IA e longevidade: caminhos para um futuro intergeracional e inclusivo
Não basta desenvolver sistemas sofisticados, é preciso pensá-los de forma inclusiva

Em um primeiro momento, inteligência artificial, longevidade e conexões humanas parecem assuntos diferentes. No entanto, ao examinarmos mais de perto, fica evidente o imenso potencial de inovação que surge quando essas áreas se cruzam.
Em 2025, a UNESCO ressalta a importância da educação continuada em um contexto cada vez mais automatizado, reforçando a necessidade de soluções tecnológicas mais inclusivas e empáticas. No Brasil, dados do IBGE apontam um crescimento significativo da população acima dos 50 anos no mercado de trabalho, o que torna esse debate ainda mais urgente.
A inteligência artificial pode ajudar a tornar o aprendizado personalizado e acessível para pessoas de todas as idades. Seja para quem já passou dos 50 e busca se reinventar no mercado de trabalho, seja para quem deseja compartilhar conhecimento acumulado ao longo dos anos.
Imagine plataformas de storytelling que registram a sabedoria de avós e avôs, transformando suas trajetórias de vida em inspiração para as novas gerações. Ou ainda, aplicativos de re-skilling que entendem o ritmo e as preferências de cada pessoa, ajudando profissionais mais velhos a se adaptar às demandas atuais sem perder de vista a experiência que já têm.
Essa abordagem não só atualiza as habilidades técnicas, mas também contribui para a saúde mental, dando propósito e autoestima a quem muitas vezes se sente excluído do universo digital.
É fundamental, porém, que os algoritmos sejam projetados e auditados para evitar preconceitos. Se alimentados por dados, correm o risco de reforçar o etarismo e outras formas de discriminação. Ferramentas de recrutamento automatizadas podem excluir perfis mais velhos se não estiverem calibradas para valorizar a bagagem desses profissionais.
Daí a importância de mantermos o fator humano no centro de tudo: não basta desenvolver sistemas sofisticados, é preciso pensá-los de forma inclusiva. Equipes de desenvolvimento diversas (inclusive “geracionalmente”) e auditorias periódicas são caminhos possíveis para que a IA seja uma aliada real, e não uma barreira.
Se usarmos a IA para aproximar pessoas teremos um futuro em que aprender é uma jornada contínua e repleta de propósito.
Além disso, a IA pode ter um papel fundamental na promoção do bem-estar e na redução do isolamento entre os mais velhos. Ferramentas que simplificam o trabalho de cuidadores, por exemplo, liberam mais tempo para o contato humano, que faz toda a diferença na qualidade de vida.
Essa lógica também vale para a dinâmica familiar: aplicativos de comunicação assistidos por IA podem tornar mais fluidas e frequentes as trocas entre parentes que moram distantes, ajudando a fortalecer laços intergeracionais.
No campo da saúde, soluções de agetech e healthtech – como monitoramento remoto de sinais vitais, telemedicina e dispositivos com algoritmos de machine learning para detecção precoce de doenças –ganham força. Quando somadas ao cuidado humano, essas inovações podem oferecer uma abordagem mais integral e eficaz para quem já passou dos 50.
IA E LONGEVIDADE
Para que esse cenário se torne realidade, governos, empresas e sociedade civil precisam unir forças. É essencial ter políticas públicas e iniciativas que estimulem a pesquisa de soluções para todas as faixas etárias, além de uma cultura organizacional que reconheça que inovação não tem idade.
Na Maturi, vemos na tecnologia uma oportunidade de conectar profissionais maduros ao mercado, promover empreendedorismo e gerar valor por meio da experiência.
Em comunidades digitais como a nossa, a IA pode apoiar a conexão e networking para geração de oportunidades, além de mostrar alternativas de trabalho e aprendizado de forma personalizada.

Nas empresas, líderes inclusivos também são fundamentais: eles podem integrar equipes diversas e incentivar programas de mentoria que usem IA para unir gerações, estimulando a troca de conhecimento e a criatividade.
Olhando para os próximos cinco ou 10 anos, vale a pena imaginar como esses movimentos podem evoluir. Talvez vejamos plataformas que criem “ecossistemas de aprendizagem” totalmente intergeracionais, integrando dados de performance e de satisfação de forma contínua, para desenhar trilhas de carreira sob medida.
Poderemos ter políticas mais avançadas de incentivo a quem deseja retomar os estudos depois dos 60, ou até novas profissões surgindo especialmente para atender às demandas de uma população cada vez mais velha (o famoso “mercado prateado”).
a IA pode ter um papel fundamental na promoção do bem-estar e na redução do isolamento entre os mais velhos.
Com a expansão das agetechs e healthtechs, é provável que o mercado se diversifique ainda mais, gerando oportunidades tanto para empreendedores maduros quanto para jovens que querem impactar positivamente a vida de quem já acumulou décadas de experiência.
Em uma época na qual se discute o futuro do trabalho e da educação, vale lembrar do estudo de longevidade de Harvard: a qualidade das nossas conexões é o que traz sentido à vida. Se usarmos a IA para aproximar pessoas e potencializar essa troca de saberes, teremos um futuro em que aprender é uma jornada contínua, intergeracional e repleta de propósito.
Esse futuro não é apenas para os mais jovens: inclui, sobretudo, quem já passou dos 50 e ainda tem muito a contribuir. Fica aqui o convite: que todos – empresas, instituições e cada um de nós – abracem esse potencial e ajudem a moldar uma realidade em que a tecnologia serve de ponte para a inclusão, o bem-estar e a valorização de todas as gerações.
