Como o Minecraft está ajudando a construir espaços públicos na vida real
Minecraft é um jogo de computador lançado em 2009 e que hoje ocupa o segundo lugar no ranking dos jogos mais vendidos de todos os tempos. A categoria a que o jogo pertence se chama sandbox — ou mundo aberto — e permite ao usuário modificar o ambiente virtual conforme sua vontade. Basicamente como um The Sims — lembra dele? O sucesso foi tanto que, em 2014, o estúdio Mojang, responsável por Minecraft, e todos os direitos do jogo foram comprados pela Microsoft, em uma negociação de US$ 2,5 bilhões.
De acordo com o último fact sheet — documento com dados importantes e resumidos sobre um produto ou empresa — divulgado pela Microsoft em abril de 2021, Minecraft foi o jogo mais visto no YouTube em 2020, com mais de 200 bilhões de visualizações. O jogo ultrapassou a marca das 238 milhões de cópias vendidas no mundo — incluindo a Antártica — e hoje conta com uma média mensal de 140 milhões de usuários ativos.
Mas nem só de diversão serve o Minecraft. Em 2016, uma versão para uso nas salas de aula foi lançada — já sob a gestão da Microsoft. Segundo os dados mais recentes do fact sheet, mais de 35 milhões de estudantes e professores estão licenciados no mundo para o uso da versão educativa, em mais de 115 países — e a taxa de crescimento no número de jogadores únicos tem um aumento médio de 150% ao ano.
Como parte da atuação filantrópica do estúdio Mojang, foi criada a fundação Block By Block, ainda em 2012, mas que só deslanchou e foi constituída oficialmente em 2015, após a compra bilionária pela Microsoft. O objetivo é atuar junto com o Programa das Nações Unidas para os Assentamentos (UN-Habitat) na construção de espaços públicos, em comunidades carentes ou atingidas por algum tipo de conflito, a partir dos conceitos do jogo. Os projetos iniciais aconteceram em Nairobi (África) e Mumbai (Índia) e serviram de base para a criação de uma metodologia que é utilizada até hoje.
METODOLOGIA PARA CONSTRUÇÃO NA VIDA REAL
Anualmente, a fundação recebe dezenas de contatos de entidades locais com sugestões de espaços a serem transformados e um comitê composto por especialistas em planejamento urbano, arquitetos e atividades tem a tarefa de selecionar os que terão aporte financeiro da Microsoft para a realização do trabalho.
Com o local determinado, o primeiro passo é criar um modelo dentro do jogo Minecraft com os elementos que já existem no local. Isso é feito com a ajuda de fotos, satélite e do Google Maps.
Depois, um grupo de 30 a 60 moradores do local precisa ser formado para participar da discussão de como ficará o espaço público. O grupo precisa ter representantes de todos os gêneros, faixas etárias e pessoas portadoras de necessidades especiais. Essas pessoas passam por workshops durante quatro dias, organizados pela Mojang, nos quais cada computador é usado por até quatro pessoas. Ali, as pessoas que não são familiarizadas com o jogo terão a oportunidade de aprender a usar as ferramentas.
Após se familiarizarem com a ferramenta, os participantes recebem aulas com noções de arquitetura, urbanismo e fazem visitas ao local, onde eles se transformarão, acompanhados dos especialistas da fundação. Na sequência da parte teórica, os participantes colocam a mão na massa e aplicam na plataforma do jogo como gostariam que o espaço ficasse, e apresentam os resultados para políticos e empresários locais. Com tudo pronto, os custos são calculados, os profissionais locais são contratados para as obras e o desenho finalmente sai do papel.
Veja como aconteceu o projeto no Kosovo, em 2015: