“IA não é futuro do trabalho: é o presente”, diz VP da IBM
No Web Summit Rio, Justina Nixon-Saintil sublinha a necessidade de reduzir o medo, os riscos e os vieses da inteligência artificial. IBM anuncia parceria com Instituto Caldeira para ensino da tecnologia para jovens

O Web Summit Rio mostrou que a inteligência artificial já faz parte do presente do mercado de trabalho. Se ela não for democratizada agora, pode aprofundar as desigualdades sociais e os vieses perigosos dos sistemas. É o que explica a vice-presidente e diretora global de impacto da IBM, Justina Nixon-Saintil.
A executiva apresentou uma nova parceria do IBM SkillsBuild, programa de ensino da gigante de tecnologia, com o Instituto Caldeira, do Rio Grande do Sul. Juntos, eles querem capacitar até 7 mil jovens da rede pública com noções de inteligência artificial, habilidades digitais e mentorias profissionais.
“Antes, dizíamos que estávamos preparando os jovens para o futuro do trabalho. Mas esse futuro já chegou e exige fluência em IA agora”, disse Justina à Fast Company Brasil.
De acordo com o Fórum Econômico Mundial, 39% dos empreendedores reconhecem estar com as habilidades desatualizadas para o mercado de IA. Além disso, pesquisa recente da IBM e da Morning Consult revela que 76% dos desenvolvedores não se consideram especialistas em IA generativa. Isso mostra como o crescimento da IA generativa agravou a lacuna de habilidades existente entre as funções.
Justina afirma que, diante do avanço acelerado da IA, surge outro obstáculo que não é apenas técnico, é emocional. “Precisamos remover o medo. Quando você entende como a tecnologia funciona, deixa de temê-la e consegue usá-la a seu favor.”
Queremos entender como o aprendizado se traduz em empregabilidade e empreendedorismo.
Para ela, programas educativos que desmistificam a tecnologia são fundamentais para evitar que comunidades vulneráveis fiquem para trás.
A formação oferecida pela IBM parte dos conceitos básicos – como o uso de assistentes virtuais, a importância da engenharia de prompt e a compreensão sobre viés algorítmico – e avança para temas como agentes de IA capazes de executar ações.
“O jovem precisa saber o que significa inserir seus dados em um assistente virtual. Precisa entender os riscos e saber como se proteger. Engenharia de prompt é uma habilidade real e começa com uma boa pergunta.”
IA COMO FERRAMENTA DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
Desde 2018, a IBM desenvolve diretrizes para mitigar vieses em seus sistemas de IA e criou um comitê interno de ética, do qual Justina Nixon-Saintil faz parte. Ela defende que profissionais das áreas de impacto social estejam presentes nas discussões técnicas para garantir que as tecnologias atendam, de fato, aos interesses da sociedade.
“Todo modelo de linguagem tem viés. Se não houver diversidade nas equipes e escuta ativa das comunidades mais vulneráveis, o risco é ampliarmos desigualdades em vez de reduzi-las”, alerta.
Ela vê a IA não como ameaça, mas como oportunidade. especialmente quando usada para enfrentar desafios reais, como os que afetam o Brasil, citando como exemplo uma parceria com o Instituto Igua, voltada à gestão hídrica em comunidades periféricas.
O projeto com o Instituto Caldeira busca democratizar o acesso à IA por meio de trilhas formativas sobre fundamentos técnicos, uso ético, viés algorítmico e engenharia de prompts. Para ela, é ainda mais necessário o ato de ensinar jovens que passaram por um desastre ambiental como do Rio Grande do Sul.

“Os jovens que estamos formando são os mesmos que viveram esse impacto. Eles sabem o que está em jogo e podem usar a tecnologia para mudar sua realidade”, acredita Justina Nixon-Saintil.
Os estudantes também terão acesso a mentorias com profissionais da IBM, que atuam em áreas diversas como engenharia de software, vendas, RH e pesquisa. “A mentoria faz a ponte entre o que o jovem aprende e como esse conhecimento é aplicado na prática. Isso muda tudo”, diz a executiva.
A atuação da IBM em ética e governança de IA não é recente. Desde 2018, a empresa criou diretrizes específicas para reduzir viéses em seus sistemas e passou a integrar comitês internos de avaliação responsável.
Justina, que também integra o conselho de ética da IBM, destaca que profissionais de impacto social precisam estar presentes nas decisões sobre o desenvolvimento tecnológico. “Todo modelo de linguagem tem viés. Se não houver diversidade nas equipes e escuta ativa das comunidades mais vulneráveis, o risco é ampliarmos desigualdades em vez de reduzi-las.”
ESCALA E IMPACTO
A IBM estabeleceu a meta de capacitar 30 milhões de pessoas globalmente até 2030. Até o final de 2024, 16 milhões já haviam passado pelas formações gratuitas da empresa. Segundo Justina Nixon-Saintil, a chave está em combinar escala com impacto real.
“O acesso aberto permite alcançar muita gente. Mas é nas parcerias mais próximas, como essa no Brasil, que conseguimos acompanhar de perto os resultados: pessoas conseguindo emprego, criando soluções, mudando suas comunidades.”
Ela cita como exemplo um programa na Índia, onde mais de 30 mil participantes conseguiram melhores oportunidades de trabalho após passarem pela formação. “Queremos entender cada vez mais como o aprendizado se traduz em empregabilidade e empreendedorismo.”
UM FUTURO EM CONSTRUÇÃO
A vice-presidente da IBM evita fazer previsões distantes, mas aponta a computação quântica como uma das tecnologias que devem dominar o cenário nos próximos anos. “Eu mesma estou estudando o tema. O que importa é que estejamos prontos para aprender continuamente.”
Para ela, preparar jovens para o futuro não é apenas uma questão de inserção no mercado. É uma questão de participação: “Eles não devem apenas usar essas tecnologias – devem estar prontos para criar as próximas.”