Com o avanço da IA, precisamos dobrar a capacidade desta habilidade humana
Não importa o quanto a tecnologia avance, os trabalhos do futuro vão depender muito do pensamento humano

A inteligência artificial é uma ferramenta incrível que turbina a nossa capacidade de pensar. Mas ela só funciona bem se soubermos fazer as perguntas certas. A IA nunca vai substituir nosso pensamento crítico. Na verdade, pode até reforçar preconceitos, já que aprende com aquilo que ensinamos a ela.
É por isso que uma das principais habilidades do futuro é saber pensar. De acordo com o relatório O Futuro do Trabalho, do Fórum Econômico Mundial, os empregadores acreditam que, além de saber lidar com tecnologia, o que mais vai ser valorizado é o pensamento crítico e criativo, a resiliência e a capacidade de aprender coisas novas.
Pensar virou uma “habilidade premium” – afinal, é justamente isso que está mais em risco. Hoje, os trabalhadores enfrentam uma ameaça tripla: a combinação de algoritmos, roubo de atenção e burnout.
ALGORITMOS REFORÇAM NOSSOS PRECONCEITOS
Cada vez mais, nossa capacidade de pensar, criar e resolver problemas está sendo ameaçada pelos algoritmos que chegam até nós pelas redes sociais. Pontos de vista enviesados estão sendo repetidos para nós mesmos por algoritmos que detectam o que a gente curte, o que tolera e o que acha que precisa ver.
As redes sociais servem para reforçar crenças que já temos, e não para questionar essas ideias. Aos poucos, estamos perdendo a capacidade de pensamento crítico, e isso é justamente o que mais precisamos desenvolver se quisermos continuar nos adaptando a esse mundo onde os computadores estão assumindo cada vez mais a nossa carga mental.
A ATENÇÃO INTERROMPIDA ROUBA NOSSO TEMPO
A interrupção da atenção é um desastre para quem quer pensar de forma independente e destrói nossa capacidade de focar. Quantas vezes por dia você é interrompido no meio de uma tarefa?
O burnout é uma das principais razões pelas quais as pessoas pedem demissão.
Uma pesquisa feita pela especialista em neurociência e processamento sensorial Tania Barney mostra que essas distrações custam caro, em termos de tempo e dinheiro.
O que a pesquisa descobriu:
- Perdemos 2,1 horas por dia, em média, com distrações.
- O tempo médio que conseguimos focar em uma tarefa antes de nos distrair é de 11 minutos.
- Depois de uma distração, levamos cerca de 25 minutos para voltar ao que estávamos fazendo.
Depois de reuniões, conversas inesperadas e pausas, quantas horas ainda sobram no dia para pensar e realmente produzir? Acabamos sugados pelas tarefas “urgentes” que parecem importantes, mas no fundo não são. Tudo isso nos leva à próxima grande ameaça grande à capacidade de pensar: o burnout.
O BURNOUT ESGOTA A NOSSA ENERGIA
O burnout é como os “juros compostos” da produtividade perdida por causa das distrações. Só porque estamos nos distraindo com coisas que parecem urgentes, não quer dizer que o que realmente importa vai magicamente ser resolvido.

Essas tarefas importantes só vão se acumulando, e isso pesa psicologicamente. Além disso, elas invadem o nosso tempo de descanso – aquele momento que seria para recarregar as baterias com sono, exercício, lazer ou tempo com quem a gente gosta.
O burnout virou um problema mundial. Ele custa caro para o bem-estar das pessoas e também para as empresas, que perdem milhões em produtividade.
O burnout, inclusive, é uma das principais razões pelas quais as pessoas pedem demissão. Também leva ao famoso “desengajamento” – o que, segundo o relatório State of the Global Workplace 2021, da Gallup, pode custar para as empresas até 34% do salário anual de um funcionário desengajado.
DÊ PRIORIDADE AO TEMPO DE PENSAR EM CONJUNTO
Com essa tripla epidemia de algoritmos, distrações e burnout, os recursos mais preciosos hoje deixaram de ser tempo e dinheiro: agora são energia e atenção.
Para combater isso, precisamos despertar mais a curiosidade. Estimule e valorize o tempo para pensar. Pergunte mais nas conversas do dia a dia, incentive sua equipe a construir ideias juntos. Crie momentos regulares para que o time possa refletir, reorganizar prioridades e se reorientar – como, por exemplo, workshops de planejamento a cada trimestre.
O futuro do trabalho é humano. A nossa capacidade de criar espaços onde as pessoas possam pensar, aprender, se adaptar e crescer é o que vai permitir que os times e as empresas se transformem e sobrevivam.