Com as novas regras, para quê a Meta precisa de um comitê de supervisão?

Especialistas questionam a eficácia do órgão diante das recentes mudanças na política de moderação de conteúdo

Crédito: Marina Demeshko/ mariusFM77/ Getty Images

Chris Stokel-Walker 3 minutos de leitura

Quando a Meta criou seu comitê de supervisão, em 2020, a proposta era que um grupo seleto de especialistas da mídia, sociedade civil e academia funcionasse como um contrapeso às decisões da empresa sobre a remoção de conteúdo em suas plataformas.

Agora, com a Meta reformulando drasticamente sua abordagem de moderação e verificação de fatos, surgem dúvidas sobre a eficácia desse comitê, que teria custado cerca de US$ 280 milhões em quase cinco anos. Foi um experimento bem-sucedido ou apenas uma jogada de marketing bem elaborada?

“Sejamos sinceros: não consigo citar um único caso significativo em que o comitê tenha realmente influenciado o comportamento da Meta”, afirma Tim Fullerton, presidente da Fullerton Strategies e ex-diretor de estratégia digital do governo Barack Obama.

Essa percepção fica ainda mais evidente após a decisão da empresa de encerrar suas parcerias com verificadores de fatos nos Estados Unidos. Segundo Antonia Eliason, professora de direito da Universidade do Mississippi, essa mudança torna o papel do comitê ainda mais obscuro.

“Grande parte dos casos revisados envolvia decisões tomadas por verificadores de fatos”, explica Eliason. “Sem essa moderação de conteúdo, o que resta para o comitê revisar?”

A reação do comitê às recentes mudanças na Meta também levantou questionamentos. As novas diretrizes permitem, por exemplo, que usuários chamem pessoas LGBTQIA+ de “doentes mentais” e que se refiram a mulheres como “objetos domésticos” ou “propriedades”, ao mesmo tempo que eliminam a verificação de fatos em postagens nos EUA.

Inicialmente, o comitê emitiu uma declaração dizendo “receber positivamente a notícia de que a Meta revisará sua abordagem para a verificação de fatos”. A posição foi criticada como “subserviente” pelo jornalista de tecnologia Casey Newton.

O comitê ele não tem poder efetivo e serve mais como uma ferramenta para melhorar a imagem pública da empresa.

Após a repercussão negativa, o texto foi revisado e passou a informar que o grupo estaria “analisando as implicações das mudanças, com base em seu compromisso com a liberdade de expressão e os direitos humanos”.

Helle Thorning-Schmidt, copresidente do comitê e ex-primeira-ministra da Dinamarca, tentou conter os danos em entrevista à “BBC”, dizendo estar “muito preocupada” com as mudanças e que tinha “sérias reservas” quanto aos planos.

Para críticos de longa data, como Ben Wyskida, porta-voz do Real Facebook Oversight Board (um grupo independente criado para monitorar a Meta), os problemas do comitê são antigos, mas agora ganham mais visibilidade.

“O comitê de supervisão da Meta deveria renunciar em massa”, diz Wyskida. “Seja por uma questão de princípios ou pela constatação de que foram ignorados e marginalizados – o experimento falhou.”

O comitê frequentemente exalta suas conquistas, afirmando em seu Relatório Anual de 2023 que a Meta implementou, total ou parcialmente, 75 recomendações feitas desde sua criação.

Wyskida argumenta que a maioria dessas sugestões foi apenas parcialmente aplicada. “O comitê tem sido excluído das decisões mais importantes da Meta, desde sua atuação na Ucrânia até a recente decisão de acabar com a verificação de fatos”, critica.

Procurado, o comitê de supervisão não respondeu aos pedidos de entrevista da Fast Company. A Meta também preferiu não se pronunciar oficialmente sobre as críticas recebidas.

“A Meta nunca foi obrigada a cumprir as decisões do comitê”, observa Eliason. “Nesse sentido, ele não tem poder efetivo e serve mais como uma ferramenta para melhorar a imagem pública da empresa.”


SOBRE O AUTOR

Chris Stokel-Walker é um jornalista britânico com trabalhos publicados regularmente em veículos, como Wired, The Economist e Insider saiba mais