Quem é melhor em matemática e leitura: você ou uma criança do ensino fundamental?

Pesquisa da OCDE mostra uma piora no desempenho das pessoas entre 16 e 65 anos; há várias hipóteses sobre o resultado, como os efeitos das redes sociais

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Paula Pacheco 4 minutos de leitura

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou recentemente uma pesquisa alarmante. Feito com pessoas de 31 países e com idade entre 16 e 65 anos, o levantamento mostrou que um quinto dos entrevistados têm um desempenho em leitura e matemática inferior ao de crianças que estão no ensino fundamental.

A conclusão do organismo internacional é que as habilidades de alfabetização, cálculo e resolução de problemas entre adultos diminuíram ou estagnaram amplamente na última década na maioria dos países da OCDE, como mostra a segunda Pesquisa de Habilidades de Adultos da OCDE. "Os declínios foram ainda maiores e mais generalizados entre adultos com baixa escolaridade", mostra o relatório.

A pesquisa mensurou as habilidades de cerca de 160.000 pessoas. Do universo de 31 países, 27 participaram da primeira edição do levantamento, em 2013. A coleta de informações buscou analisar como a alfabetização, o cálculo e a resolução de problemas são usados no trabalho. Visa fornecer evidências de como o desenvolvimento e o uso de habilidades melhoram as perspectivas de emprego e a qualidade de vida, além de impulsionarem o crescimento econômico.

FINLÂNDIA E DINAMARCA

O resultado revela que, apesar dos esforços governamentais e de parceiros sociais para fortalecer os sistemas de educação e treinamento de adultos na última década, apenas a Finlândia e a Dinamarca mostram ter alcançado melhorias significativas nas habilidades de alfabetização de adultos.

Em aprendizado em cálculo e resolução de problemas, oito países conseguiram melhorar suas pontuações médias, com Finlândia e Cingapura com os maiores ganhos. Mas, na maioria dos países, a proficiência em alfabetização dos 10% de pior desempenho da população diminuiu, com declínios semelhantes em aritmética.

Ao mesmo tempo, o desempenho dos 10% melhores melhorou, levando a maiores desigualdades de habilidades dentro dos países. Em 2023, Cingapura e os Estados Unidos apresentaram as maiores desigualdades de habilidades em alfabetização e aritmética.

Qual é o reflexo dessa piora na performance? Secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, avaliou o estudo: "Adultos com maiores habilidades em aritmética têm mais probabilidade de serem empregados, ganhar um salário mais alto e relatar melhor saúde e satisfação com a vida do que aqueles com menores habilidades em aritmética".

Ainda segundo Cormann, a pesquisa estaca a urgência de uma reavaliação abrangente de como os países apoiam o desenvolvimento de habilidades básicas.

"À medida que a tecnologia remodela muitos empregos, essas habilidades são mais importantes do que nunca para enfrentar o futuro do trabalho. Ao investir em habilidades, os governos apoiarão uma força de trabalho mais resiliente e inclusiva que ajude a sustentar a prosperidade para todos."

Os países com melhor desempenho em todos os três domínios são Finlândia, Japão, Holanda, Noruega e Suécia. Por outro lado, 11 países - Chile, Croácia, França, Hungria, Israel, Itália, Coreia do sul, Lituânia, Polônia, Portugal e Espanha - têm desempenho consistentemente abaixo da média da OCDE em todos os domínios de habilidades.

ALFABETIZAÇÃO EM QUEDA

Entre os reflexos da queda nos níveis médios de habilidades tão importantes está o aumento das desigualdades dentro dos países. A OCDE analisa que em muitas nações, os adultos com desempenho mais baixo viram o maior declínio nas habilidades de alfabetização.

Em média, nos países pesquisados, um em cada cinco adultos só consegue entender textos simples ou resolver aritmética básica. Além disso, na maioria das nações, as habilidades dos adultos estão diretamente ligadas à origem social.

Outro dado que chama a atenção é que, como a proficiência em alfabetização diminuiu mais entre os homens, as diferenças em relação às mulheres recuaram. No entanto, os homens ainda superam as mulheres em cálculos e solução de problemas.

A pesquisa aponta ainda que quem migrou para um outro país sofre mais com os impactos. Segundo a OCDE, os adultos nascidos no exterior têm menos habilidades do que os adultos nativos em quase todos os países. Em alguns casos, o aumento do número de adultos nascidos no exterior na última década explica parte da queda nas pontuações médias de proficiência em alfabetização.

O QUE INFLUENCIA

Além do desempenho dos imigrantes ter um peso para puxar as médias para baixo, há outros fatores que podem explicar no desempenho apontado pela OCDE mesmo em grandes economias, como Coreia do Sul e, Itália e França. Por exemplo, a influência tecnológica na vida das pessoas - por conta do consumo de conteúdos como streamings, videogames e redes sociais.

Ao mesmo tempo, o mundo vê uma mudança de tendências. Hoje, as conversas giram em torno de temas como inteligência artificial, enquanto o aprendizado da tabuada parece ter caído em desuso, comparou recentemente a revista britânica The Economist.

Uma forma de tentar reverter essa tendência de menor capacitação em matemática e alfabetização é investir mais no ensino infantil. que vai gerar adultos mais qualificados, com mais oportunidades no mercado de trabalho, mais saúde e qualidade de vida e capacidade de refletir sobre o meio onde vivem.

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SOBRE A AUTORA

Paula Pacheco é jornalista old school, mas com um pé nos novos temas que afetam, além do bolso, a sociedade, como a saúde do planeta. saiba mais