Aga Porada: “É preciso evitar que a desinformação se propague na sociedade russa”

Crédito: Fast Company Brasil

Claudia Penteado 3 minutos de leitura

Aga Porada é polonesa, mas só viveu na Polônia até os 20 anos. Vice presidente de mídia, BI e performance na agência Africa, ela deixou a mãe, que é atriz, seu pai, que é engenheiro e uma irmã, em Varsóvia, para ganhar o mundo. Nesta conversa com a Fast Company Brasil, ela dá seu ponto de vista sobre o conflito que chega perigosamente perto de sua família, e afirma discordar que civis russos sejam penalizados pelos boicotes por parte de empresas e Governos, enquanto “Putin, seu governo e os oligarcas russos estão com suas famílias e recursos seguros, e vivem como se nada estivesse acontecendo.”

Aga, qual a sua sensação, neste momento, diante da guerra que está tão próxima de você em tantos sentidos?

É extremamente triste ver o mundo nessa situação. Violência é uma das alternativas mais primitivas, se não for a mais primitiva, que os governos possuem para disputar os poderes e que atinge os civis, muito mais do que qualquer outra coisa. Para mim, por ser polonesa, é como se fosse um déjà-vu, embora eu ainda não fosse nascida, mas a Polônia sempre esteve no lugar da Ucrânia hoje, um campo de conflito entre a Europa e a Rússia.

Como você enxerga o boicote que as empresas têm feito em relação à Rússia?

Acho pouco e, ao mesmo tempo, demais, porque esses boicotes atingem mais os cidadãos comuns e não quem é de fato responsável por esse conflito. O Putin, seu governo e os oligarcas russos estão com suas famílias e recursos seguros e vivem como se nada estivesse acontecendo. E isso é completamente errado. Por outro lado, se não existisse esse boicote, que outros recursos as empresas globais teriam para se manifestar contra essa violência? E não se manifestar mostraria ignorância, que acredito que nenhuma das grandes corporações internacionais pode se permitir.

Qual é na sua opinião o papel das marcas e das empresas em geral neste momento, em relação a esse conflito?

Acredito que as empresas e as marcas podem ajudar principalmente os refugiados ucranianos, fornecendo recursos de sobrevivência, transporte para lugares seguros, oferecendo abrigo, alimentação e, eventualmente, oportunidades de trabalho fora do país nativo deles. Outra coisa que podem fazer é se recusar a comprar qualquer matéria prima da Rússia. Agora…penalizar os civis russos não acho que seja a melhor maneira de se manifestar contra, pois impacta quem não tem nada a ver com o conflito. 

Empresas de tecnologia e mídia global também podem contribuir no fornecimento de informações e fatos sobre o conflito, evitando que a desinformação se propague na sociedade russa. 

Marcas devem posicionar-se politicamente, na sua opinião?

Acredito que não. 

As redes sociais espalham desinformação, e a população da Rússia está confusa, sem saber qual é de fato a realidade do conflito. Como você enxerga o papel da mídia e das redes sociais em conflitos assim?

Acredito que as redes sociais e as empresas de mídia, como um todo, deveriam contribuir fornecendo fatos e esclarecendo as dúvidas dos russos. Também acredito que redes sociais como Twitter, Facebook, Instagram ou TikTok deveriam moderar os conteúdos e tirar as fake news do ar, bloqueando seus autores. Sei que isso é quase censura, porém é isso que já está acontecendo na Rússia há anos e, talvez com esse governo que usa métodos tão primitivos, a única reação que as empresas de mídia podem ter é o mesmo primitivismo.

Você acredita que o tema foi endereçado devidamente no SXSW?

Acho que o festival não é sobre isso e foi planejado antes do conflito estourar. mas mesmo assim teve muitas palestras e painéis sobre o conflito, principalmente no que diz respeito aos cyber ataques e armas virtuais que o mundo possui hoje em dia.  Eu, polonesa, com família morando em Varsóvia, na Polônia, tenho mixed feelings sobre estar aqui me divertindo e expandindo meus horizontes, enquanto lá essa tragédia está tomando proporções maiores a cada dia e se aproximando do meu país.


SOBRE A AUTORA

Claudia Penteado é editora chefe da Fast Company Brasil. saiba mais