Quando nos tornamos avatares

A economia dos avatares traz um novo paradigma que exige reflexão sobre autenticidade, ética e respeito à complexidade do consumidor moderno

Crédito: Annadokaz/ golubovy/ Getty Images

Daniela Klaiman 4 minutos de leitura

Vivemos na era das múltiplas identidades digitais, um cenário onde cada pessoa transita entre diferentes "eu" digitais, com características, vocabulário, estilos e preferências que mudam conforme o espaço em que está inserida. Com o aumento das plataformas sociais e a possibilidade de interações em ambientes virtuais como o metaverso, nasce o que podemos chamar de avatar economy, ou economia dos avatares.

No Instagram, mostramos uma faceta – talvez um lado mais criativo e curado; no LinkedIn, a imagem profissional e estruturada; no TikTok, uma expressão mais descontraída, conectada a uma cultura de desafios e vídeos curtos; e em games, uma identidade que pode ser completamente diferente, com trajes, poderes e objetivos distintos.

Cada uma dessas representações já existe, mas a tendência é que, nos próximos anos, esses mundos vão se expandir a ponto de as pessoas operarem como múltiplas identidades ou "skins" em uma mesma pessoa.

Se você for gamer, esse cenário se multiplica ainda mais: o avatar "jogador de futebol" pode ter um gênero diferente do meu personagem no Roblox, que talvez nem seja humano, e sim um unicórnio cor de rosa chamado Tommy. Que, por sua vez, seria completamente distinto do avatar no GTA, que provavelmente assumiria uma aparência mais agressiva e uma personalidade descontrolada. 

DIVERSIDADE E IDENTIDADE NA ECONOMIA DOS AVATARES

Na economia dos avatares, a segmentação de mercado não será mais sobre "pessoas" de forma linear, mas sobre “personas” que cada indivíduo assume de acordo com seu contexto. Como "targetizamos" vai mudar fundamentalmente.

Se hoje a segmentação se baseia em dados demográficos e comportamentais, no futuro vai ser preciso entender as identidades digitais como universos específicos, com características e interesses próprios

Esses “skins” – como chamamos as roupagens e características dos personagens – serão múltiplos e adaptados a diferentes contextos. E isso só deve se intensificar cada vez mais com nossa transição para uma vida parcial dentro no metaverso.

Assim, cada avatar terá sua própria personalidade, um tom de voz, um comportamento, padrões de consumo e até moedas virtuais específicas. 

MARCAS E A FLEXIBILIDADE DA IDENTIDADE

No contexto da economia dos avatares, as marcas precisarão ser fluídas, adaptando-se à realidade das múltiplas facetas do consumidor. Serão marcas que "vestirão" seus próprios avatares, modificando não apenas a aparência, mas também a linguagem, o tom de voz e até os meios de pagamento para cada contexto, plataforma e audiência.

Cada avatar de marca terá uma postura específica, criando uma conexão autêntica e contextualizada com os avatares dos consumidores, que podem assumir diferentes identidades simultaneamente.

Crédito: Captura de tela/ Instagram @lensa.ai

Assim, para vender para diferentes versões de uma mesma pessoa, será necessário mapear esses universos paralelos e entender quais "skins" cada consumidor usa. Se hoje buscamos empatia e relevância, amanhã precisaremos garantir coerência e segurança em níveis múltiplos.

Essa economia terá impacto direto em áreas como verificação de identidade, idoneidade e segurança digital. Com consumidores assumindo múltiplas personalidades em diferentes realidades, surgem desafios sobre como garantir autenticidade e evitar fraudes ou distorções na relação entre marcas e usuários.

NA ECONOMIA DOS AVATARES, QUAIS SERÃO OS DESAFIOS?

Será necessário um nível de análise muito mais profundo sobre os consumidores, aliado a investimentos em tecnologias avançadas de personalização e autenticação. O impacto se estenderá para além da segmentação de marketing, influenciando também sistemas de identidade digital, transações financeiras e a forma como avaliamos a confiabilidade de usuários e empresas.

Os consumidores não vão se limitar a uma única identidade ou grupo-alvo e as marcas precisarão se preparar para engajar várias versões de uma mesma pessoa.

Esse entendimento vai abrir portas para inovação em produtos e serviços, permitindo uma personalização que vai além da persona tradicional, passando a reconhecer as diferentes "skins" e os múltiplos universos dos consumidores.

as marcas precisarão ser fluídas, adaptando-se à realidade das múltiplas facetas do consumidor.

Além disso, o impacto psicológico da multiplicidade de avatares deve ser considerado. Como a constante troca entre identidades virtuais afeta a percepção individual e a saúde mental? Será possível manter uma relação coesa e confiável com marcas em um ambiente onde a identidade está em constante mudança?

A economia dos avatares traz um novo paradigma que exige reflexão sobre autenticidade, ética e a construção de experiências que respeitem a complexidade do consumidor moderno.

Cada avatar e cada identidade virtual são convites para que as marcas se aproximem de seus consumidores de forma mais profunda e responsável, garantindo experiências seguras, transparentes e adaptadas ao contexto de cada interação.


SOBRE A AUTORA

Daniela Klaiman é CEO da FutureFuture, consultora e um dos principais nomes do futurismo do Brasil e da América Latina. saiba mais