O tarifaço muda o jogo? Ou vale investir em renda variável no exterior?
Entenda se vale diversificar mais e aumentar a participação no portfólio de ativos internacionais em tempos de incerteza global

A recente escalada nos embates comerciais entre grandes potências, como países da União Europeia e da Ásia, impulsionada pelo tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, direcionou os holofotes sobre o mercado global.
No entanto, especialistas afirmam que esse contexto não deve afastar investidores brasileiros dos ativos internacionais. Para uma parte deles, a diversificação global segue como uma das estratégias mais eficientes para aumentar a resiliência da carteira e capturar oportunidades únicas.
Além disso, a diversificação de mercados pode ter um papel na estratégia de proteção do poder de compra tanto no Brasil quanto no exterior. Afinal, muitos produtos possuem preços atrelados ao dólar, como o iPhone e o Apple Watch.
Existem também diversas opções de ativos e estratégias na renda variável para todos os perfis de investidores.
A alocação internacional deve ser vista como um componente estratégico do portfólio do investidor brasileiro, e não apenas uma decisão tática de curto prazo, segundo Rodrigo Aloi, chefe de pesquisa e estratégia da HMC Capital.
“Independentemente do momento da economia global, investir no exterior melhora a eficiência e os retornos da carteira”, opina o especialista.
MAIS RICOS INVESTEM MAIS NO EXTERIOR
Os brasileiros ainda exploram pouco os ativos internacionais em seus portfólios, destaca Aloi. Family offices, que administram patrimônios elevados, costumam alocar mais da metade de seus ativos fora do Brasil.
Isso acontece, segundo o chefe de pesquisa e estratégia da HMC Capital, justamente por entenderem a importância da diversificação internacional”, explica.
Por outro lado, investidores pessoa física e regulados, como fundos de pensão, ainda não compreenderam totalmente o valor estratégico de ter parte do patrimônio fora do Brasil.
A alocação internacional desses investidores ainda gira entre 2% e 3%, um percentual insuficiente para colher os verdadeiros benefícios da diversificação global, diz Aloi.
FIQUE ATENTO
Mesmo com a volatilidade causada pelo tarifaço de Trump, João Piccioni, CIO da Empiricus Gestão, vê um cenário promissor.
“Ações de setores como tecnologia, serviços e seguros estão sendo negociadas a preços mais atraentes do que no ano passado. Para quem tem uma visão de longo prazo, essa janela de oportunidade é rara e deve ser aproveitada”, destaca.
A diversificação geográfica é essencial para equilibrar riscos e retornos. Bruno Corano, economista da Corano Capital, enfatiza que a seleção criteriosa de ativos é fundamental. “Ou você tem um valuation (usado para designar o processo de avaliação de um negócio pela perspectiva do lucro e do retorno) muito bem feito, ou estará no escuro. A falta de conhecimento gera risco”, alerta.
Outro ponto crucial é evitar a armadilha de investir somente nos Estados Unidos. Um erro comum é limitar-se ao mercado americano e ignorar oportunidades na Europa e na Ásia. Esses mercados, alerta Aloi, oferecem fontes de retorno distintas do Brasil e dos EUA e são bastante atrativos para compor um portfólio bem diversificado.
QUAL A ALOCAÇÃO IDEAL?
Os especialistas ouvidos por Fast Company Brasil concordam que entre 15% e 30% da carteira deveria estar alocada no exterior. Existem estratégias para todos os perfis de investidores:
- Conservador: Deve considerar menor exposição ao câmbio e priorizar ativos de renda fixa global.
- Moderado e arrojado: Pode ampliar a alocação para aproveitar oportunidades em renda variável e setores inovadores.
Até mesmo investidores conservadores precisam repensar sua exposição ao dólar, opina Piccioni. “Quem ficou posicionado no CDI e não diversificou sua carteira no ano passado viu o dólar subir 30% e perdeu poder de compra”, observa.
Mesmo investidores menos arrojados devem observar oportunidades no crédito global, aponta Aloi. “Os anos de 2023 e 2024 foram muito positivos para essa modalidade. Este ano começou mais fraco, mas os fatores que impulsionaram bons desempenhos nos anos anteriores continuam presentes”, avalia.
MENTALIDADE GLOBAL
O atual cenário econômico exige uma mentalidade global dos investidores. O tarifaço de Trump pode gerar turbulência por tempo indeterminado, mas também cria oportunidades estratégicas. Como aponta Aloi, a questão não é se vale a pena investir no exterior, mas como fazer isso de forma inteligente.
Fundos de investimentos internacionais, ETFs globais e ações de empresas resilientes podem ser opções para quem quer diversificar e proteger seu patrimônio no longo prazo.
“Fundos expostos ao dólar são um bom ponto de partida para investir no exterior, pois contam com gestão profissional”, conclui Piccioni.