Google e Samsung se unem para trazer o som 3D para nossos celulares e TVs

As duas empresas apostam no poder do branding para tornar seu novo formato de áudio imersivo (ou som 3D) um grande sucesso

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Janko Roettgers 3 minutos de leitura

Imagine um helicóptero passando sobre sua cabeça, o chão tremendo sob seus pés, balas cortando o ar ao seu redor. Se depender do Google e da Samsung, essa será a experiência sonora das suas próximas noites de filme: o som 3D.

As duas gigantes da tecnologia anunciaram um novo formato de áudio imersivo chamado Eclipsa Audio, que levará som espacial para dispositivos compatíveis, começando pelos novos modelos de TVs e soundbars da Samsung.

O Google também vai integrar o Eclipsa ao YouTube, permitindo que criadores de conteúdo publiquem vídeos com som 3D. Além disso, há planos para expandir a tecnologia para celulares Android, navegadores Chrome, TVs, soundbars e dispositivos de streaming de diversas marcas.

Se isso soa familiar, não é por acaso: o Dolby Atmos já oferece um recurso semelhante e é amplamente adotado por fabricantes e serviços de streaming.

A diferença é que, enquanto a Dolby cobra taxas de licenciamento por dispositivo vendido, o Google e a Samsung vão disponibilizar o Eclipsa gratuitamente para os fabricantes. Eles apostam que um nome de fácil reconhecimento pode ajudar o novo formato a se tornar um sucesso.

“O áudio imersivo será a próxima grande revolução no setor”, afirma Jani Huoponen, líder do projeto Eclipsa Audio no Google.

TECNOLOGIA REPENSADA PARA A ERA DO STREAMING

O conceito de áudio espacial (ou imersivo, ou som 3D) não é novo. No entanto, nem todas as empresas adotaram o Dolby Atmos. Muitos modelos básicos de TVs e soundbars não suportam o formato e plataformas como YouTube e Spotify nem sequer oferecem conteúdo em Dolby Atmos.

Mesmo quem tem um dispositivo compatível pode não conseguir aproveitar a experiência. Na Netflix, Max e Prime Video, por exemplo, só os assinantes dos planos mais caros têm acesso a filmes e séries com esse recurso.

Isso acontece, em parte, pelas taxas de licenciamento cobradas pela Dolby. Para os criadores de conteúdo, o custo também pode ser um obstáculo: só a licença do Atmos para o software de edição Pro Tools custa cerca de US$ 300 – um valor irrelevante para grandes estúdios de Hollywood, mas proibitivo para criadores independentes no YouTube.

Crédito: Freepik

“Precisamos de uma alternativa open source para tornar o áudio imersivo mais acessível”, defende Huoponen. O Eclipsa quer mudar isso, reduzindo as barreiras para criadores de conteúdo e permitindo que qualquer pessoa produza e publique vídeos com som 3D.

Mas nem todos estão convencidos. “O mundo do áudio imersivo já é complexo. Adicionar mais um formato pode gerar ainda mais confusão para criadores e consumidores”, alerta o designer de som Lars Tirsbæk.

DESAFIOS DA ADOÇÃO DO SOM 3D

Esse é um problema que o Google e a Samsung já enfrentaram antes. Em 2017, a Samsung se recusou a pagar as taxas de licenciamento do Dolby Vision (tecnologia HDR para vídeos) e lançou sua própria alternativa gratuita, o HDR10+.

Apesar do apoio inicial da Amazon e do Google, muitos consumidores ficaram confusos com o nome técnico, e a maioria das plataformas de streaming acabou preferindo o Dolby Vision, que já era amplamente conhecido.

Desta vez, para evitar o mesmo erro, Google e Samsung decidiram investir pesado no branding. Inicialmente, o Eclipsa Audio iria se chamar “Immersive Audio Model & Format” (modelo e formato de áudio imersivo), mas o nome foi descartado. “Era complicado demais. Precisávamos de algo mais simples para o público”, explica Huoponen.

Google e Samsung apostam que um nome de fácil reconhecimento pode ajudar o formato a se tornar um sucesso.

Em 2022, o Google apresentou a ideia a fabricantes de eletrônicos em uma reunião fechada

O plano era criar marcas fortes e fáceis de reconhecer, capazes de competir diretamente com Dolby Atmos e Dolby Vision – incluindo logotipos que os fabricantes poderiam incluir nas embalagens de seus produtos.

O Eclipsa Audio é a primeira dessas marcas, e o Google já está preparando um programa de certificação para TVs, soundbars e outros dispositivos. Isso levanta uma questão: será que um “Eclipsa Video” também está a caminho?

Huoponen não descarta a possibilidade, mas diz que ainda é cedo para afirmar qualquer coisa. “Por enquanto, estamos focados apenas em áudio. Mas, quando chegar a hora, provavelmente teremos algo para vídeo também. Vamos ver o que o futuro nos reserva.”


SOBRE O AUTOR

Janko Roettgers é repórter de tecnologia e autor da newsletter Lowpass.cc, que fala sobre o futuro da indústria do entretenimento. saiba mais