Dicas para não deixar o dólar alto atrapalhar seu intercâmbio

Planejamento é o ponto de partida para quem sonha com um período de estudos fora do Brasil

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Murilo Melo 9 minutos de leitura

Planejar um intercâmbio de idiomas pode ser uma das maiores experiências da vida, mas para que tudo aconteça da forma como foi planejado é preciso ter estratégias financeiras bem pensadas, especialmente em um momento de alta do dólar.

A moeda americana, que frequentemente é a base para custos internacionais, segue sem perspectiva de queda, tornando o planejamento ainda mais necessário. O aumento do dólar afeta o custo do curso e da moradia, do transporte, lazer e outros gastos diários, criando entraves adicionais para quem deseja estudar fora do Brasil.

A recém-formada em jornalismo, Fernanda Lopes, de 21 anos, que fez um intercâmbio na Irlanda em setembro de 2024, conta que precisou ajustar todo seu planejamento financeiro com o aumento do dólar, priorizando economias e buscando alternativas mais acessíveis.

“Eu optei por uma moradia compartilhada e reduzi o orçamento destinado a lazer, mas consegui manter a qualidade do curso que desejava fazer,” diz Fernanda, que estudou inglês em uma instituição renomada por três meses.

Além disso, organizar as finanças ajuda a evitar surpresas desagradáveis. Um planejamento cuidadoso pode até transformar o cenário em uma oportunidade. Consultorias de planejamento financeiro destacam que além de juntar dinheiro, é possível buscar investimentos que ajudem a proteger o valor economizado, minimizando os impactos da flutuação cambial.

CRONOGRAMA E ORÇAMENTO

O planejador financeiro da Planejar, Raphael Palone, também acredita que transformar o planejamento financeiro de uma viagem em realidade requer atenção a dois aspectos fundamentais: cronograma e orçamento. O cronograma estabelece a data da viagem, enquanto o orçamento define o custo total. Ao alinhar esses dois elementos, a família pode calcular o tempo necessário para atingir o valor desejado.

Palone diz que esse período pode variar de acordo com a renda familiar — quanto maior a receita, mais rápido a família consegue acumular o recurso. Em geral, o processo costuma levar de um a dois anos. É importante começar a guardar em dólar desde o início, evitando apenas converter o valor no dia da viagem, pois essa prática ajuda a proteger contra variações cambiais e aumenta a segurança financeira do planejamento.

“Desde o momento que a família decide pelo intercâmbio, é uma ótima ideia começar a guardar já na moeda de destino do país. O câmbio tem grandes flutuações no curto prazo e caso a moeda do destino se valorize, pode comprometer de 20% a 30% o orçamento da viagem. As contas em dólar estão disponíveis em várias plataformas de bancos brasileiros”, diz o planejador financeiro.

Planejar com o dólar em alta requer foco e criatividade, defende a consultora de planejamento financeiro Maria Clara Santos. O primeiro passo é entender o orçamento e criar um fundo específico para o intercâmbio. “Em momentos de alta da moeda, investir em ativos que acompanhem o dólar, como fundos cambiais, pode ajudar a proteger o valor acumulado”, explica.

Outra dica é diversificar a economia em diferentes moedas, principalmente se o destino não for os Estados Unidos. Se o país utiliza euros, por exemplo, a orientação é começar a adquirir a moeda aos poucos para diluir o impacto de possíveis altas repentinas.

O administrador João Marcelo, de 24 anos, que estudou espanhol no Chile em novembro de 2024, diz que investiu parte do dinheiro em fundos atrelados ao dólar e parte em renda fixa. Isso garantiu que o valor guardado não perdesse poder de compra. Ele também optou por um destino mais acessível, o que ajudou a equilibrar as contas. “Se eu fosse estudar na Espanha, por exemplo, as contas não iam fechar e eu atrasaria minha viagem e, consequentemente, meu planejamento profissional”, conta.

Evitar gastos desnecessários enquanto junta o dinheiro também deve ser um ponto de atenção. Revisar despesas, cortar supérfluos e redirecionar esses valores para a poupança do intercâmbio pode ser o diferencial entre um planejamento apertado e um orçamento tranquilo.

TEMPO

A recomendação geral dos especialistas é de que o planejamento comece com pelo menos dois anos de antecedência. Esse período permite acumular os recursos necessários sem grandes sacrifícios e aproveitar oportunidades de investimento que podem aumentar o montante total.

O tempo ideal depende do destino e do tipo de curso escolhido. Se for um país com custo de vida mais alto, como Austrália ou Canadá, o prazo deve ser maior. Para destinos mais baratos, como os países da América Latina, um ano pode ser suficiente, segundo os especialistas.

Durante o período de planejamento, o recomendado é calcular todas as despesas e estabelecer uma meta mensal de economia. A especialista em finanças pessoais Julia Vieira sugere utilizar ferramentas como planilhas ou aplicativos de controle financeiro. “Dessa forma, você consegue visualizar claramente o progresso e ajustar o planejamento caso surjam imprevistos,” afirma.

Tanto para Fernanda quanto para João Marcelo, o planejamento antecipado foi determinante para tirar o sonho do papel. “Eu comecei a economizar três anos antes. Esse tempo me deu tranquilidade para lidar com imprevistos, sem me deixar insegura, sem comprometer a viagem”, relata Fernanda.

DESPESAS

Ao montar o orçamento, é primordial colocar na ponta do lápis todas as despesas previstas para evitar surpresas. As principais categorias incluem:

  1. Alimentação: dependendo do país, optar por cozinhar em casa pode ser mais barato do que comer fora. Alguns cursos oferecem refeições inclusas.
  2. Moradia: escolher entre moradia compartilhada ou individual é uma das decisões mais importantes. Moradias compartilhadas são mais baratas, mas menos privadas.
  3. Transporte: inclua passagens aéreas, deslocamentos diários e possíveis viagens extras durante o curso.
  4. Lazer: mesmo economizando, é importante reservar um valor para aproveitar experiências culturais. Afinal, a viagem será um marco na sua vida!
  5. Material: livros, apostilas e outros itens necessários para o curso podem variar bastante de acordo com a área de estudo.

A agência CI Intercâmbios lembra que taxas do programa de intercâmbio, como inscrição e matrícula, são frequentemente pagas diretamente à agência escolhida pelo interessado ou instituição responsável pelo programa. Essas taxas variam conforme o destino e o tipo de intercâmbio escolhido, sendo imprescindível incluí-las no planejamento desde o início.

Além disso, a agência pontua que o seguro de saúde e assistência médica é obrigatório para a maioria dos programas, e seus custos podem variar dependendo do destino e da cobertura desejada. O seguro também cobre outros imprevistos, como acidentes e incidentes com bagagem.

Quanto à moradia, a CI explica que os custos dependem do tipo escolhido e do destino. Opções incluem residência estudantil, que pode ser mais acessível, especialmente em locais universitários, ou acomodação compartilhada, como dividir apartamento com outros estudantes para reduzir despesas. Para quem busca mais privacidade, a acomodação individual tende a ser mais cara.

Outra alternativa é a casa de família, que pode ajudar a economizar na alimentação, pois geralmente oferece café da manhã e jantar, além de, em algumas casos, incluir um lanche para levar no almoço. “Para incluir esses gastos no planejamento, pesquise preços com antecedência e escolha a opção que melhor se encaixa no seu orçamento. Certifique-se de considerar também o custo de despesas adicionais, como internet, contas de energia e água, que podem não estar incluídas no valor da acomodação”, orienta a agência.

INVESTIMENTO PARA INTERCÂMBIO

Investir em ativos dolarizados ou indexados é uma das melhores formas de proteger o valor economizado. A afirmação é da consultora de planejamento financeiro Maria Clara Santos, que sugere alocar pelo menos 50% em fundos cambiais ou ETFs (fundos negociados em bolsa) atrelados ao dólar. “Isso reduz o risco de perdas caso a moeda continue subindo,” explica. Vale lembrar que investimentos como esse, em renda variável, apresentam riscos e pode haver perda.

Para quem não deseja arriscar muito, a renda fixa também é uma boa opção. Ela sugere Tesouro Direto atrelado ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que protege o dinheiro da inflação, ou CDB (Certificado de depósito bancário) de bancos confiáveis. O importante, diz a consultora, é diversificar e evitar concentrar tudo em um único ativo.

Mas Raphael Palone, embora concorde que é uma boa ideia deixar o dinheiro do intercâmbio investido, afirma que o estudante também deve se preocupar com as variações nos preços dos ativos (volatilidade) e com a liquidez. “Tomar cuidado com investimentos com trava, nos quais não se pode resgatar antes do prazo determinado. Rentabilidade é menos importante do que investimentos que oscilem pouco e que estejam disponíveis para resgate no dia da viagem”, alerta.

DESTINOS EM CONTA

A CI Intercâmbio, a pedido do Fast Company Brasil, listou cinco destinos mais acessíveis para quem deseja fazer um curso de idioma no exterior, incluindo informações sobre o tipo de curso, custos totais e o que está incluído. Na simulação, a empresa levou em consideração o câmbio referência em uma faixa mais alta - para dólar americano a R$ 6,39, euro a R$ 6,73 e libra esterlina a R$ 8,13.

1 - Malta

  • Tipo de curso: geral de idioma
  • Carga horária: 20 aulas semanais
  • Instituição de ensino: EC
  • Cursos e taxas (matrícula e material): R$ 3.027,15
  • Acomodação: residência estudantil, quarto compartilhado - R$ 2.893,90
  • Refeições: não inclui
  • Não inclui: passagem aérea, refeições, seguro saúde e custos pessoais.

2 - África do Sul

  • Tipo de curso: geral de idioma
  • Carga horária: 20 aulas semanais
  • Instituição de ensino: Good Hope City Center
  • Cursos e taxas (matrícula e material): R$ 3.741,88
  • Acomodação: casa de família, quarto individual - R$ 2.893,90
  • Refeições: não inclui
  • Não inclui: passagem aérea, refeições, seguro saúde e custos pessoais.

3 - Canadá - Toronto

  • Tipo de curso: geral de idioma
  • Carga horária: 20 aulas semanais
  • Instituição de ensino: ILSC Toronto
  • Cursos e taxas (matrícula e material): R$ 2.976,60
  • Acomodação: casa de família, quarto individual - R$ 3.562,90
  • Refeições: não inclui
  • Não inclui: passagem aérea, transfer de chegada, refeições, seguro saúde e custos pessoais.

4 - Reino Unido - Eastbourne

  • Tipo de curso: geral de idioma
  • Carga horária: 20 aulas semanais
  • Instituição de ensino: ST Giles - Eastbourne
  • Cursos e taxas (matrícula e material): R$ 3.403,22
  • Acomodação: casa de família, quarto individual - R$ 2.715,42
  • Refeições: café da manhã
  • Não inclui: passagem aérea, transfer de chegada, refeições, seguro saúde e custos pessoais.

5 - Argentina - Buenos Aires

  • Tipo de curso: geral de idioma
  • Carga horária: 20 aulas semanais
  • Instituição de ensino: Expanish - Buenos Aires
  • Cursos e taxas (matrícula e material): R$ 3.122,72
  • Acomodação: apartamento compartilhado, quarto individual - R$ 2.988,12
  • Refeições: não inclui
  • Não inclui: passagem aérea, transfer de chegada, refeições, seguro saúde e custos pessoais.

SOBRE O(A) AUTOR(A)

Murilo Melo é formado em jornalismo e letras. Foi repórter da Folha de S.Paulo, Estadão e InfoMoney. É louco por dinheiro. Escreve sob... saiba mais