Assuma o controle do conflito antes que o conflito assuma o seu controle

Quanto mais você treinar sua habilidade para lidar com desentendimentos, mais vai perceber melhorias nos seus relacionamentos e conexões

Crédito: marchmeena29/ Getty Images

Robert Bordone e Joel Salinas 4 minutos de leitura

Em vez de enxergar os conflitos como uma briga a ser vencida ou uma confusão a ser evitada, dá para encarar os desentendimentos de uma forma que gere conexão e traga resultados positivos – tanto no lado profissional/ financeiro quanto nas relações pessoais. Vale a pena sair da zona de conforto e explorar os benefícios que um envolvimento honesto, direto e corajoso com o conflito pode trazer.

A seguir, os autores Robert Bordone e Joel Salinas compartilham cinco aprendizados importantes do seu livro deles, "Conflict Resilience: Negotiating Disagreement Without Giving Up or Giving In" (Resiliência em conflitos: como negociar discordâncias sem desistir nem se render).

1. Seu cérebro reage ao conflito como se fosse uma ameaça física

Quando enfrentamos um conflito, o cérebro reage como se estivéssemos sendo atacados fisicamente. As mesmas áreas que processam dor física são ativadas quando sentimos rejeição social ou quando alguém discorda de nós.

Isso pode ativar aquelas reações automáticas: lutar, fugir, congelar, tentar agradar ou remoer. Ficamos ou agressivos demais, ou fugimos da situação, ou travamos no problema.

Essas reações faziam sentido lá atrás, quando a ameaça podia ser literalmente pôr em risco a nossa sobrevivência. Mas nos relacionamentos do dia a dia de hoje, esse tipo de resposta pode atrapalhar mais do que ajudar. O cérebro tenta nos proteger do desconforto imediato, mas isso nos impede de reagir de formas que seriam melhores a longo prazo.

A chave para desenvolver resiliência em conflitos é reconhecer essas reações automáticas, dar uma pausa e pensar: “será que isso é mesmo uma ameaça? Ou é só algo que está me incomodando?” E, a partir disso, aplicar estratégias que ajudem a lidar com esse desconforto – porque, do outro lado do conflito, pode haver uma “oferta maior e melhor”.

2. Evitar o conflito só piora a situação

Quando evitamos o desconforto de um desentendimento – seja saindo discretamente, cancelando planos ou mudando de assunto –, geralmente estamos só empurrando o problema com a barriga. Só que a vontade de evitar o confronto, com a intenção de preservar a relação, pode acabar matando essa relação a longo prazo.

A sociedade facilita essa tendência de fugir das divergências: redes sociais, bolhas de afinidade, avisos de gatilho, cultura do cancelamento... tudo isso faz com que pareça mais fácil simplesmente conviver apenas com quem pensa igual a nós.

O problema é que isso acaba afastando as pessoas e desumanizando as diferenças, como podemos observar claramente no mundo polarizado de hoje.

Assim como evitar academia enfraquece os músculos, evitar conversas difíceis enfraquece nossa capacidade de lidar com desentendimentos. Quando aprendemos a identificar o que está acontecendo – nossas emoções, gatilhos e medos –, conseguimos tomar as rédeas da situação em vez de deixar que o conflito nos controle.

3. Curiosidade é a sua melhor arma

Costumamos entrar em um conflito achando que já sabemos exatamente o que o outro pensa. Mas a verdadeira resiliência em conflitos vem da curiosidade.

Em vez de rebater ou se defender, tente investigar: faça perguntas abertas, ouça de verdade e tente compreender o outro antes de querer ser entendido. Quando a pessoa sente que foi ouvida, a conversa fica muito mais fácil de levar.

Nosso cérebro tende a achar que sabe tudo sobre quem pensa diferente de nós. Mas, na verdade, muitas vezes estamos perdendo informações importantes que podem abrir caminhos para entender melhor o outro – o que ele valoriza, como convencê-lo, como se conectar com ele.

Quanto mais exploramos a perspectiva de quem discorda de nós, maiores as chances de criar conexão, mesmo que as opiniões continuem diferentes.

4. Discordar não é ofender

Um dos maiores mitos sobre conflito é que ele é, por natureza, ruim ou destrutivo. Mas o conflito saudável mostra que as pessoas se sentem livres para ser quem são, e que há diversidade suficiente no grupo para tornar a convivência interessante e dinâmica.

Discordar não precisa gerar divisão. A tensão pode gerar crescimento, tanto pessoal quanto nos relacionamentos. O segredo é saber como lidar com o conflito para alcançar aquela tal “oferta maior e melhor”.

É preciso avaliar quando vale a pena continuar engajado em um debate e quando é hora de traçar um limite entre desconforto produtivo e exposição a danos ou traumas contínuos. Essa linha é difícil de identificar, mas superimportante.

5. Resiliência pode ser aprendida

Ninguém nasce sabendo lidar bem com conflito. Cada um de nós tem um nível diferente de resiliência a esse tipo de situação, que pode ser influenciado por criação, personalidade, traumas etc.

Mas, seja você alguém que encara qualquer briga ou que foge de qualquer tensão, é possível melhorar, com prática.

Por meio de pequenas atitudes no dia a dia – como dar uma pausa antes de reagir, reconhecer suas emoções e trocar a reatividade pela curiosidade – é possível transformar o conflito de uma fonte de estresse em uma oportunidade de conexão e mudança.

Quanto mais você pratica, mais vai notar que os relacionamentos, conexões e resultados melhoram. E, com o tempo, tudo isso vai ficando mais natural.

Este texto foi publicado originalmente no Next Big Idea Club e reproduzido com permissão. Leia o artigo original


SOBRE O AUTOR

Robert Bordone é especialista em mediação e resolução de conflitos, fundador da Escola de Negociação de Harvard e do Instituto de Neg... saiba mais