3 pistas de que você corre mais risco de sofrer burnout que seus colegas
Algumas situações e características pessoais podem nos levar mais rápido ao burnout. Será que você está mais em risco do que a maioria?

O burnout (ou esgotamento profissional, em bom português) é um problema super comum, que pode ser bem prejudicial paras as pessoas e custar muito caro para as empresas. Oito em cada 10 trabalhadores se sentem em risco de burnout, o que pode custar às empresas em média US$ 21 mil por ano por pessoa em produtividade perdida (dados referentes aos EUA).
Apesar das muitas dicas sobre como prevenir o burnout, a verdade é que nem todo mundo começa essa corrida do mesmo ponto de largada. Algumas situações deixam certas pessoas mais vulneráveis. Entenda três situações que podem deixar um determinado funcionário mais propenso ao burnout do que seus colegas:
1. Se você está no ambiente de trabalho errado
Algumas pessoas estão realmente mais sujeitas ao burnout, especialmente quem trabalha em ambientes que não têm nada a ver com seu jeito de ser ou seu temperamento, explica Kandi Wiens, pesquisadora sênior da Universidade da Pensilvânia e diretora do programa de mestrado em educação médica da universidade.
Segundo ela, o esgotamento, principalmente no ambiente profissional, “no fim das contas é uma questão de desalinhamento, ou o que alguns chamam de incompatibilidade, entre a personalidade ou o temperamento da pessoa e o ambiente em que ela está inserida”.
Por exemplo: se você é uma pessoa extrovertida e teve que trabalhar em home office durante a pandemia de Covid-19, isso pode ter gerado burnout, enquanto colegas mais introvertidos podem ter se sentido até bem nesse contexto.
Se você é curioso e mente aberta, mas sua empresa desestimula qualquer tipo de questionamento ou experimentação, o burnout também pode chegar mais rápido.
Um sinal de que você pode estar no ambiente errado é sentir resistência constante ao estilo ou à mentalidade da empresa. Wiens sugere prestar atenção nesses sinais e se observar. “Tente conversar sobre isso com alguém de confiança. Como seria falar sobre isso de uma forma saudável para você?”.
2. Se você tem tendência a querer agradar todo mundo
Algumas pessoas estão sempre se esforçando demais para agradar os outros no trabalho e não conseguem impor limites saudáveis. Esse tipo de comportamento é uma resposta híbrida ao trauma – uma alternativa ao clássico “lutar, fugir ou congelar”.
“É como se você ficasse hiper sintonizados com os outros, tentando agradar, num estado de hiperativação. Mas, ao mesmo tempo, tem um lado de hipoativação, no qual você se desconecta de si mesmo e nem percebe que está agindo assim”, explica a psicóloga clínica Ingrid Clayton.

Ela cita como exemplo um advogado formado em Harvard, parceiro de um grande escritório, que mostrava vários sinais de burnout. Ao trabalhar no caso, ela o ajudou a perceber que a busca por validação externa e a dificuldade de impor limites estavam sendo muito prejudiciais. Esse comportamento extremo de querer agradar nos faz aceitar trabalho demais, nos sobrecarregar e, claro, chegar ao burnout.
“Nosso valor fica atrelado a fatores externos, em vez de uma conexão interna com quem a gente realmente é”, diz Clayton. “O burnout não é só uma questão de esgotamento por fazer demais. É também sobre perder autonomia, autenticidade e até o senso de identidade. É como viver em modo de sobrevivência 24 horas por dia. Não fomos feitos para viver assim.”
3. Se você tem pouca consciência de si mesmo e dificuldade de se defender
Quando você enfrenta problemas no trabalho – seja porque o ambiente não combina com quem você é, seja porque está entrando naquele modo de querer agradar todo mundo –, saber se defender é uma ferramenta poderosa contra o burnout.
Mas, segundo Wiens, o primeiro passo é a autoconsciência: entender o que está gerando atrito com seu jeito de ser. A partir disso, você pode começar a pensar em estratégias para lidar com a situação.
Por exemplo: se você é extrovertido e está se sentindo isolado, pode buscar maneiras de se conectar com outras pessoas. Se sua criatividade está sendo podada, pode encontrar outras formas de se expressar.

Wiens propõe a seguinte reflexão: “o que, nesse ambiente, está desalinhado com algo em mim? O que eu posso fazer para mudar isso ou mudar a forma como eu enxergo isso?”. Ela ressalta que quem tem dificuldade de se entender e de examinar seus próprios sentimentos enfrenta um obstáculo sério na hora de lidar com as causas do esgotamento no trabalho.
Clayton completa: se você não consegue se defender – seja para pedir o que precisa ou para impor limites quando for necessário –, pode estar muito mais exposto ao burnout.
COMO COMBATER O BURNOUT
Impor limites é algo que se aprende e se treina, como um músculo. Comece pedindo o que você precisa em situações simples – como fazer um pedido específico num restaurante, por exemplo –, só para ir pegando o hábito.
“Tem gente que acha graça nisso porque nunca teve dificuldade de se impor em público. Mas, se você nunca teve uma experiência de se posicionar e se sentir seguro ou bem-sucedido fazendo isso, precisa começar a criar essa referência,” explica.
Vários fatores podem contribuir para o burnout, mas esses três – ambiente errado, tendência a querer agradar demais e falta de consciência ou de mecanismos de defesa pessoal – podem acelerar bastante esse processo. A boa notícia é que, com consciência e prática, dá sim para se proteger melhor desse problema que afeta tanta gente.