Sabia que existe o estresse bom e o ruim? Descubra aqui qual é qual

Dizem que “o que não te mata te fortalece”. Será verdade?

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Stephanie Vozza 4 minutos de leitura

Se você já ouviu falar do filósofo Friedrich Nietzsche ou se é fã da cantora Kelly Clarkson, provavelmente conhece a frase “o que não te mata, te fortalece.”

Embora soe como mais um lema que ajuda a aguentar os perrengues da vida, a frase também tem base científica. É o que garante Jeff Krasno, autor de "Good Stress: The Health Benefits of Doing Hard Things" (Estresse bom: os benefícios de fazer coisas difíceis).

“O estresse – seja físico, como um banho de gelo, ou mental, como conversas difíceis – ajuda a construir resiliência e bem-estar a longo prazo”, explica Krasno. “O segredo está em saber diferenciar o estresse bom do estresse ruim e usar o primeiro a seu favor.”

Para entender essa diferença, Krasno dá um exemplo bem fácil de visualizar:

“Se você estivesse fazendo trilha e encontrasse uma cascavel no caminho, seu corpo teria uma resposta de estresse – e, nesse caso, isso é útil, porque serve ao seu instinto de sobrevivência. O problema do estresse moderno é que, para muita gente, essa ‘cascavel’ nunca sai do caminho.”

Muitos vivem em um estado constante de agitação, seja por dificuldades pessoais, excesso de trabalho, traumas do passado ou pelo bombardeio de redes sociais que alimentam medo, polêmica e indignação 24 horas por dia.

“Vivemos na economia da atenção, com todo mundo disputando o seu foco o tempo inteiro, usando sensacionalismo e escândalo. Isso mantém as pessoas num estado de estresse crônico, e é aí que o estresse vira um problema sério”, diz Krasno.

AFINAL, O QUE É O ESTRESSE BOM?

Segundo Krasno, o estresse bom vem de desconfortos que nossos antepassados viviam. “A humanidade evoluiu ao longo de centenas de milhares de anos lidando com ‘estresses paleolíticos’: falta de comida, mudanças de temperatura, imersão na natureza, vida em comunidade, exposição à luz natural”, explica ele.

Assim, o corpo humano desenvolveu mecanismos de adaptação a esses tipos de estresse, o que criou caminhos fisiológicos que nos ajudam a viver mais e melhor.

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O problema é que, hoje em dia, nós praticamente eliminamos da vida moderna esses desafios da época paleolítica. Vivemos sentados, em ambientes climatizados, longe da natureza e cercados de luz artificial, o que pode até atrapalhar o sono.

“A busca por conforto teve um preço. Estamos observando o aumento dos casos de doenças crônicas justamente por causa das ‘facilidades generalizadas’ que criamos desde a Revolução Industrial e, especialmente, nas últimas cinco décadas”, diz Krasno.

COMO REINTRODUZIR O ESTRESSE BOM NA SUA VIDA

A saída é equilibrar o estresse ruim com uma dose certa de estresse bom. Como dizia o médico suíço Paracelso, no século 16, é a dose que faz o veneno. Ou seja, um pouco de desconforto controlado pode te fortalecer, desde que seja medido com cuidado.

Por exemplo, não é recomendável que alguém que nunca fez um banho gelado comece com água a 1ºC. “Comece com um banho a 15°C. Veja como seu corpo reage. Encontre o limite do seu desconforto, se aproxime dele com curiosidade – porque geralmente há algo muito bom do outro lado”, ensina Krasno.

Ele também defende o que chama de “estresse social saudável”, ou seja, se colocar em situações desconfortáveis, como conversas difíceis, por exemplo. “Chamo isso de mergulhar no ‘banho gelado’ das conversas estressantes. Aos poucos, você se acostuma com o desconforto e consegue se curar de muita coisa.”

O ser humano não é um produto final, é um processo. Abraçar o desconforto pode mudar a sua vida.

Como apresentador do podcast  Commune, que trata de saúde e bem-estar, Krasno recebe muitos comentários de pessoas que discordam de suas ideias. Em vez de ignorar ou responder com grosseria, ele convida essas pessoas para conversar em uma chamada de vídeo. “Crio um ambiente seguro, sendo educado, aberto e curioso.”

Segundo ele, isso foi uma forma de fortalecer o próprio “sistema imunológico psicológico” – da mesma forma que nosso corpo se fortalece ao entrar em contato com vírus e bactérias.

Além disso, essas conversas viraram um exercício de escuta ativa, empatia e crescimento pessoal. “Me fez refletir sobre minhas opiniões, porque tive que levar em conta os melhores argumentos do outro lado.”

O DESCONFORTO PODE MUDAR SUA VIDA

As pessoas costumam ficar presas nas histórias que contam sobre si mesmas. Mas Krasno acredita que é possível mudar, se você estiver disposto a encarar o desconforto.

“Abraçar o desconforto pode mudar totalmente a sua trajetória. O ser humano não é um produto final, é um processo. Estamos sempre se movendo entre saúde, doença e caos. Mas dá para se mover em direção à integridade e ao equilíbrio. Você tem o poder de escolher seu caminho nessa jornada.”


SOBRE A AUTORA

Stephanie Vozza escreve sobre produtividade e carreira na Fast Company. saiba mais