A renascença de gênero na era Trump

A renascença de gênero que propomos é um despertar mais amplo para as possibilidades ilimitadas de expressão humana

Crédito: Piranka/ Getty Images

Pri Bertucci 4 minutos de leitura

Esta semana, durante sua posse, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez uma declaração contundente sobre a política de gênero. “Acabarei com a política governamental de tentar fazer engenharia social de raça e gênero em todos os aspectos da vida pública e privada. Forjaremos uma sociedade que seja daltônica e baseada no mérito. A partir de hoje, será a política oficial do governo dos Estados Unidos que existam apenas dois gêneros, masculino e feminino”.

Esta visão restritiva provocou indignação em muitos que defendem a liberdade de existência trans e os direitos humanos. Diante dessa perspectiva limitada, nos defrontamos com uma oportunidade histórica para revisitar e expandir nossa compreensão das identidades de gênero.

Esta discussão transcende meras políticas ou direitos civis; é uma convocação para uma verdadeira renascença de gênero, inspirada pelas profundas lições da geometria sagrada e dos conceitos herméticos.

Para entender mais sobre a renascença de gênero:

ENERGIA E DUALIDADE

Me entendo como pessoa não binária há pelo menos duas décadas, percebendo que minha não binariedade emerge da multiplicidade e do encontro das polaridades dentro de mim.

Esse conceito, para o qual dedico profunda pesquisa, pode ser explorado por meio da compreensão dos Três Nadis Fundamentais – Ida, Pingala e Sushumna, como explicado por Sadhguru, yogi, místico e escritor indiano.

Ida e Pingala representam as duas correntes de energia que fluem por caminhos espiralados em torno da Sushumna, o canal central, refletindo a dualidade inerente à nossa existência. Esses fluxos de energia se entrelaçam no percurso dos chacras principais e simbolizam o encontro de forças opostas que, quando equilibradas, conduzem ao despertar espiritual e à integração.

Este entendimento profundo da energia e da dualidade está intrinsecamente ligado à geometria sagrada e ao legado dos pensadories herméticos, oferecendo uma rica tapeçaria de conhecimento que pode nos guiar em tempos turbulentos.

Estamos no "nigredo'" uma fase de transformação e decomposição dentro de um processo alquímico maior, e precisamos dessa sabedoria para encontrar clareza e direção.

EXPRESSÃO E IDENTIDADE DE GÊNERO

A expressão de gênero inclui as categorias masculino, feminino e andrógino e é refletida na maneira como apresentamos nosso gênero através de nossa vestimenta e comportamento.

Por outro lado, a identidade de gênero refere-se ao sentimento interno de ser homem, mulher ou não binário. Já quando falamos de corpo ou sexo biológico, estamos nos referindo a características anatômicas, incluindo órgãos e genitais, classificados como macho, fêmea ou intersexo

É crucial que todes nós compreendamos nitidamente essas identidades, expressões e diferenças corporais, especialmente agora. Ter discernimento sobre estas distinções será essencial para navegar adequadamente nos próximos anos. Desenvolvi inclusive um curso sobre  isso.

ALÉM DA BINARIEDADE NA GEOMETRIA SAGRADA

Para entender verdadeiramente o espectro de gênero, podemos olhar para a antiga prática de "squaring the circle" – um problema clássico da geometria que busca construir um quadrado com a mesma área de um círculo.

Essa tarefa, impossível com ferramentas geométricas simples, simboliza a tentativa da humanidade de reconciliar o terreno (o quadrado) com o divino (o círculo), um paralelo poderoso com a nossa busca para integrar diferentes identidades de gênero em uma sociedade harmoniosa, para entender o masculino, o feminino e o que está para além desses pares de opostos. 

Leonardo da Vinci, com seu Homem Vitruviano, explorou essa ideia de harmonia e proporção, conceitos que podem ser facilmente aplicados à nossa compreensão de gênero.

Imagem gerada por IA

A imagem do Homem Vitruviano representa a simetria do corpo humano e, por extensão, a simetria possível entre as diversas expressões de gênero, mostrando que podemos alcançar um equilíbrio estético e funcional na diversidade de expressões humanas.

O PAPEL HISTÓRICO E A RENASCENÇA DE GÊNERO

Esta época de renascença de gênero nos chama para um momento semelhante ao da Renascença europeia, onde o redescobrimento de antigos saberes levou a saltos quânticos em ciência, arte e filosofia.

Estamos sendo convidades a reavaliar e expandir nossos paradigmas sobre gênero, utilizando ferramentas tanto antigas quanto modernas para entender que, além da dualidade aparente, existe uma complexidade que é profundamente humana e profundamente curativa.

nos defrontamos com uma oportunidade histórica para revisitar e expandir nossa compreensão das identidades de gênero.

Ao expandir a discussão para incluir não apenas os aspectos sociais e políticos, mas também os filosóficos e metafísicos, podemos começar a ver a questão de gênero não como um campo de batalha de ideologias, mas como um convite à compreensão mais profunda da natureza humana e da realidade.

A renascença de gênero que propomos não se limita a um ajuste nas políticas ou na aceitação social; é um despertar mais amplo para as possibilidades ilimitadas de expressão humana.

Inspirados por figuras históricas e conceitos universais, podemos transcender as limitações impostas por visões binárias e abraçar uma compreensão de gênero que é tão inclusiva e integrada quanto os padrões geométricos que encontramos tanto na natureza quanto na arte.

Esta é a nossa chamada para criar uma sociedade onde a diversidade é não apenas aceita, mas totalmente celebrada como um componente essencial da experiência humana.


SOBRE O(A) AUTOR(A)

Artista social, pós-ativista educadore e pesquisadore da área de diversidade há pelo menos duas décadas, identifica-se como pessoa não... saiba mais