Dicas para não deixar o dólar alto atrapalhar seu intercâmbio
Planejamento é o ponto de partida para quem sonha com um período de estudos fora do Brasil
Planejar um intercâmbio de idiomas pode ser uma das maiores experiências da vida, mas para que tudo aconteça da forma como foi planejado é preciso ter estratégias financeiras bem pensadas, especialmente em um momento de alta do dólar.
A moeda americana, que frequentemente é a base para custos internacionais, segue sem perspectiva de queda, tornando o planejamento ainda mais necessário. O aumento do dólar afeta o custo do curso e da moradia, do transporte, lazer e outros gastos diários, criando entraves adicionais para quem deseja estudar fora do Brasil.
A recém-formada em jornalismo, Fernanda Lopes, de 21 anos, que fez um intercâmbio na Irlanda em setembro de 2024, conta que precisou ajustar todo seu planejamento financeiro com o aumento do dólar, priorizando economias e buscando alternativas mais acessíveis.
“Eu optei por uma moradia compartilhada e reduzi o orçamento destinado a lazer, mas consegui manter a qualidade do curso que desejava fazer,” diz Fernanda, que estudou inglês em uma instituição renomada por três meses.
Além disso, organizar as finanças ajuda a evitar surpresas desagradáveis. Um planejamento cuidadoso pode até transformar o cenário em uma oportunidade. Consultorias de planejamento financeiro destacam que além de juntar dinheiro, é possível buscar investimentos que ajudem a proteger o valor economizado, minimizando os impactos da flutuação cambial.
CRONOGRAMA E ORÇAMENTO
O planejador financeiro da Planejar, Raphael Palone, também acredita que transformar o planejamento financeiro de uma viagem em realidade requer atenção a dois aspectos fundamentais: cronograma e orçamento. O cronograma estabelece a data da viagem, enquanto o orçamento define o custo total. Ao alinhar esses dois elementos, a família pode calcular o tempo necessário para atingir o valor desejado.
Palone diz que esse período pode variar de acordo com a renda familiar — quanto maior a receita, mais rápido a família consegue acumular o recurso. Em geral, o processo costuma levar de um a dois anos. É importante começar a guardar em dólar desde o início, evitando apenas converter o valor no dia da viagem, pois essa prática ajuda a proteger contra variações cambiais e aumenta a segurança financeira do planejamento.
“Desde o momento que a família decide pelo intercâmbio, é uma ótima ideia começar a guardar já na moeda de destino do país. O câmbio tem grandes flutuações no curto prazo e caso a moeda do destino se valorize, pode comprometer de 20% a 30% o orçamento da viagem. As contas em dólar estão disponíveis em várias plataformas de bancos brasileiros”, diz o planejador financeiro.
Planejar com o dólar em alta requer foco e criatividade, defende a consultora de planejamento financeiro Maria Clara Santos. O primeiro passo é entender o orçamento e criar um fundo específico para o intercâmbio. “Em momentos de alta da moeda, investir em ativos que acompanhem o dólar, como fundos cambiais, pode ajudar a proteger o valor acumulado”, explica.
Outra dica é diversificar a economia em diferentes moedas, principalmente se o destino não for os Estados Unidos. Se o país utiliza euros, por exemplo, a orientação é começar a adquirir a moeda aos poucos para diluir o impacto de possíveis altas repentinas.
O administrador João Marcelo, de 24 anos, que estudou espanhol no Chile em novembro de 2024, diz que investiu parte do dinheiro em fundos atrelados ao dólar e parte em renda fixa. Isso garantiu que o valor guardado não perdesse poder de compra. Ele também optou por um destino mais acessível, o que ajudou a equilibrar as contas. “Se eu fosse estudar na Espanha, por exemplo, as contas não iam fechar e eu atrasaria minha viagem e, consequentemente, meu planejamento profissional”, conta.
Evitar gastos desnecessários enquanto junta o dinheiro também deve ser um ponto de atenção. Revisar despesas, cortar supérfluos e redirecionar esses valores para a poupança do intercâmbio pode ser o diferencial entre um planejamento apertado e um orçamento tranquilo.
TEMPO
A recomendação geral dos especialistas é de que o planejamento comece com pelo menos dois anos de antecedência. Esse período permite acumular os recursos necessários sem grandes sacrifícios e aproveitar oportunidades de investimento que podem aumentar o montante total.
O tempo ideal depende do destino e do tipo de curso escolhido. Se for um país com custo de vida mais alto, como Austrália ou Canadá, o prazo deve ser maior. Para destinos mais baratos, como os países da América Latina, um ano pode ser suficiente, segundo os especialistas.
Durante o período de planejamento, o recomendado é calcular todas as despesas e estabelecer uma meta mensal de economia. A especialista em finanças pessoais Julia Vieira sugere utilizar ferramentas como planilhas ou aplicativos de controle financeiro. “Dessa forma, você consegue visualizar claramente o progresso e ajustar o planejamento caso surjam imprevistos,” afirma.
Tanto para Fernanda quanto para João Marcelo, o planejamento antecipado foi determinante para tirar o sonho do papel. “Eu comecei a economizar três anos antes. Esse tempo me deu tranquilidade para lidar com imprevistos, sem me deixar insegura, sem comprometer a viagem”, relata Fernanda.
DESPESAS
Ao montar o orçamento, é primordial colocar na ponta do lápis todas as despesas previstas para evitar surpresas. As principais categorias incluem:
- Alimentação: dependendo do país, optar por cozinhar em casa pode ser mais barato do que comer fora. Alguns cursos oferecem refeições inclusas.
- Moradia: escolher entre moradia compartilhada ou individual é uma das decisões mais importantes. Moradias compartilhadas são mais baratas, mas menos privadas.
- Transporte: inclua passagens aéreas, deslocamentos diários e possíveis viagens extras durante o curso.
- Lazer: mesmo economizando, é importante reservar um valor para aproveitar experiências culturais. Afinal, a viagem será um marco na sua vida!
- Material: livros, apostilas e outros itens necessários para o curso podem variar bastante de acordo com a área de estudo.
A agência CI Intercâmbios lembra que taxas do programa de intercâmbio, como inscrição e matrícula, são frequentemente pagas diretamente à agência escolhida pelo interessado ou instituição responsável pelo programa. Essas taxas variam conforme o destino e o tipo de intercâmbio escolhido, sendo imprescindível incluí-las no planejamento desde o início.
Além disso, a agência pontua que o seguro de saúde e assistência médica é obrigatório para a maioria dos programas, e seus custos podem variar dependendo do destino e da cobertura desejada. O seguro também cobre outros imprevistos, como acidentes e incidentes com bagagem.
Quanto à moradia, a CI explica que os custos dependem do tipo escolhido e do destino. Opções incluem residência estudantil, que pode ser mais acessível, especialmente em locais universitários, ou acomodação compartilhada, como dividir apartamento com outros estudantes para reduzir despesas. Para quem busca mais privacidade, a acomodação individual tende a ser mais cara.
Outra alternativa é a casa de família, que pode ajudar a economizar na alimentação, pois geralmente oferece café da manhã e jantar, além de, em algumas casos, incluir um lanche para levar no almoço. “Para incluir esses gastos no planejamento, pesquise preços com antecedência e escolha a opção que melhor se encaixa no seu orçamento. Certifique-se de considerar também o custo de despesas adicionais, como internet, contas de energia e água, que podem não estar incluídas no valor da acomodação”, orienta a agência.
INVESTIMENTO PARA INTERCÂMBIO
Investir em ativos dolarizados ou indexados é uma das melhores formas de proteger o valor economizado. A afirmação é da consultora de planejamento financeiro Maria Clara Santos, que sugere alocar pelo menos 50% em fundos cambiais ou ETFs (fundos negociados em bolsa) atrelados ao dólar. “Isso reduz o risco de perdas caso a moeda continue subindo,” explica. Vale lembrar que investimentos como esse, em renda variável, apresentam riscos e pode haver perda.
Para quem não deseja arriscar muito, a renda fixa também é uma boa opção. Ela sugere Tesouro Direto atrelado ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que protege o dinheiro da inflação, ou CDB (Certificado de depósito bancário) de bancos confiáveis. O importante, diz a consultora, é diversificar e evitar concentrar tudo em um único ativo.
Mas Raphael Palone, embora concorde que é uma boa ideia deixar o dinheiro do intercâmbio investido, afirma que o estudante também deve se preocupar com as variações nos preços dos ativos (volatilidade) e com a liquidez. “Tomar cuidado com investimentos com trava, nos quais não se pode resgatar antes do prazo determinado. Rentabilidade é menos importante do que investimentos que oscilem pouco e que estejam disponíveis para resgate no dia da viagem”, alerta.
DESTINOS EM CONTA
A CI Intercâmbio, a pedido do Fast Company Brasil, listou cinco destinos mais acessíveis para quem deseja fazer um curso de idioma no exterior, incluindo informações sobre o tipo de curso, custos totais e o que está incluído. Na simulação, a empresa levou em consideração o câmbio referência em uma faixa mais alta - para dólar americano a R$ 6,39, euro a R$ 6,73 e libra esterlina a R$ 8,13.
1 - Malta
- Tipo de curso: geral de idioma
- Carga horária: 20 aulas semanais
- Instituição de ensino: EC
- Cursos e taxas (matrícula e material): R$ 3.027,15
- Acomodação: residência estudantil, quarto compartilhado - R$ 2.893,90
- Refeições: não inclui
- Não inclui: passagem aérea, refeições, seguro saúde e custos pessoais.
2 - África do Sul
- Tipo de curso: geral de idioma
- Carga horária: 20 aulas semanais
- Instituição de ensino: Good Hope City Center
- Cursos e taxas (matrícula e material): R$ 3.741,88
- Acomodação: casa de família, quarto individual - R$ 2.893,90
- Refeições: não inclui
- Não inclui: passagem aérea, refeições, seguro saúde e custos pessoais.
3 - Canadá - Toronto
- Tipo de curso: geral de idioma
- Carga horária: 20 aulas semanais
- Instituição de ensino: ILSC Toronto
- Cursos e taxas (matrícula e material): R$ 2.976,60
- Acomodação: casa de família, quarto individual - R$ 3.562,90
- Refeições: não inclui
- Não inclui: passagem aérea, transfer de chegada, refeições, seguro saúde e custos pessoais.
4 - Reino Unido - Eastbourne
- Tipo de curso: geral de idioma
- Carga horária: 20 aulas semanais
- Instituição de ensino: ST Giles - Eastbourne
- Cursos e taxas (matrícula e material): R$ 3.403,22
- Acomodação: casa de família, quarto individual - R$ 2.715,42
- Refeições: café da manhã
- Não inclui: passagem aérea, transfer de chegada, refeições, seguro saúde e custos pessoais.
5 - Argentina - Buenos Aires
- Tipo de curso: geral de idioma
- Carga horária: 20 aulas semanais
- Instituição de ensino: Expanish - Buenos Aires
- Cursos e taxas (matrícula e material): R$ 3.122,72
- Acomodação: apartamento compartilhado, quarto individual - R$ 2.988,12
- Refeições: não inclui
- Não inclui: passagem aérea, transfer de chegada, refeições, seguro saúde e custos pessoais.