YouTube Shorts quer crescer ainda mais com o (possível) fim do TikTok nos EUA
Líder de produto da plataforma fala sobre ajustes no algoritmo e a importância de ouvir os criadores

Quando a Índia baniu o TikTok em 2020, o YouTube reagiu lançando um recurso de vídeos curtos com uma experiência semelhante. Menos de um ano depois, esse formato foi lançado globalmente como YouTube Shorts, permitindo que criadores publiquem vídeos verticais de até 180 segundos.
Hoje, a plataforma acumula 1,5 bilhão de usuários e recebe, em média, 70 bilhões de visualizações por dia.
O YouTube já é o segundo site mais acessado do mundo e vem construindo, há anos, um ecossistema sólido para criadores. Todd Sherman, líder de produto do YouTube Shorts, participou do podcast Most Innovative Companies para falar sobre como a equipe está trabalhando com criadores, ajustando o algoritmo do Shorts e encarando a concorrência com o TikTok.
Fast Company – Já se passaram cinco anos desde o lançamento do YouTube Shorts na Índia. Por que criar esse produto e por que começar por lá?
Todd Sherman – Queríamos entrar no universo dos vídeos curtos. Acreditávamos que esse formato daria voz a uma nova geração de criadores e seria uma forma divertida de consumir conteúdo ao longo do dia.
A Índia era o lugar certo para começar: há uma grande variedade de dispositivos Android por lá, muitos deles de entrada. É um país com uma população enorme e cheia de pessoas criativas – queríamos marcar presença nesse mercado.
Fast Company – O algoritmo do YouTube Shorts funciona da mesma forma que o do YouTube tradicional?
Todd Sherman – Há várias diferenças, principalmente porque o volume de vídeos assistidos é muito maior no formato curto.
A abordagem precisa ser diferente quando as pessoas assistem centenas de vídeos por dia, de temas e criadores diversos, em comparação com aqueles que assistem 10 ou 15 vídeos longos.
No caso dos vídeos curtos, conseguimos apresentar novidades com mais facilidade, porque o “custo do erro” é bem menor.
Fast Company – Quem assiste aos Shorts costuma buscar vídeos mais longos dos mesmos criadores?
Todd Sherman – Sim, isso acontece. Mas também usamos tecnologia para entender melhor o conteúdo. Trabalhamos com um conceito chamado embedding space, que é um espaço multidimensional onde agrupamos vídeos semelhantes, curtos ou longos.

Se um usuário assistir vídeos curtos sobre adestramento de cães, por exemplo, conseguimos entender que ele pode gostar de vídeos longos sobre o mesmo tema e passamos a recomendá-los com base nisso.
Fast Company – No ano passado, os vídeos do YouTube Shorts passaram de um para três minutos. Por quê?
Todd Sherman – A gente está sempre ouvindo os criadores. Em eventos, eu costumava perguntar o que eles queriam ver na plataforma. Muitos criadores que trabalham com narrativas, roteiros e diálogos pediam um pouco mais de espaço para desenvolver suas histórias.
Foi aí que percebemos que dava para estender o limite sem perder a essência do formato curto. Vídeos com cerca de um minuto e 45 segundos costumam ter mais estrutura, com começo, meio e fim, e queremos que esse tipo de história também possa ser contada no YouTube.
Fast Company – Recentemente vocês mudaram a forma como as visualizações são contabilizadas. Qual foi o motivo?
Todd Sherman – No YouTube tradicional, a maior parte do engajamento é de pessoas que escolhem ativamente assistir a um vídeo – clicando ou tocando nele. É uma ação intencional.
Com a reprodução automática, passamos a tratar esse comportamento como equivalente a um clique. Então, criamos um tempo mínimo de exibição para que fosse contabilizado como view – e isso também foi aplicado no YouTube Shorts.
Há diferenças em relação ao YouTube tradicional porque o volume de vídeos assistidos é muito maior no formato curto.
Só que ouvimos de muitos criadores, principalmente os novos, que esperavam ver visualizações assim que alguém começava a assistir ao vídeo. Muitos diziam: “tive zero views, ninguém viu meu vídeo.” Mas, na verdade, o conteúdo foi exibido – só que não passou do tempo mínimo exigido para contar como visualização.
No Shorts, como o engajamento vem principalmente de quem está rolando o feed, decidimos mudar esse critério. Agora, toda vez que o vídeo é assistido, conta como view, independentemente do tempo de reprodução – porque essa é justamente a lógica do produto: o vídeo começa automaticamente assim que aparece na tela.