Limitação de vendas de chips de IA para fora dos EUA vai prejudicar até a Nvidia

Novas regras impostas pelo governo dos EUA limitam a exportação de chips para a maioria dos países, exceto para um grupo de aliados próximos

Crédito: Antonio Bordunovi/ Getty Images

Chris Sanders e Karen Freifeld 4 minutos de leitura

A Nvidia enfrenta uma grande ameaça à sua receita com as recentes restrições impostas pelos EUA à exportação de chips de inteligência artificial. As novas regras foram criadas para restringir a distribuição global desses processadores tão disputados.

Consideradas algumas das mais rigorosas já estabelecidas pelo governo do presidente Joe Biden, as regulamentações limitam a exportação para a maioria dos países, exceto para um pequeno grupo de aliados estratégicos dos Estados Unidos.

Além disso, essas regras mantêm o bloqueio de exportações para determinados países, como a China, enquanto os EUA tentam fechar brechas regulatórias e evitar que Pequim adquira chips avançados que possam aumentar seu poderio militar.

A crescente demanda por chips de IA transformou a Nvidia em uma das empresas mais valiosas do mundo, com um valor de mercado superior a US$ 3 trilhões. No entanto, as novas restrições podem dificultar o crescimento esperado pelos investidores.

“Essas medidas vão limitar o mercado da Nvidia, já que cerca de metade dos seus chips atualmente é vendida para países que estarão fora do alcance nas novas regras”, explica Gil Luria, analista da D.A. Davidson. Documentos da empresa revelam que aproximadamente 56% de sua receita vem de clientes fora dos EUA, sendo a China responsável por cerca de 17% das vendas.

Ned Finkle, vice-presidente de assuntos governamentais da Nvidia, afirma que a restrição às exportações “ameaça frear a inovação e o crescimento econômico global” e pode “prejudicar a liderança dos EUA”.

SEGURANÇA NACIONAL

Sob o novo marco regulatório, cerca de 20 aliados estratégicos não vão enfrentar restrições ao acesso aos chips, enquanto outros países terão limites na quantidade que poderão importar.

Entre os aliados sem restrições estão Austrália, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Japão, Países Baixos, Nova Zelândia, Noruega, Coreia do Sul, Espanha, Suécia, Taiwan e Reino Unido.

Para países fora desse grupo, será permitido adquirir até 50 mil unidades de processamento gráfico por ano. Contudo, acordos entre governos podem aumentar esse limite para 100 mil unidades, caso os objetivos de segurança tecnológica e energia renovável estejam alinhados aos dos EUA.

Crédito: Istock

Além disso, algumas instituições poderão solicitar uma autorização especial para adquirir até 320 mil unidades avançadas em um período de dois anos. Mas haverá restrições sobre a quantidade de capacidade computacional de IA que empresas e outras instituições poderão manter fora do território norte-americano.

Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, explica que o objetivo é garantir que os avanços mais importantes em inteligência artificial sejam desenvolvidos dentro dos EUA por seus aliados mais próximos, evitando que setores críticos sejam dominados por outros países, como já ocorreu com as indústrias de baterias e energia renovável.

Provedores de nuvem devem ampliar ainda mais sua participação no mercado de IA.

Apesar disso, Finkle alerta que essas medidas podem prejudicar a posição de liderança dos EUA em IA. “As regras vão impor controles burocráticos sobre como os principais semicondutores, sistemas e softwares norte-americanos são desenvolvidos e comercializados no mercado global”, lembra ele.

A medida também foi criticada pela Associação da Indústria de Semicondutores, que argumentou que as restrições podem fazer com que empresas locais percam participação de mercado para concorrentes internacionais.

“Ao limitar o acesso a grandes quantidades de processadores avançados, os EUA estão basicamente mostrando quem está no controle. No entanto, isso também coloca em risco o potencial de lucro de muitas empresas, como a Nvidia”, observa Dan Coatsworth, analista de investimentos da AJ Bell.

GRANDES PROVEDORES DE NUVEM SAEM GANHANDO

Com as novas regras, grandes provedores de nuvem, como Microsoft, Google (da Alphabet) e Amazon, poderão solicitar aprovação para driblar os requisitos de licença para chips de IA. Isso permitirá que criem data centers em países afetados pelas restrições.

Como consequência, essas empresas, que já dominam o setor de inteligência artificial, devem ampliar ainda mais sua participação no mercado, de acordo com analistas.

“Já considerávamos essas empresas como as principais líderes em IA devido à sua capacidade financeira para investir continuamente em tecnologias avançadas”, afirma Angelo Zino, analista da CFRA Research. “Ter acesso aos chips mais modernos dará a elas uma enorme vantagem competitiva.”

Apesar disso, ainda há incertezas em torno da implementação das novas regras, que só devem entrar em vigor 120 dias após sua publicação. Assim, a administração que assumirá com o presidente eleito Donald Trump poderá, em última instância, determinar as regras para as vendas desses chips no exterior.

Com informações de Josh Boak e Matt O’Brien, da Associated Press


SOBRE O AUTOR

Chris Sanders e Karen Freifeld são repórteres da agência Reuters. saiba mais