Free Our Feeds quer “libertar” as mídias sociais do controle de bilionários
Iniciativa apoiada pelo fundador da Wikipedia busca arrecadar fundos para proteger a tecnologia por trás do Bluesky
Nos últimos anos, vem crescendo a preocupação com bilionários usando suas plataformas de mídia para promover interesses pessoais. Jeff Bezos é dono do “The Washington Post”. Elon Musk controla o X (antigo Twitter) – e, de acordo com uma reportagem da “Bloomberg”, estaria interessado em comprar o TikTok.
Donald Trump possui a maior parte das ações da Truth Social, enquanto Mark Zuckerberg, que comanda a Meta, recentemente anunciou o fim das checagens de fatos no Facebook, Threads e Instagram nos EUA. Agora, um movimento tenta mudar esse cenário, recuperando uma parte das redes sociais das mãos de alguns dos homens mais ricos do mundo.
A iniciativa Free Our Feeds (Liberte Nossos Feeds) busca proteger a tecnologia por trás do Bluesky, chamada AT Protocol, e usá-la para criar um ecossistema de redes sociais abertas e descentralizadas. A ideia é semelhante ao conceito de criptomoedas – um sistema que, segundo seus apoiadores, não pode ser controlado por nenhum indivíduo ou organização.
Embora seja independente do Bluesky, o Free Our Feeds afirma contar com o apoio da empresa. O movimento foi criado por um grupo de empreendedores e ativistas ligados a organizações como a Fundação Mozilla e a Numeno AI.
A iniciativa ainda é pequena e enfrenta grandes desafios, mas já atraiu o apoio de nomes de peso, como Jimmy Wales (fundador da Wikipedia), o ator Mark Ruffalo, Roger McNamee (um dos primeiros investidores do Facebook) e o músico Brian Eno.
“Hoje, as praças públicas são de propriedade privada”, escreveu o grupo em seu blog. “As consequências disso para a sociedade são graves e bem conhecidas: concentração de lucro e poder, desinformação, promoção de conteúdo polarizador, assédio online, impactos negativos na saúde mental e muito mais.”
Até o momento, o grupo arrecadou pouco mais de US$ 33 mil em apenas um dia, através de uma campanha no GoFundMe. A campanha busca arrecadar US$ 4 milhões em um primeiro momento, com o objetivo total de alcançar US$ 30 milhões em três anos.
O dinheiro será usado para criar uma fundação que sustente o AT Protocol e desenvolva uma infraestrutura robusta, incluindo um sistema de retransmissão de dados. Esse sistema atuará como um backup de todo o conteúdo da rede, permitindo o acesso às informações mesmo que o Bluesky limite sua disponibilidade.
A iniciativa também pretende financiar desenvolvedores para criar aplicativos sociais baseados em protocolos abertos. A expectativa é que a fundação independente para supervisionar o AT Protocol esteja operando até o final do ano.
Enquanto isso,o Mastodon – uma rede social que ganhou destaque após Elon Musk comprar o Twitter – anunciou que vai transferir a propriedade de seu ecossistema e de sua plataforma para uma organização sem fins lucrativos. A medida visa garantir que a rede não seja controlada por uma única pessoa.
“Quando Eugen Rochko criou o Mastodon, seu foco era desenvolver o código e as condições para a rede social que idealizou”, diz um post no blog da empresa. “Desde o início, ele deixou claro que o Mastodon não estaria à venda e permaneceria livre de controle individual.”
Embora o crescimento do Mastodon tenha desacelerado desde o boom inicial de usuários após a compra do Twitter, o Bluesky registrou um aumento expressivo nos últimos meses, alcançando a marca de 26 milhões de usuários no final de 2024. Quase metade deles ingressou após a vitória de Donald Trump nas eleições.
“Temos visto como bilionários e empresas de mídia abusam da lealdade de seus públicos e enfraquecem o papel vital do jornalismo em uma democracia livre”, disse Jen Rubin, crítica ferrenha de Trump, ao anunciar sua saída do “Washington Post”, de propriedade de Jeff Bezos.
“Em vez de proteger os valores democráticos, eles permitem ameaças graves à democracia, como Donald Trump e seus aliados, justamente quando uma imprensa independente e forte é mais necessária. Precisamos de uma alternativa que seja verdadeiramente independente, que não tema enfrentar o governo e que não ceda às pressões”, concluiu Rubin.