Este projeto ressignifica totalmente o conceito de “casa feita de palha”

Uma nova geração de apartamentos, fábricas, escolas e residências está utilizando a palha como alternativa sustentável de construção

Crédito: EcoCocon

Patrick Sisson 4 minutos de leitura

A imagem de um edifício feito de palha nos remete a uma casa medieval ou, talvez, às casas dos três porquinhos dos contos de fada. Empregada desde o século 19 – geralmente como material de construção rústico de áreas rurais –, a palha tem surgido como uma solução do tipo “faça você mesmo” para construções baratas e ecologicamente corretas.

Mas uma nova onda de projetos que utilizam a palha e empreendimentos em escala industrial que pretendem expandir seu uso como material de construção estão modernizando esse método tradicional de construir casas.

Na Eslováquia, a EcoCocon, empresa de painéis pré-fabricados de palha, inaugurou recentemente uma nova fábrica, construída com o próprio material que a marca produz.

A fábrica automatizada conta com um sistema modular de construção feito de palha – produto da própria EcoCocon – além de impressionantes treliças de madeira que mostram que os painéis podem ser utilizados na construção de armazéns e outras instalações de grande porte.

“Você coloca a palha, o compensado e alguns parafusos em uma extremidade e, na outra, tem o produto finalizado”, explica Peter Jensen, representante da EcoCocon nos EUA, sobre a nova fábrica da empresa. “Não há uma pessoa sequer envolvida entre essas duas etapas.”

Diante dos desafios enfrentados por arquitetos que desejam reduzir as emissões de carbono na construção de novos edifícios, a palha representa uma ótima solução.

Produzida a partir de resíduos agrícolas, as paredes de palha sequestram uma quantidade significativa de carbono – cerca de meio quilo para cada quilo utilizado, antes mesmo de considerar o transporte do material – e podem inclusive ser usadas como fertilizante depois de demolidas.

Extremamente compacta, a palha comprimida é densa, fácil de trabalhar e não apresenta riscos significativos relacionados a pragas, mofo ou incêndio. Além disso, não exige o emprego de novas tecnologias nem mudanças radicais nos projetos de construção atuais de casas.

“É impressionante como a palha é superior a praticamente qualquer outro material”, afirma o arquiteto Tom Bassett-Dilley, que faz projetos de casas com palha comprimida e trabalhou exaustivamente com modelagens de sistemas de energia para demonstrar as vantagens desse material.

Recentemente, ele analisou a diferença entre as emissões de carbono da construção convencional e da construção de palha. O carbono incorporado – isto é, a quantidade de emissões de carbono necessárias para produzir os materiais de construção utilizados no projeto – foi 80% menor no caso da casa de palha.

Além do seu incrível poder de isolamento, a palha também abafa os sons externos, criando um ambiente interno muito mais silencioso. Bassett-Dilley afirma que, mesmo nos lugares de clima frio, se houver queda de energia no meio do inverno, a temperatura do interior da construção fica em cerca de 4,5ºC.

Hyllie, Malmö (Crédito: ETC Bygg/ Kaminsky Architects)

No norte da Dinamarca, Henning Larsen fez o projeto da Escola Feldballe, em Rønde, uma estrutura elegante e minimalista feita de madeira, palha e algas da região. Está em andamento em Malmö, na Suécia, a construção do Hyllie, edifício de 12 andares feito de madeira e palha.

Mas, sim, a palha apresenta alguns desafios logísticos: as paredes um pouco mais grossas podem ser um fator limitante no caso de um terreno urbano mais apertado. Além disso, o material ainda não está inteiramente pronto para ser usado em muitos dos atuais projetos de retrofit.

Em projetos sustentáveis de modernização de prédios antigos, geralmente é utilizada uma espuma isolante, para tornar a estrutura mais eficiente em termos de energia; adicionar palha depois da construção pronta é muito mais complicado.

Questões relacionadas a medidas de segurança e de prevenção de incêndios ainda precisam ser definidas ou analisadas por autoridades locais que talvez vejam as novas estruturas de palha com certa desconfiança.

Crédito: EcoCocon

A questão do custo também pode ser um fator limitante. Embora a palha reciclada seja, sem dúvida, mais barata do que outras formas de isolamento, no que se refere ao orçamento total da construção de uma casa, o isolamento pode representar 2% do custo total. Por outro lado, o uso da palha pode levar a uma economia de tempo, especialmente quando se opta por painéis pré-fabricados, que podem reduzir os custos gerais de mão de obra e construção.

Os defensores da palha chamam atenção para o argumento de que o material é imbatível em termos de sustentabilidade. Para reforçar ainda mais o valor desse argumento, há o fato de que a palha pode ser colhida de campos de agricultura regenerativa, agregando valor ao solo e à terra.

No cenário internacional, o uso da palha está crescendo exponencialmente: a EcoCocon está vendo seus negócios dobrarem a cada ano nos últimos seis anos e espera que, futuramente, sua nova fábrica produza 300 mil metros quadrados de painéis por ano.


SOBRE O AUTOR

Patrick Sisson é colaborador da Fast Company e cobre o setor de desenvolvimento urbano e mercado imobiliário para o ranking anual Most... saiba mais