Fontes renováveis serão suficientes para resolver a crise global de energia?

Embora sejam uma solução promissora, diversos desafios ainda dificultam sua adoção em larga escala

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Kolawole Samuel Adebayo 5 minutos de leitura

O aumento nos custos de energia, a instabilidade das redes elétricas e as mudanças climáticas continuam agravando a crise global de energia, impactando tanto empresas quanto famílias pelo mundo todo.

Embora o acesso à energia elétrica tenha melhorado, o custo da energia solar tenha caído mais de 80% desde 2010 e as fontes renováveis tenham superado os projetos de combustíveis fósseis, as projeções apontam para um cenário difícil. Este cenário continuará afetando famílias de baixa renda, indústrias enfrentando interrupções operacionais e economias prejudicadas pela instabilidade de recursos.

Um dos fatores-chave por trás disso é a dependência mundial de redes elétricas centralizadas. Embora essas redes sejam essenciais para a distribuição de energia em grandes cidades, muitas estão ultrapassadas, sobrecarregadas e são incapazes de atender às demandas das economias modernas.

Felizmente, soluções começam a surgir como alternativas. “O surgimento de sistemas de energia descentralizados, como microrredes, é uma resposta direta às limitações das redes tradicionais”, explica Gil Kroyzer, CEO da Solargik. “Essas soluções aproximam a geração de energia do consumidor final, aumentando a confiabilidade e reduzindo o estresse sobre a infraestrutura.”

Outro grande fator que contribui para a crise global de energia é o boom da inteligência artificial, que aumenta a demanda energética nos data centers e sobrecarrega ainda mais as redes antigas. Um estudo projeta que, até 2027, a indústria de IA vai consumir tanta energia quanto a Holanda, um país com quase 20 milhões de habitantes.

Além disso, a chamada “intermitência” das fontes renováveis – como solar e eólica – ainda representa um grande desafio. Apesar de oferecerem energia limpa e relativamente barata, essas fontes dependem das condições climáticas.

Sem sistemas eficazes de armazenamento, o excesso de energia produzida não pode ser utilizado posteriormente, resultando em desperdício e lacunas no fornecimento durante horários de pico.

A Global Energy Alliance for People and Planet (GEAPP) destaca que os sistemas de armazenamento de energia em baterias acessíveis e escaláveis — que ajudam a armazenar energia em grande escala — são fundamentais para resolver esse problema.

A CORRIDA POR ENERGIA LIMPA

Em meio à crise energética e à difícil corrida para zerar as emissões líquidas até 2050, algumas soluções de energia renovável já estão beneficiando pessoas e empresas. Empresas como Solargik, Hitachi Energy e CheckSammy mostram que é possível criar sistemas escaláveis e eficientes, capazes de fornecer energia limpa e enfrentar os desafios relacionados ao custo e à infraestrutura.

A Solargik, por exemplo, desenvolveu um sistema de rastreamento movido por inteligência artificial que torna os projetos de energia solar mais acessíveis.

Crédito: Zbynek Burival

“Com a integração de análises meteorológicas em tempo real e simulações de sombreamento em 3D, maximizamos a produção de energia mesmo em terrenos irregulares ou condições desafiadoras”, ressalta Kroyzer. Essas inovações tornam a energia renovável viável até mesmo em regiões com poucos recursos.

A Hitachi Energy também está liderando iniciativas para melhorar a estabilidade das redes elétricas, utilizando tecnologias como sistemas de armazenamento de energia em baterias e backups movidos a hidrogênio. Um exemplo é o maior projeto global de recuperação de calor em data centers, que recicla o calor excedente para substituir combustíveis fósseis por energia limpa.

“Para atender à crescente demanda energética, precisamos de redes com maior capacidade e resiliência, especialmente se o objetivo for fazer da energia renovável nossa principal fonte de eletricidade”, afirma Andreas Schierenbeck, CEO da Hitachi Energy.

DESAFIOS DA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Embora as energias renováveis ofereçam soluções promissoras para a crise energética, sua adoção enfrenta inúmeros obstáculos. Um dos principais é o alto custo inicial de implementação. Em mercados emergentes, onde a infraestrutura é, muitas vezes, limitada, os custos para instalar painéis solares, modernizar redes e construir sistemas de armazenamento são proibitivos.

A adoção de sistemas de energia descentralizados é uma resposta direta às limitações das redes tradicionais.

Além disso, as redes tradicionais, muitas delas construídas há décadas, não estão preparadas para integrar fontes intermitentes como solar e eólica. Atualizá-las para descentralizar a produção e garantir resiliência exige grandes investimentos de tempo e capital.

Outro obstáculo é a falta de regulamentações consistentes. A transição para fontes renováveis requer políticas claras, incentivos robustos e colaboração entre os setores público e privado. Sem isso, o progresso é lento, especialmente em países que ainda dependem fortemente de combustíveis fósseis.

VISÃO DE FUTURO

A busca por energia renovável, como observa Schierenbeck, não é apenas uma opção da moda, mas uma necessidade crítica para enfrentar a crise energética e o aquecimento global. Mas, sem um desenvolvimento significativo das redes atuais, será impossível aumentar a produção de energia renovável.

À medida que as fontes de energia renovável vão ficando mais populares, surge a necessidade de melhorias na infraestrutura das redes e de sistemas de armazenamento de energia mais avançados.

Crédito: Aikido Technologies

Talvez, se mais recursos forem investidos na construção de sistemas que realmente suportem a energia proveniente de fontes renováveis, os preços possam cair significativamente e a meta de emissões líquidas zero – que alguns agora dizem ser impossível alcançar até 2050 – possa ser atingida.

Concessionárias de serviços públicos e produtores independentes de energia já reconhecem o armazenamento de energia em baterias como um ativo energético altamente versátil para aprimorar as redes, melhorar sua resiliência, otimizar o gerenciamento de carga em horários de pico para lidar com o aumento da demanda de energia e integrar fontes renováveis onde for necessário.

Para Kroyzer, o futuro da energia renovável não se trata apenas de reduzir emissões; é sobre construir sistemas resilientes, previsíveis e financeiramente viáveis. “Com o impulso e as colaborações que estamos testemunhando hoje, não estamos apenas resolvendo a crise energética: estamos abrindo uma enorme oportunidade econômica impulsionada por soluções limpas, inteligentes e preparadas para o futuro.”


SOBRE O AUTOR

Kolawole Samuel Adebayo é jornalista, estrategista de vendas e entusiasta de cibersegurança. saiba mais