5 perguntas para Marcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da Nvidia

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Redação Fast Company Brasil 5 minutos de leitura

A terceira edição do Web Summit Rio começa nesta segunda-feira (dia 28) e um dos destaques da programação é Marcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da Nvidia para a América Latina. Ele vai levar para o palco um olhar sobre a evolução da inteligência artificial e sobre o futuro próximo, muito próximo, da tecnologia. 

Fundada em 1993, a Nvidia é uma das “estrelas” do mercado de inteligência artificial. A empresa passou de criadora de processadores voltados para games para uma das principais fornecedoras de infraestrutura para a IA.

Ela fornece as GPUs (unidades de processamento gráfico) necessárias para processar grandes quantidades de dados, o que é essencial ao treinamento de modelos de linguagem. 

Quase 70% das GPUs usadas atualmente no setor são da Nvidia. No ano passado, a companhia passou a Apple como a mais valiosa do mundo, sendo avaliada em mais de US$ 3 trilhões. 

Em um momento no qual o avanço da inteligência artificial levanta desafios em relação à privacidade e ao impacto ambiental, Aguiar trata sobre o que há para o futuro – próximo – da tecnologia. 

FC Brasil – Quais são os planos da Nvidia para o Brasil? Em quais setores a empresa está contribuindo de maneira mais significativa?

Marcio Aguiar – A Nvidia é uma empresa de soluções computacionais. Desenvolvemos plataformas de software, APIs e interfaces usadas em mais de 600 softwares, em áreas que vão de design à indústria de óleo e gás.

No Brasil, estamos alinhados com o Plano Brasileiro de IA, que prevê a construção de oito data centers voltados para o agronegócio, saúde, finanças, manufatura e computação de alto desempenho.

Atuamos também próximos de universidades e startups, formando novos pesquisadores e acelerando a inovação.
Hoje, o principal setor de atuação da Nvidia no Brasil é o de energia, especialmente óleo e gás, com a Petrobras como um dos nossos maiores clientes. Trabalhamos em áreas de exploração e produção, simulando perfurações e minimizando impactos ambientais.

Também temos forte presença em manufatura, finanças – com grandes bancos e fintechs –, saúde, com a plataforma Nvidia Clara, e mídia e entretenimento, tanto no gaming quanto em produções de shows e novelas. Embora muita gente tenha conhecido a Nvidia só recentemente, nós já estamos presentes nessas áreas há mais de uma década.

FC Brasil – O que você vai apresentar no Web Summit Rio 2025?

Marcio Aguiar – Vou falar sobre a evolução da inteligência artificial. Todo mundo fala de IA, mas é importante lembrar que ela é uma técnica, não um produto. Dentro dessa técnica, passamos por várias fases: começamos com reconhecimento e classificação de imagem, depois vieram o reconhecimento de voz e a tradução de texto.

Mais recentemente, tivemos o salto da IA generativa, que abriu muitas portas – permitindo transformar texto em imagens, áudio, música e vice-versa.


vemos uma oportunidade única de transformar o Brasil em um polo de IA.

Agora estamos entrando na era dos agentes de IA, que têm capacidade de raciocinar, perceber melhor o ambiente e auxiliar o ser humano em tarefas relevantes, como na saúde e na manufatura.

O foco da minha apresentação será mostrar que a evolução é contínua: a inteligência artificial é uma ferramenta poderosa, mas seu impacto depende de como escolhemos usá-la.

FC Brasil – Como você vê o mercado brasileiro e da América Latina em relação não só à adoção, mas também à produção de inteligência artificial?

Marcio Aguiar – É de suma importância que o Brasil e a América Latina deixem de ser apenas consumidores para se tornarem produtores de tecnologia de IA. A inteligência artificial é acessível para empresas de qualquer porte, não apenas para grandes corporações.

No Brasil, temos talentos extraordinários em institutos e universidades, mas algumas barreiras políticas e tributárias dificultam o acesso a supercomputadores e infraestrutura local.

Mesmo assim, o cenário está mudando. O governo atual tem sido mais receptivo à inovação, e vemos uma oportunidade única de transformar o país em um polo de IA, retendo talentos e atraindo investimentos.

FC Brasil – Falamos sobre como o brasileiro tem criatividade para "fazer mais com menos". Na sua opinião, existe algum desafio cultural que ainda precisa ser superado para impulsionar a inovação?

Marcio Aguiar – Quando converso com empresas de menor porte, startups ou pesquisadores, vejo projetos excelentes. Mas ainda temos uma tendência de achar que "não está 100% pronto", que "precisa melhorar aqui, melhorar al"'.

Enquanto isso, em outros países, especialmente os chamados de primeiro mundo, as empresas colocam seus produtos no mercado mesmo inacabados, apresentam como se fossem a melhor ferramenta e vão evoluindo a partir da demanda dos clientes.


É isso que tento passar para o pessoal: faz o projeto, apresenta para o cliente, aprende junto, coleta mais dados e vai aprimorando. A interação entre as duas partes faz os dois crescerem.


O Brasil tem empresas de excelência, como a Embraer, e cientistas brilhantes – muitos dos quais são contratados pela própria Nvidia, porque se destacam em programas de computação e matemática. Temos institutos de pesquisa muito fortes.

Mas ainda enfrentamos barreiras estruturais: o custo para acesso a supercomputadores no país é alto, e isso acaba levando muitas empresas a investir em infraestrutura no exterior.

Se esses investimentos fossem feitos localmente, geraríamos mais empregos, conhecimento e desenvolvimento. A oportunidade existe – e o momento de preparar a força de trabalho e investir em infraestrutura é agora.

FC Brasil – Você já está há um bom tempo no mercado de tecnologia. O que ainda te surpreende hoje? E como você imagina onde estaremos em 10 anos?

Marcio Aguiar – O que mais impressiona é o grau de maturidade que alcançamos em inteligência artificial, especialmente no processamento de linguagem e voz.

Na Nvidia, nosso foco sempre foi estar à frente do mercado. Isso significa lançar inovações que já foram testadas, validadas e incorporadas internamente, antes mesmo de anunciarmos. Quando algo chega ao público, a gente já está um passo à frente.


Mas, sinceramente, não trabalhamos com a lógica de "10 anos à frente". O que nos guia é: o que podemos fazer hoje ou, no máximo, nos próximos seis meses para nossos clientes? Esse é o nosso horizonte. E conseguimos fazer isso porque construímos, ao longo de 15 anos, uma base sólida de software e estrutura computacional.

Cada avanço que fazemos em uma indústria – como saúde, finanças ou óleo e gás – também fortalece as outras. É uma evolução integrada. Para nós, o futuro não é algo distante, ele é construído em blocos pequenos, continuamente.


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