Elon Musk vai se afastar do DOGE, mas qual herança ele deixa atrás de si?

Saída acontece em meio a demissões em massa de funcionários públicos, reveses políticos e queda nas vendas e no preço das ações da Tesla

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Chris Stokel-Walker 3 minutos de leitura

Levou pouco mais de cinco meses, mas agora parece cada vez mais provável que o “bromance” entre Elon Musk e Donald Trump esteja chegando ao fim. Segundo relatos, Musk está planejando deixar seu cargo à frente do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês). De fato, a saída de Musk do governo já vinha sendo antecipada há semanas.

Durante a mais recente teleconferência de resultados da Tesla, esta semana, Musk afirmou: “minha dedicação ao DOGE vai diminuir bastante” no próximo mês – embora tenha ressaltado que ainda pretende continuar dedicando algum tempo a questões governamentais no futuro.

O anúncio veio no momento em que a Tesla divulgou resultados surpreendentemente fracos e a mudança de foco de Musk pareceu funcionar como um paraquedas para um negócio em queda livre. Após suas declarações, e diante da expectativa de que ele voltaria a se concentrar na empresa, o preço das ações subiu.

“Foi uma saída estratégica de Musk da Casa Branca”, afirma Dan Ives, diretor executivo e analista de pesquisa de ações da Wedbush Securities. “O dano à marca, o furacão político e a tempestade perfeita de caos dos últimos meses vão agora encerrar esse capítulo político para ele.”

O que a saída de Musk significa para a agência quase governamental que ele está deixando para trás ainda é incerto. Trump promoveu com entusiasmo as potenciais economias que o DOGE traria aos contribuintes dos EUA – embora não esteja claro se essas ações realmente geraram as economias propagandeadas pela administração.

Cary Cooper, professor de psicologia organizacional na Universidade de Manchester, acredita que Trump continuará o trabalho do DOGE ao indicar outro empreendedor ou magnata dos negócios para liderar a agência. “Ele vai escolher outro empresário, disso não há dúvida”, afirma.

O novo chefe do DOGE pode não se sentir obrigado a seguir o infame e-mail dos “cinco itens” de Musk, que exigia que os funcionários do governo justificassem seus cargos relatando cinco realizações da semana anterior. Ainda assim, Cooper acredita que a missão vai continuar.

“Pode ter sido Musk quem abriu o caminho, mas acho que Trump também quer isso, porque ele vê o funcionalismo público como sendo de esquerda”, diz Cooper. O DOGE continua sendo a ferramenta do presidente para promover essa agenda.

EFEITOS DA SAÍDA DE MUSK DO GOVERNO PARA SUAS EMPRESAS

Quanto às empresas para as quais Musk está retornando, as opiniões estão divididas. A reputação da Tesla e o preço de suas ações sofreram com demissões em massa de funcionários federais e decisões polêmicas que impactaram muitas famílias.

Ives e a Wedbush Securities acreditam que a passagem do empresário pelo governo e sua aparente insensibilidade vão reduzir a demanda de longo prazo pelos veículos da Tesla em até 10%. Musk não respondeu ao pedido de comentário da Fast Company.

A aposta é que Trump indique outro empreendedor ou magnata dos negócios para liderar o DOGE.

Ainda assim, apesar dos recentes reveses financeiros da montadora – incluindo uma queda de quase 10% na receita –, Ives continua otimista quanto ao futuro da empresa. “Este foi o momento de fechar um capítulo sombrio e abrir um mais promissor para a história da Tesla, com foco em autonomia e robótica”, afirma.

Alguns veem a saída de Musk do governo e seu retorno ao setor privado como uma jogada estratégica para salvar sua marca pessoal. “A imagem dele está danificada”, diz Cooper. “Ele é visto como uma pessoa de extrema-direita que não se importa com nada além de ajudar os ricos como ele a sobreviver.”

Embora ele possa ter sustentado essas opiniões por anos, foi seu papel altamente visível no governo que as consolidou aos olhos do público. Por isso, os desafios enfrentados pelo empresário e homem mais rico do mundo só aumentam. Mas Musk já enfrentou crises antes – e provavelmente fará de tudo para virar o jogo.


SOBRE O AUTOR

Chris Stokel-Walker é um jornalista britânico com trabalhos publicados regularmente em veículos, como Wired, The Economist e Insider saiba mais