Esta cidade na Índia está usando tinta refletiva para combater o calor extremo

Em Ahmedabad, tinta refletiva e borrifadores de água em pontos de ônibus ajudam a população a lidar com as altas temperaturas

Crédito: halbergman/ Getty Images

Sibi Arasu 3 minutos de leitura

O calor extremo já castiga milhões de indianos. Em Ahmedabad, uma das cidades mais populosas do país, os termômetros já bateram os 42 °C este ano – temperaturas que costumam surgir apenas semanas mais tarde. Diante disso, autoridades municipais reforçaram os alertas para que a população fique em casa e se mantenha hidratada.

Lidar com o calor intenso não é novidade em Ahmedabad. Porém, após uma onda de calor em 2010 que matou mais de 1,3 mil pessoas, autoridades de saúde se mobilizaram rapidamente para criar o primeiro plano de ação contra o calor no sul da Ásia.

Lançado em 2013, o plano foi adotado em diversas outras regiões do país e do continente. Ele oferece diretrizes práticas para hospitais, governos e cidadãos agirem quando as temperaturas ultrapassam os limites suportáveis. Segundo especialistas em saúde pública, a iniciativa tem salvado centenas de vidas a cada verão.

Com apoio de pesquisadores da área climática e da saúde, a cidade implementou soluções simples e de baixo custo para proteger os mais vulneráveis, especialmente aqueles que trabalham ao ar livre e pessoas de baixa renda.

Uma das estratégias é a pintura de telhados de zinco com tinta refletiva, o que ajuda a reduzir a temperatura interna das casas em até 5 °C. Recentemente, a cidade também instalou cortinas de palha e borrifadores de água em pontos de ônibus. Moradores relatam que essas medidas têm feito diferença, ainda que esperem enfrentar pelo menos mais três meses de verão intenso.

UMA DEMÃO DE TINTA REFLETIVA FAZ TODA A DIFERENÇA

Nos bairros mais pobres, centenas de residências com telhados de zinco receberam a aplicação da tinta refletiva. Antes da intervenção, os moradores passavam a maior parte do tempo do lado de fora, em qualquer sombra possível, devido ao calor insuportável dentro das casas.

Os primeiros resultados animam. “Depois que pintaram o telhado, a casa ficou bem mais fresca, principalmente à noite”, contou Akashbhai Thakor, motorista de entregas que vive com a esposa e o filho de três meses.

a cidade implementou soluções simples e de baixo custo para proteger os mais vulneráveis.

A casa de Thakor foi uma das incluídas em um projeto de pesquisa que busca medir os impactos do chamado “telhado frio”.

Segundo Priya Bhavsar, do Instituto Indiano de Saúde Pública de Gandhinagar, os trabalhadores informais como Thakor são os mais vulneráveis ao calor extremo. Suas casas não têm isolamento térmico e, como dependem de renda diária, precisam trabalhar mesmo sob altas temperaturas.

Para essa parcela da população, soluções acessíveis podem ser a única esperança, já que comprar um ar-condicionado está fora de cogitação.

PONTO DE ÔNIBUS VIROU OÁSIS CONTRA O CALOR

No centro de Ahmedabad, um ponto de ônibus de 25 metros de extensão passou a oferecer alívio instantâneo com uma instalação simples: esteiras de palha foram penduradas e borrifadas com água, resfriando o vento quente. No teto, pequenos aspersores jogam uma leve névoa sobre os passageiros que aguardam o transporte.

“Antes disso aqui, era muito quente. Idosos como eu agora conseguem um pouco de alívio”, disse Ratilal Bhoire, de 77 anos. Ele lembra que, em sua juventude, o calor era intenso, mas ainda era possível caminhar quilômetros sob o sol. “Hoje em dia, é impossível.”

O calor é o maior desafio da cidade, e as ondas de calor – dias consecutivos de temperaturas extremas – estão se tornando mais frequentes, afirmou Tejas Shah, responsável pela coordenação do plano de ação contra o calor da prefeitura de Ahmedabad. “Vivemos uma era de mudanças climáticas e os efeitos já são visíveis.”

Segundo Shah, a chegada do verão é um teste constante para a cidade, mas medidas como telhados pintados com tinta refletiva e pontos de ônibus refrigerados estão ajudando a reduzir doenças e mortes causadas pelo calor.


SOBRE O AUTOR

Sibi Arasu é repórter da Associated Press. saiba mais