360 milhões de creators em 20 países: os números da produção de conteúdo online

A economia digital de criadores é uma fonte essencial de significado, propósito, comunidade e renda para milhões de pessoas

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Richard Florida 4 minutos de leitura

Cada vez mais ouvimos que o mundo online é tão prejudicial quanto o tabagismo. Dizem que ele corrói a confiança em instituições como governo e mídia, prejudica o debate público, espalha desinformação, diminui nossa capacidade de concentração, limita nosso pensamento e torna as crianças mais ansiosas, deprimidas e antissociais. 

Embora isso tenha um fundo de verdade, não é tudo o que ele oferece. Apesar do foco frequente da mídia nas celebridades e influenciadores digitais, o que realmente importa é que milhões de criadores de conteúdo pelo mundo todo usam as redes sociais para explorar suas paixões, compartilhar ideias e se engajar em atividades que trazem propósito às suas vidas.

Esse é o principal aprendizado de um longo estudo que realizei com uma equipe de pesquisadores, no qual entrevistamos cerca de 10 mil creators em 20 países. Este é o primeiro estudo abrangente a capturar dados confiáveis sobre as características sociais e econômicas desses criadores de conteúdo, suas motivações, formas de trabalho, situação de emprego e rendimentos.

Hoje, existem mais de 360 milhões de criadores de conteúdo nos seguintes países:

  • Índia: 137 milhões 
  • Indonésia: 47 milhões
  • Brasil: 40 milhões 
  • EUA: 39 milhões
  • México: 18 milhões
  • Nigéria: 14 milhões
  • Arábia Saudita: 8 milhões

Eles geram um impacto econômico estimado em US$ 368 bilhões – um valor comparável ao PIB de Hong Kong e superior ao de países como Finlândia, Nova Zelândia ou Grécia.

Nosso estudo trouxe à tona muitos dados novos e importantes, mas a principal conclusão é que esse universo se divide em dois grupos bem distintos. De um lado, temos o seleto grupo de celebridades digitais, que atrai a maior parte da atenção e da receita.

Do outro, está o imenso grupo de criadores que buscam compartilhar seus trabalhos e ideias, encontrar realização pessoal, superar o isolamento social e garantir uma renda extra.

As cinco principais razões citadas pelos entrevistados para produzir e compartilhar conteúdo foram: mostrar seus talentos, se divertir, entreter os outros, se conectar com as pessoas e compartilhar o que consideram interessante. A busca por dinheiro aparece em sexto lugar, seguida pelo desejo de causar um impacto positivo e educar o público.

SEGUIDORES E REMUNERAÇÃO

Embora as redes sociais, em alguns aspectos, possam nos dividir, elas também ajudam a realizar nosso potencial e a criar comunidades fortes com valores compartilhados.

“As redes sociais me tiraram de um espaço extremamente local para um nível nacional e global quase da noite para o dia. Por muito tempo, havia barreiras que impediam algumas histórias de serem contadas. As redes sociais mudaram isso”, disse a ativista e modelo Deja Foxx.

No entanto, os dados também mostram uma grande desigualdade econômica nesse universo. Apenas 2% dos criadores globais ganham mais de US$ 100 mil por ano, e um número ainda menor tem mais de um milhão de seguidores.

Graças às tecnologias e plataformas digitais, qualquer um com acesso a um computador e um modem pode gerar conteúdo.

Por outro lado, 60% contam com menos de cinco mil seguidores. Mais de três quartos ganham menos de US$ 10 mil por ano; metade recebe menos de US$ 1 mil; e quase 40% não geram nenhuma receita com o conteúdo que produzem.

A maioria dos criadores tem outros empregos: metade trabalha em tempo integral em outra função, enquanto 14% têm empregos de meio período.

Historicamente, as civilizações foram organizadas em torno do trabalho físico e da exploração de recursos naturais. Hoje, no entanto, as profissões que dependem de conhecimento, criatividade e inteligência se tornaram os principais motores do crescimento econômico.

A classe criativa cresceu de menos de 10% da força de trabalho há cerca de um século para mais de 40% hoje e representa aproximadamente 50% dos salários nos EUA e até 70% dos gastos não essenciais.

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Até o surgimento da internet, a maioria dos criativos trabalhava para grandes corporações, universidades e centros de pesquisa, ou estava à mercê dos chefões de editoras, galerias e gravadoras.

Graças às tecnologias digitais e plataformas como Instagram, YouTube, TikTok, X/ Twitter, LinkedIn e Substack, agora qualquer pessoa com acesso a um computador e um modem pode gerar conteúdo, compartilhá-lo e monetizá-lo por meio de assinaturas, publicidade, patrocínios de marcas ou doações.

Não quero parecer ingênuo: há muito a se criticar no mundo online atual. Mas não faz sentido jogar fora o bebê junto com a água do banho, como diz o ditado.

Em uma época cada vez mais assolada pela solidão, isolamento e alienação, a economia dos criadores de conteúdo proporciona a centenas de milhões de pessoas uma fonte de significado, propósito, comunidade e uma renda muito bem-vinda.


SOBRE O AUTOR

Richard Florida é professor da Escola de Administração Rotman, da Universidade de Toronto, e conselheiro do Instituto BCG Henderson. saiba mais