Sem checagem, fake news sobre crise climática devem aumentar nas redes sociais

A checagem feita por usuários não é páreo para campanhas organizadas de desinformação em momentos de crise

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Jill Hopke 4 minutos de leitura

A recente decisão da Meta de encerrar seu programa de checagem de fatos e reduzir a moderação de conteúdo levanta preocupações sobre o futuro das redes sociais da empresa.

Um dos riscos é que essas mudanças abram as portas para o aumento da desinformação sobre o clima, especialmente em momentos de desastres, quando informações enganosas ou descontextualizadas podem causar graves danos.

Em 2020, a Meta lançou o Climate Science Information Center (Centro de Informações Científicas sobre o Clima) no Facebook como resposta à desinformação climática. Atualmente, checadores de fatos terceirizados identificam postagens falsas ou enganosas. A empresa, então, decide adicionar um aviso a essas publicações e reduzir sua visibilidade.

As políticas da Meta priorizam a checagem de “informações virais falsas”, boatos e “afirmações comprovadamente falsas que são oportunas, relevantes e de impacto”. E esclarece que isso não inclui opiniões que não contenham alegações falsas.

Mesmo assim, a empresa anunciou que vai encerrar seus contratos com organizações terceirizadas de checagem de fatos nos Estados Unidos em março. Essa mudança, voltada para usuários nos EUA, não afetará a verificação de conteúdo em outros países.

A checagem de fatos pode ajudar a desmentir desinformação política, inclusive sobre mudanças climáticas. Encontrar mensagens que se alinhem aos valores do público-alvo, transmitidas por fontes confiáveis – como grupos conservadores favoráveis ao clima ao falar com indivíduos com viés negacionista –, pode ajudar. Também pode ser útil apelar para normas sociais compartilhadas, como a responsabilidade de proteger as gerações futuras.

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O que diferencia desinformação de informação enganosa é a intenção de quem compartilha. Informações enganosas são falsas ou imprecisas, mas são compartilhadas sem intenção de enganar. Já a desinformação é deliberadamente enganosa, com o objetivo de confundir. é o que acontece com muitas fake news sobre crise climática

Por exemplo, após a passagem dos furacões Helene e Milton pela costa leste dos EUA, no final do ano passado, imagens falsas geradas por IA de uma jovem tremendo de frio e segurando um filhote em um barco viralizaram no X/ Twitter. A disseminação de boatos e desinformação dificultou a resposta da Agência Federal de Gerenciamento de Emergências ao desastre.

Fake news viralizam com facilidade

Embora o problema das fake news nas redes sociais não seja novo, as plataformas estão mudando a forma como lidam com ele. O X/ Twitter substituiu suas ferramentas de checagem de boatos, que ajudavam a desmentir alegações falsas durante desastres, por rótulos gerados por usuários, as chamadas "notas da comunidade".

Mark Zuckerberg, CEO da Meta, citou especificamente esses rótulos como inspiração para as mudanças na moderação de conteúdo. O problema é que informações falsas viralizam rapidamente.

Pesquisas recentes mostram que o tempo de resposta das notas da comunidade é lento demais para conter a propagação de desinformação logo no início – que é quando a quantidade de visualizações é maior.

O que diferencia desinformação de informação enganosa é a intenção de quem compartilha.

As fake news sobre crise climática são particularmente nocivas. Uma vez que as pessoas entram em contato com essas informações repetidamente, fica muito difícil desmenti-las. Além disso, elas comprometem a aceitação pública de evidências científicas. Apenas compartilhar mais dados não basta para combater alegações falsas sobre as mudanças climáticas.

Explicar que cientistas concordam que o clima está mudando por causa das emissões de gases do efeito estufa pode preparar as pessoas para não cair em fake news. Pesquisas mostram que essa abordagem, conhecida como “inoculação”, ajuda a reduzir o impacto da desinformação.

Alertar as pessoas é fundamental para conter a disseminação de informações falsas. Mas, com as mudanças planejadas pela Meta, essa tarefa se tornará ainda mais difícil.

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Os usuários ficarão responsáveis por checar informações no Facebook e em outros aplicativos da empresa. E a melhor forma de fazer isso é com informações precisas, com alertas sobre alegações falsas, explicando por que e reforçando a verdade.

Durante desastres agravados pelas mudanças climáticas, as pessoas precisam desesperadamente de informações confiáveis para tomar decisões que podem salvar vidas. E isso já é difícil o suficiente, como demonstrado quando o gabinete de emergência do condado de Los Angeles enviou, por engano, um alerta de evacuação para 10 milhões de pessoas no dia 9 de janeiro.

A checagem feita por usuários não é páreo para campanhas organizadas de desinformação em momentos de crise. Sem moderação, a disseminação de informações falsas deve aumentar nas plataformas da Meta.

Este artigo foi republicado do “The Conversation” sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.


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