O que acontece em nosso cérebro quando elogiamos e somos elogiados

Crédito: Fast Company Brasil

Stephanie Vozza 4 minutos de leitura

Qual foi a última vez que você elogiou um colega de trabalho? Hoje em dia, mais de três quartos da população sofre com sintomas de esgotamento relacionado ao trabalho. Se já está difícil para a maioria de nós encarar a rotina, como esperar que ainda tentemos encorajar outras pessoas? No entanto, fazer elogios pode ser exatamente o que precisamos para enfrentar o estresse do dia a dia, sugere Michelle Rozen, PhD e autora do livro “2 Second Decisions: The Secret Formula for Leading Change by Making Quick Winning Choices” (Decisões em 2 Segundos: a Fórmula Secreta para Liderar a Mudança através de Escolhas Boas e Rápidas).

“Quando recebemos um elogio, uma área específica do cérebro é ativada. Curiosamente, é a mesma que se ativa quando ganhamos ou recebemos dinheiro, por exemplo”, explica Rozen. “Funciona como um sistema de recompensa. Já que estamos vivendo sob tanto estresse, por que não tirar proveito e ter um ganho real com os benefícios do elogio?”

ELOGIOS TAMBÉM SÃO BENÉFICOS PARA QUEM OS OFERECE

Receber um elogio gera um enorme impulso cerebral, mas oferecê-lo pode ter o mesmo efeito. Isso ocorre porque nossos cérebros são pré-programados para enxergar o lado negativo de cada cenário – mecanismo de proteção que, no passado, foi essencial para a sobrevivência ao ajudar a prever possíveis ameaças.

“O problema é que nossa mente ainda funciona da mesma maneira”, diz Rozen. “É bem improvável que um leão o ataque, por exemplo. Mas como nossa mente está programada para ter uma visão negativa da realidade, é comum que andemos por aí observando o que as pessoas fazem de errado. Tendemos a corrigir nossos colegas de trabalho, nossos cônjuges e nossos filhos.”

Essa visão negativa atrapalha os relacionamentos, já que ninguém gosta de ser constantemente criticado. No entanto, quando se elogia alguém, a pessoa tende a ficar mais aberta. “É uma sensação que vicia”, diz Rozen. “Ela provavelmente passará a querer ficar mais perto e, inclusive, trabalhar diretamente com você”.

Elogiar alguém também treina o cérebro a ver o lado positivo das coisas. Se você é o tipo de pessoa que corrige outros e se concentra apenas no que está errado, começar a enxergar o lado positivo da realidade pode trazer uma sensação de plenitude e interromper o ciclo negativo em que vive.

CRIANDO O HÁBITO DE ELOGIAR

No entanto, não é qualquer elogio que funciona. “Se você me disser que gostou da minha  roupa, por exemplo, entendo como algo positivo, ficarei muito feliz, mas, no fim das contas, não quer dizer muita coisa”, ressalta Rozen. “Um elogio genuíno tem mais a ver com reconhecer realizações. As pessoas fazem coisas incríveis o tempo todo, mas não damos a devida atenção ou valor.”

ELOGIAR ALGUÉM TREINA O CÉREBRO A VER O LADO POSITIVO DAS COISAS.

Elogios genuínos exigem que você mude sua visão de mundo de forma a perceber em detalhes o que há de bom ao seu redor. Pode, por exemplo, dizer a um colega: “Vi seu trabalho com o cliente. Achei sua proposta muito bem apresentada e, inclusive, logo de cara pude ver que você realmente se conectou a eles.”

“Quem recebe um elogio genuíno como esse pensa: ‘Ela viu meu esforço e dedicação, enxergou o meu valor’”, explica Rozen. “É de coração. Não conseguimos mentir quando se trata de um elogio genuíno. É praticamente impossível reconhecer um bom trabalho e não dizer nada.”

Elogiar uma pessoa demonstra cuidado e compaixão e pode, certamente, motivá-la. Quando elogiamos algo que a pessoa fez, ela se sente bem e repetirá esse comportamento para sentir de novo o prazer que foi desencadeado pelo sistema de recompensas do cérebro.

“Vão querer agradá-lo porque você é a pessoa que enxerga virtudes e ativa esse sentimento de recompensa”, diz ela. “Ser uma pessoa que sai por aí reconhecendo e ressaltando virtudes empodera outros ao seu redor e cria um ambiente em que todos se ajudam e se apoiam, algo extremamente importante hoje em dia.”

Rozen sugere criar o que ela chama de “hábito de elogio”: no fim do dia, pergunte-se quantos elogios genuínos deu. O ideal é que esse número seja cinco. “Se apenas uma mão é o suficiente para contar o número de elogios que dei, preciso ficar mais atento e reconhecer mais condutas positivas”, diz ela.

Elogios são mais importantes do que nunca. “Acredito que qualquer momento de crise é sempre algo que nos tira o chão”, diz Rozen. “Esta é uma oportunidade para reavaliar nossas prioridades. O que consideramos mais importante? Em que tipo de mundo vivemos e queremos viver? Elogiar é benéfico para todos, uma vez que nos sentimos melhor ao enxergar o lado positivo das coisas e fazemos com que o outro se sinta bem consigo mesmo.”


SOBRE A AUTORA

Stephanie Vozza escreve sobre produtividade e carreira na Fast Company. saiba mais