumimos podem estar influenciando a capacidade do nosso corpo de combater o câncer, especialmente o câncer colorretal.
Os pesquisadores identificaram uma conexão preocupante entre altos níveis de ácidos graxos ômega-6 nas dietas de hoje em dia e um risco aumentado de inflamação, que pode favorecer o crescimento de tumores, especialmente no cólon.
Os ácidos graxos ômega-6, muito comuns em óleos vegetais como soja, milho e girassol, são predominantes nos alimentos ultraprocessados, que dominam a dieta ocidental. Essas gorduras são essenciais para a saúde, desempenhando papéis importantes no crescimento da pele e cabelo, metabolismo e saúde óssea.
No entanto, quando consumidos em excesso, os ômega-6 podem ser convertidos em moléculas que promovem inflamações prolongadas — um fator chave no desenvolvimento do câncer.
“Nosso corpo está constantemente lidando com mutações no trato gastrointestinal, e o sistema imunológico, com o auxílio de moléculas derivadas dos ácidos graxos ômega-3, normalmente elimina essas ameaças”, explica Timothy Yeatman, coautor principal do estudo e oncologista no Instituto do Câncer do Hospital Geral de Tampa, na Flórida.
“Quando há um desequilíbrio crônico – muito ômega-6 e pouco ômega-3 – as defesas do corpo falham, permitindo que as mutações aconteçam e os tumores cresçam.”
DIETAS ATUAIS NÃO AJUDAM
O desequilíbrio entre os ácidos graxos ômega-6 e ômega-3 é notável em muitas dietas atuais. Historicamente, os seres humanos consumiam esses ácidos graxos essenciais em proporções mais equilibradas. Mas o aumento dos alimentos industrializados alterou esse equilíbrio.
Nos últimos 50 anos, a quantidade de ômega-6 na dieta dos norte-americanas aumentou em 136%, em especial pelo uso generalizado de óleos vegetais baratos em alimentos fritos e embalados.
Em contrapartida, a ingestão de ômega-3 – encontrado em peixes, sementes de linhaça e nozes – diminuiu bastante, conforme os padrões alimentares foram se afastando dos alimentos frescos e ricos em nutrientes.
TAXAS DE CÂNCER EM ELEVAÇÃO
A mudança para alimentos ultraprocessados e o menor consumo das dietas tradicionais têm causado séria consequências para a saúde pública. O câncer colorretal, antes raro entre a população mais jovem, tem aumentado entre pessoas com menos de 50 anos.
Millennials têm o dobro do risco de câncer colorretal em comparação com aqueles nascidos em 1950, segundo um estudo de 2017. Fatores como o aumento da obesidade, a redução da atividade física e mudanças na microbiota intestinal devido aos alimentos processados contribuem para essa tendência.
Quando há desequilíbrio entre ômega-6 e ômega-3, as defesas do corpo falham, permitindo que mutações aconteçam.
Evidências crescentes sugerem que os alimentos ultraprocessados, cheios de óleos ricos em ômega-6 e pobres em ômega-3, são um fator importante nesse aumento de risco. “
Não estamos dizendo que o ômega-6 é inerentemente ruim”, diz Yeatman. “O problema está no desequilíbrio. As dietas dos nossos ancestrais forneciam a proporção certa desses ácidos graxos, mas os alimentos industrializados desestabilizaram esse equilíbrio delicado.”
Para reduzir o risco de câncer e promover a saúde em geral, especialistas recomendam aumentar a ingestão de ômega-3 e moderar o consumo de ômega-6. A Associação Americana do Coração sugere o consumo de duas porções de peixes gordurosos, como salmão ou cavala, por semana. Fontes vegetais de ômega-3, como sementes de linhaça e nozes, também podem ajudar a restaurar o equilíbrio.
Limitar alimentos ultraprocessados e optar por opções integrais e minimamente processadas são passos essenciais para alcançar um padrão alimentar mais saudável.