O que Trump conseguiu com as tarifas? Entenda impactos no Brasil e no mundo
Trump já atingiu alguma das metas de seu plano de tarifas de importação em massa?

Donald Trump é, mais uma vez, centro do debate econômico global após anunciar o plano tarifário de grande escala que ameaçava reconfigurar a ordem comercial mundial e abalar alianças históricas. A medida previa uma tarifa base de 10% sobre todos os países, além de sobretaxas a nações consideradas "infratoras", como a China.
No entanto, após forte reação internacional, o presidente suspendeu a maior parte dessas tarifas por 90 dias — uma pausa tática que levanta uma pergunta inevitável: Trump está mais perto de cumprir os objetivos que traçou com sua política tarifária?
A seguir, confira um panorama das cinco principais metas e do que foi efetivamente alcançado até agora — incluindo os reflexos diretos sobre a economia brasileira.
Pressão sobre Pequim: o confronto que Trump queria
“Tenho grande respeito pela China, mas estavam se aproveitando de nós”, disse Trump, segundo reportagem da BBC. O presidente sempre considerou a China o principal responsável pelos desequilíbrios comerciais norte-americanos e sua estratégia tarifária tinha como alvo direto os produtos chineses.
Mesmo com a suspensão de tarifas para outros países, as medidas contra Pequim permanecem. Para o secretário do Tesouro, Scott Bessent, a China “é o maior problema comercial dos EUA e, de fato, do mundo”.
O embate com a China continua e representa um dos raros pontos em que Trump segue firme, ainda que com custos diplomáticos e econômicos elevados.
Efeito colateral: como o Brasil entrou na linha de fogo
Segundo maior exportador de aço para os EUA, o Brasil pode ser diretamente afetado pela política tarifária de Trump. Com mais da metade de suas exportações de aço destinadas ao mercado americano — um total de US$ 2,9 bilhões só em 2024 — o país pode sofrer com as sobretaxas.
Do lado do Brasil, a tarifa de 25% sobre importação de aço e alumínio para os Estados Unidos, que começou a valer na última quarta (12), tem impacto importante para o setor de metais ferrosos no Brasil, mas baixa repercussão na economia de modo geral.
Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estimou que a tarifa pode gerar queda de 2,19% da produção, contração de 11,27% das exportações do metal e redução de 1,09% das importações. Isso significa que o Brasil terá perda de exportação equivalente a US$ 1,5 bilhão e uma queda de produção de quase 700 mil toneladas em 2025.
O consumidor paga a conta: preços mais altos à vista
“Mais produção interna trará preços mais baixos”, prometeu Trump, ainda de acordo com a BBC. Mas especialistas apontam na direção oposta. A Tax Foundation calculou que uma tarifa universal de 10% elevaria os gastos das famílias americanas em média US$ 1.253 por ano. Os mais pobres seriam os mais afetados.
Embora os preços da energia tenham caído após o anúncio das tarifas — reflexo do temor de recessão global — o efeito sobre o consumidor tende a ser inflacionário, com aumento no custo dos produtos importados e menor concorrência interna.
A política tarifária, em vez de baratear produtos, pode encarecer o custo de vida, afetando especialmente os americanos de menor renda.
Aposta de Trump é na indústria nacional, mas o retorno incerto
Desde os anos 1980, Trump defende tarifas como ferramenta para revitalizar a indústria americana. Com os impostos de importação, a ideia era proteger fábricas locais e incentivar o retorno da produção ao território nacional — o chamado “reshoring”.
Mas os movimentos tarifários instáveis, ora endurecendo, ora recuando, criam um ambiente de incerteza. Empresas tendem a adiar investimentos enquanto esperam por regras mais claras.
O efeito desejado de “superalimentar” a indústria doméstica ainda não se concretizou, e o comportamento errático do governo desencoraja apostas de longo prazo.
Receita bilionária ou miragem fiscal?
Trump afirmou que as tarifas renderiam “trilhões de dólares” e ajudariam a reduzir a dívida americana. Projeções da Tax Foundation indicam que uma tarifa universal de 10% geraria cerca de US$ 2 trilhões em dez anos. Mas, para efeito de comparação, os cortes de impostos do Congresso custariam US$ 5 trilhões no mesmo período.
Além disso, se os consumidores migrarem para produtos nacionais ou de países isentos, a arrecadação com tarifas pode cair drasticamente. O potencial arrecadatório existe, mas não é garantido. E pode não ser suficiente para equilibrar o orçamento como Trump prometeu.
Negociações em andamento: oportunidade ou blefe de Trump?
Trump diz que mais de 75 líderes mundiais o procuraram para negociar e fazer concessões comerciais. Países como Coreia do Sul e Japão já iniciaram tratativas com os EUA, de acordo com a BBC. O Brasil mantém o canal diplomático aberto, embora pressione por uma resolução justa.
A pausa de 90 dias nas tarifas pode ser estratégica: uma forma de forçar acordos rápidos antes de reativar as medidas. Há espaço para renegociação e Trump parece ciente disso. Mas o tempo está correndo e os parceiros comerciais já demonstram descontentamento.