Artistas cancelam contas na SoudCloud por uso de suas músicas para treinar IA

O uso de dados para treinar IA tem se tornado prática comum entre empresas de tecnologia, mesmo sem permissão explícita dos usuários

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Jessica Bursztynsky 3 minutos de leitura

A plataforma de compartilhamento de músicas SoundCloud está enfrentando uma onda de críticas nas redes sociais após usuários descobrirem que suas faixas podem estar sendo usadas para treinar sistemas de inteligência artificial (IA). Criadores passaram a excluir suas contas em protesto contra os termos de uso atualizados da empresa.

Segundo os termos do serviço da SoundCloud, atualizados em fevereiro de 2024, os usuários concordam que seu conteúdo pode ser utilizado para “informar, treinar, desenvolver ou servir como insumo para tecnologias ou serviços de inteligência artificial ou inteligência de máquina, como parte da prestação dos serviços”, salvo se houver acordo separado estabelecendo o contrário.

A polêmica veio à tona após reportagem do site "Futurism", que destacou as preocupações de artistas. O duo musical The Flight foi um dos primeiros a chamar atenção para a cláusula, publicando: “ok então... apagamos todas as nossas músicas do SoundCloud e estamos encerrando a conta”, em postagem na rede Bluesky. Outro usuário respondeu: “valeu pelo aviso. Acabei de excluir minha conta.”

Procurada, a SoundCloud afirmou que acredita no potencial da IA para ampliar a criatividade dos artistas, mas defende que seu uso deve ocorrer com consentimento, atribuição e remuneração justa.

“Jamais utilizamos conteúdo de artistas para treinar modelos de IA, não desenvolvemos ferramentas de IA, nem permitimos que terceiros coletem ou usem conteúdo da plataforma para esse fim”, declarou um porta-voz por e-mail.

“Implementamos proteções técnicas, como uma tag ‘no AI’, para proibir explicitamente usos não autorizados. A atualização de fevereiro de 2024 teve como objetivo esclarecer como o conteúdo pode interagir com tecnologias de IA dentro da própria plataforma. Isso inclui recomendações personalizadas, organização de conteúdo, detecção de fraudes e melhorias na identificação de faixas.”

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O uso de dados para treinar IA tem se tornado prática comum entre empresas de tecnologia, que vêm revisando suas políticas de uso para incluir permissões relacionadas à inteligência artificial. Em novembro, a rede social X/ Twitter também alterou seus termos para permitir o treinamento de modelos com base no conteúdo dos usuários.

Diante dessas mudanças, a Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC) alertou, em fevereiro, que companhias podem estar infringindo a lei ao alterar sem alarde suas políticas de privacidade para permitir o uso de dados em treinamentos de IA sem o devido aviso aos consumidores.

“Pode ser injusto ou enganoso adotar práticas de dados mais permissivas – como compartilhar informações com terceiros ou usá-las para treinar IA – e notificar os usuários apenas por meio de emendas retroativas aos termos de uso ou política de privacidade”, advertiu a agência em comunicado.

Em novembro, a SoundCloud lançou seis novas ferramentas voltadas à criação musical.

Críticos vêm defendendo que as empresas ofereçam opções claras de exclusão ou, melhor ainda, peçam consentimento explícito para o uso de conteúdo em sistemas de inteligência artificial.

A exemplo de outras empresas do setor, a SoundCloud tem investido em recursos baseados em IA. Em novembro, lançou seis novas ferramentas voltadas à criação musical e aderiu ao compromisso ético “Principles for Music Creation With AI” (Princípios para criação de música com IA), do coletivo AI For Music.

“A SoundCloud está abrindo caminho para um futuro onde a IA desbloqueia o potencial criativo e torna a produção musical acessível a milhões, mantendo práticas éticas e responsáveis”, afirmou o CEO Eliah Seton em publicação no blog oficial da empresa.


SOBRE A AUTORA

Jessica Bursztynsky é redatora da Fast Company e cobre economia gig e outras empresas de internet de consumo. saiba mais