Como a dinâmica da família influencia nossa personalidade no trabalho

O jeito como você se relacionava com sua família na infância pode dizer muito sobre seu comportamento hoje no ambiente profissional

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Stephanie Vozza 5 minutos de leitura

Pense na sua infância: qual era seu papel na dinâmica familiar? Você era o aluno exemplar? Aquele que evitava chamar atenção? Ou talvez fosse quem cuidava dos irmãos? Na sua casa, como era a dinâmica da família?

De acordo com Alexandra Solomon, psicóloga clínica e apresentadora da série sobre como lidar com a ansiedade “In Practice”, da plataforma de cursos online MasterClass, esses papéis que assumimos na infância acabam influenciando o jeito como agimos no trabalho.

“Às vezes, repetimos os mesmos padrões da infância na vida adulta; outras, vamos no caminho oposto”, explica ela. “Temos o caminho da repetição e o da oposição. O ideal seria seguir um terceiro: o da integração.”

Com base em padrões comuns, Solomon identificou seis papéis que costumamos assumir dentro da família. Em geral, as pessoas se reconhecem em um ou dois deles. Esses papéis podem mudar ao longo da vida, especialmente após grandes transformações familiares, como uma separação, a morte de um parente ou a saída de um irmão mais velho de casa.

Segundo a psicóloga, cada papel tem uma dupla função: “A criança assume esse papel tanto para se sentir amada e incluída quanto para ajudar a manter o equilíbrio do sistema familiar.”

Cada papel tem uma função com duas partes. “O indivíduo assume esse papel numa tentativa de pertencer e de conquistar o amor”, ela diz. “E a pessoa assume esse papel numa tentativa de estabilizar o sistema [familiar].”

1. O perfeccionista

O “perfeccionista” é aquela criança que tenta conquistar amor através de um  desempenho impecável. Seja como o aluno nota 10 ou o atleta talentoso, ela tenta trazer orgulho e estabilidade para a família.

No trabalho, costuma se destacar pela competência. “Se você der uma tarefa para essa pessoa, pode confiar que será bem feita”, diz Solomon. “O problema é que os perfeccionistas tendem a ser exigentes demais – com os outros e, principalmente, consigo mesmos.”

2. O tranquilo

O “tranquilo” busca amor sendo fácil de lidar. Ele ajuda a manter a paz dentro da família justamente por não causar problemas – algo que costuma acontecer em lares com pais sobrecarregados e estressados. Essa criança tenta facilitar a vida de todos, exigindo pouco e se adaptando à dinâmica da família.

No trabalho, seu ponto forte é a flexibilidade. Esse tipo de pessoa se encaixa facilmente em qualquer função e faz o que for preciso sem reclamar. Mas, por não colocar suas próprias necessidades em primeiro plano, pode acabar se sentindo invisível ou desvalorizada.

3. O problemático

Essa é a criança que geralmente chama mais atenção. Esse papel está ligado a um conceito da terapia familiar chamado “paciente identificado” – quando os pais levam o filho à terapia dizendo “nosso filho tem um problema”.

Às vezes, ela assume esse papel para proteger os pais dos seus próprios conflitos conjugais. Para manter a paz, pode concordar com um deles, desde que isso evite brigas entre os dois. Mas também é possível que esteja enfrentando problemas reais.

No trabalho, esse perfil costuma ser um excelente defensor de causas e colegas. Como já passou por diversos desafios, sabe como oferecer acolhimento. Seu principal desafio é ser mais independente.

4. O pacificador

O “pacificador” é aquele que tenta manter todos em harmonia. Desde pequeno, aprende a resolver conflitos e busca agradar os dois lados, especialmente quando os pais estão em desacordo.

No ambiente de trabalho, se destaca por ser justo e empático e por ajudar a resolver conflitos. Tem uma grande capacidade de escuta e não tem medo de se envolver em situações delicadas.

Por outro lado, vive tão atento ao ambiente e tentando evitar crises que pode acabar se desconectando de si mesmo – tendo dificuldade de perceber e expressar o que sente.

5. O cuidador

Esse é o tipo de criança que busca amor cuidando dos outros – especialmente dos próprios pais. Diferente do pacificador, ela não tenta resolver os problemas, mas sim oferecer apoio emocional. Tende a agir como um adulto dentro de casa para manter a dinâmica da família.

No trabalho, costuma ser aquela pessoa que todo mundo procura quando precisa de ajuda. Tem muita empatia e senso de acolhimento. Mas precisa aprender a impor limites e lembrar que seu valor não está ligado ao quanto cuida dos outros.

6. O rebelde

Por fim, o rebelde é aquele que não tem medo de dizer que algo está errado. Ele busca amor sendo verdadeiro e dizendo o que ninguém mais quer dizer. Sua forma de tentar contribuir é colocando os problemas em pauta.

No ambiente de trabalho, esse tipo de pessoa se destaca pela coragem. É quem levanta a mão quando ninguém quer falar. Por outro lado, pode ter dificuldade em se adaptar a regras ou trabalhar em grupo, já que construiu sua identidade em oposição à estrutura estabelecida.

DINÂMICA DE FAMÍLIA COM COLEGAS DE TRABALHO

Entender que levamos papéis familiares para o ambiente de trabalho pode ajudar a criar hipóteses sobre por que seus colegas agem da maneira que agem – e isso pode fazer com que você reaja menos ao comportamento deles.

“Se eu observo meu colega chamando a atenção do chefe repetidamente para tudo o que fez, posso começar a imaginar se ele não era o ‘perfeito’ da família, e se a única forma que ele conhece de se sentir seguro e pertencente é provar seu valor sempre”, diz Solomon.

Às vezes, repetimos os mesmos padrões da infância na vida adulta; outras, vamos no caminho oposto.

“Talvez você consiga ter compaixão. Se você perceber que isso é uma ferida da família de origem, pode levar menos para o lado pessoal. Eles estão agindo assim porque acreditam que é o que precisam fazer para serem vistos como valiosos.”

Estresse e ansiedade são inevitáveis no trabalho. A boa notícia é que não somos vítimas indefesas. “Há coisas que não podemos mudar no ambiente de trabalho, no estado do mundo, no comportamento dos outros, ou no que nos aconteceu no passado”, ela diz.

“Mas podemos ter mais clareza sobre por que vemos as coisas da forma como vemos. A experiência de fazer algo diferente num momento difícil reforça a confiança em si mesmo.”


SOBRE A AUTORA

Stephanie Vozza escreve sobre produtividade e carreira na Fast Company. saiba mais