Satélites equipados com IA podem revolucionar a resposta a desastres naturais

NASA está testando satélites equipados com inteligência artificial que analisam e tomam decisões em tempo real, sem depender de intervenção humana

Crédito: songqiuju/ Getty Images

Victor Dey 4 minutos de leitura

O monitoramento de desastres via satélite sempre foi um processo demorado. As imagens captadas precisam ser enviadas para a Terra e analisadas por especialistas, o que frequentemente atrasa o envio de informações essenciais para as equipes de emergência.

Agora, a inteligência artificial está mudando esse cenário, permitindo que satélites processem imagens em tempo real e tomem decisões de forma autônoma. A mais recente iniciativa da NASA aposta em satélites equipados com IA que podem operar sem supervisão humana.

Em parceria com a startup irlandesa Ubotica, o Laboratório de Propulsão a Jato (LPJ) da agência espacial dos EUA desenvolveu um sistema chamado Dynamic Targeting, que permite aos satélites processar imagens a bordo, agilizando a resposta a desastres.

O Dynamic Targeting já foi testado em cenários reais, como os recentes incêndios em Los Angeles e as enchentes na Espanha. Integrado ao satélite CogniSAT-6, desenvolvido pela Ubotica e pelo LPJ, o sistema processou dados de forma autônoma e enviou informações para a Terra em questão de minutos.

No centro do CogniSAT-6 está a Live Earth Intelligence (LEI), uma plataforma de processamento que integra agentes de IA a satélites de observação terrestre. Combinada com o sistema SPACE:AI, que permite processamento avançado de imagens, a tecnologia transforma satélites comuns em observadores inteligentes, capazes de tomar decisões rapidamente.

“Com a LEI, conseguimos rodar modelos de IA de terceiros diretamente no espaço. Usando conexões entre satélites, garantimos que informações críticas cheguem às pessoas certas no momento certo”, explica Fintan Buckley, CEO da Ubotica. “Os satélites não apenas observam, mas também analisam, interpretam e respondem em tempo real.”

OBSERVAÇÃO DA TERRA COM SATÉLITES EQUIPADOS COM IA

O Dynamic Targeting consegue analisar imagens em até 50 segundos. Se um satélite não puder capturar uma imagem por conta de nuvens, o sistema alerta automaticamente outros satélites para tentarem na próxima passagem – eliminando a necessidade de reprogramação manual.

Em constelações mistas, o sistema pode até alternar para radar de abertura sintética quando há muita cobertura de nuvens, garantindo que os dados continuem sendo coletados.

Crédito: dottedhippo/ iStock

Durante os incêndios em Los Angeles, a detecção autônoma de colunas de fumaça ajudou as equipes de emergência a monitorar a propagação do fogo com mais precisão. Já nas enchentes na Espanha, a IA estimou rapidamente que 21% da área observada estava alagada e enviou esses dados imediatamente para a Terra.

“Satélites equipados com IA podem analisar uma imagem e entregar informações às equipes de resgate em questão de minutos, algo impossível com os métodos tradicionais”, diz Buckley. “Em breve, essas tecnologias serão combinadas com dados de outras fontes para fornecer uma visão completa e em tempo real da situação no solo.”

A colaboração entre Ubotica e o Laboratório de Propulsão a Jato começou em 2022, quando testaram a análise de imagens via IA a bordo da Estação Espacial Internacional. Agora, a startup está se preparando para o primeiro teste real do Dynamic Targeting no espaço, previsto para este ano com o CogniSAT-6.

A IA PODE FUNCIONAR SEM SUPERVISÃO HUMANA?

Até agora, a observação da Terra sempre dependeu da análise humana para validar e interpretar dados de satélite. Um sistema totalmente autônomo de IA poderia gerar falsos alertas para pequenas mudanças climáticas ou mesmo deixar de detectar eventos críticos devido a vieses nos dados de treinamento.

Apesar dessas preocupações, Buckley acredita que a autonomia da inteligência artificial é apenas uma questão de tempo. “A supervisão humana vai se tornar obsoleta com o tempo”, afirma. “Mas, como acontece com qualquer tecnologia disruptiva, essa transição será mais lenta do que muitos esperam.”

Satélites com IA podem analisar uma imagem e entregar informações às equipes de resgate em minutos.

Para minimizar erros, o Dynamic Targeting foi projetado com múltiplos mecanismos de segurança dentro da arquitetura Live Earth Intelligence. O sistema aprende sem parar, selecionando novas imagens para aprimorar seu desempenho ao longo do tempo.

A aposta da NASA na inteligência artificial representa um avanço significativo na forma como monitoramos o planeta e respondemos a desastres. Como destaca o CEO da Ubotica, o verdadeiro impacto da IA não é apenas na análise de imagens, mas na coordenação de respostas em tempo real.

“Com o Dynamic Targeting, podemos coordenar satélites em uma constelação para fornecer atualizações instantâneas”, explica Buckley. “No futuro, ele poderá até ser usado para mobilizar drones para combater incêndios.”


SOBRE O AUTOR

Victor Dey é editor de tecnologia e escreve sobre inteligência artificial, ciência de dados, cibersegurança e metaverso. saiba mais