Longevidade em um mundo infeliz e um futuro distópico

Esperança não é sobre o futuro utópico, nem sobre um mundo melhor: é sobre assumir nosso papel na sociedade e fazer a nossa parte

Créditos: fizkes/ Getty Images/ Freepik

Renata Rivetti 2 minutos de leitura

Um dos temas recorrentes no festival South by Southwest deste ano foi a longevidade. Pelo visto, queremos viver mais. Nossa visão autocentrada e egoísta sobre sermos o centro do universo nos faz buscar a imortalidade. Mas me pergunto, por que queremos viver mais se não somos uma sociedade feliz e se a crise climática não aponta um futuro saudável ou positivo?

A palestra super concorrida de Peter Attia, renomado médico e autor do best-seller "Outlive", abordou longevidade, qualidade de vida e estratégias para otimizar a saúde ao longo dos anos. Ele destacou que viver mais não é suficiente – o verdadeiro objetivo deve ser viver melhor, mantendo força física, clareza mental e bem-estar emocional.

Porém, essa busca pela longevidade deveria vir com preocupações e mudanças sistêmicas para nossa sociedade. Kasley Killam abriu o festival falando sobre a importância da saúde social para nosso bem-estar e felicidade. Entretanto, o que vivemos neste momento é a crise da solidão, apontada por ela e por outros grandes nomes como Scott Galloway e Amy Gallo.

Construímos uma cultura hustle, na qual priorizamos e valorizamos o trabalho e a produtividade em detrimento às nossas conexões. Nunca temos tempo para outras pessoas e nem para nós mesmos, mas sempre para mais uma reunião, mais um email, mais um trabalho. E seguimos normalizando a falta de tempo, a sobrecarga e o distanciamento com as pessoas com quem nos importamos.  

Amy Webb, a futurista e CEO do Future Today Strategy Group, mostrou uma visão pragmática e cautelosa sobre o futuro, trazendo o tom de responsabilidade para construirmos algo melhor. Mas tanto ela como outros nomes apontaram uma concentração de poder e a previsão de um futuro distópico.

Por que então o mercado de wellness cresce dia a dia com suplementos e promessas utópicas (ou falsas?) para a conquista de uma vida mais saudável e longeva? E por que, no maior festival de inovação do mundo, estamos tão focados em nossa longevidade em vez de voltar todos os olhos para a construção de um mundo melhor? 

É mais fácil pensar em nós mesmos com controle sobre nossas vidas e pouco sobre o mundo que vivemos. Mas a gravação do podcast IMO, de Michelle Obama e seu irmão Craig Robinson, com a convidada Laurie Santos – uma renomada professora e especialista sobre bem-estar – trouxe uma provocação: hope (esperança) não é esperar de forma tóxica ou ingênua o mundo perfeito. É, sim, saber com consciência que hoje as coisas não estão boas, mas temos possibilidades e podemos fazer algo, mesmo que seja pequeno, para que elas melhorem. 

Michelle Obama (esq.), Craig Robinson e Laurie Santos no falam sobre longevidade no SXSW 2025
Michelle Obama (esq.), Craig Robinson e Laurie Santos (Crédito: Andy Wenstrand)

Pode ser doar para quem precisa, encontrar mais pessoas para ajudar, atos de gentileza, vivenciar o momento com maior estado de presença, ser gratos e, quem sabe, contagiar outros ao nosso redor. 

Esperança não é sobre o futuro utópico, nem sobre um mundo melhor: é sobre assumir nosso papel na sociedade e fazer a nossa parte.

Sempre é possível. Michelle Obama, Craig Robinson e Laurie Santos nos trouxeram esperança. Que possamos pensar em nossa longevidade somente quando pensarmos antes em ser uma sociedade mais feliz, vivendo em um planeta mais sustentável.


SOBRE A AUTORA

Renata Rivetti é fundadora da Reconnect Happiness At Work, empresa especializada em Felicidade Corporativa e Liderança Positiva, que t... saiba mais