As promessas não cumpridas das redes sociais em 5 anos de Black Lives Matter

A morte de George Floyd nos EUA em maio de 2020 provocou reações das plataformas para combater o racismo e a discriminação – mas a coisa esfriou

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Chris Stokel-Walker 4 minutos de leitura

Há cinco anos, George Floyd, um homem negro de 46 anos, foi assassinado por um policial da cidade de Minneapolis, nos EUA. Ele foi preso por, suspostamente, ter tendo passar uma nota falsa de US$ 20. O policial Derek Chauvin pressionou seu joelho sobre o pescoço de Floyd por mais de oito minutos, o que provocou sua morte por sufocamento.

A morte de Floyd desencadeou uma série de protestos nos Estados Unidos que deram nova energia ao movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam). À época, a sensação é de que o movimento conseguiria provocar mudanças sociais significativas, tanto no ambiente digital quanto no real.

Quando os protestos que surgiram a partir da morte de Floyd atingiram seu ápice, em junho de 2020, o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, escreveu uma mensagem comovente.

"Aos membros da nossa comunidade negra: estou com vocês. Suas vidas importam. Vidas negras importam", disse Zuckerberg, ao prometer que a Meta revisaria suas políticas de conteúdo para coibir o discurso de ódio.

Ao mesmo tempo, plataformas como o Twitter (agora X) resolveram limitar o alcance das postagens do então presidente Donald Trump, depois que ele alertou os manifestantes em Minneapolis em resposta à morte de Floyd: "Quando os saques começarem, os tiroteios vão começar."

O Reddit também atualizou sua política contra discurso de ódio. O TikTok teve que se desculpar por seu algoritmo ter retirado conteúdo do Black Lives Matter.

É sob a perspectiva da ameaça de perder dinheiro que as decisões das big techs estão sendo tomadas.

Cinco anos após esses eventos, muita coisa mudou, incluindo a tolerância das mídias sociais a discursos de ódio, incitação à violência e racismo.

"Dado o retrocesso de muitas políticas favoráveis ​​à diversidade, equidade e inclusão, eu diria que podemos perceber o quanto essas abordagens eram apenas um tipo de performance", diz Carolina Are, pesquisadora do Centro de Cidadãos Digitais da Universidade de Northumbria.

"As plataformas de redes sociais são empresas privadas, não instituições públicas – apesar de sua participação excessiva no espaço online. Por isso, elas sempre vão buscar proteger seus resultados financeiros", diz Tèmítópé Lasade-Anderson, diretora executiva da Glitch, uma instituição de caridade focada em direitos digitais.

BLACK LIVES MATTER E O GOVERNO TRUMP

Talvez um dos exemplos mais óbvios desse retrocesso tenha sido o encerramento, pela Meta, de seus principais programas de DEI para contratação, treinamento e seleção de fornecedores, em resposta a uma "mudança" na abordagem da questão da diversidade e inclisão nos Estados Unidos.

Essa mudança ocorreu em janeiro, assim que Trump reassumiu a presidência. A facilidade com que esses programas foram revogados mostra bem o grau de firmeza das empresas de tecnologia na manutenção das políticas anunciadas logo após a morte de Floyd e os protestos do Black Lives Matter.

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"Empresas de todos os tipos estão reduzindo visivelmente os programas de DEI para funcionários e as plataformas de redes sociais não são exceção", afirma Daphne Keller, diretora do programa de regulamentação de plataformas do Centro de Política Cibernética da Universidade Stanford.

Para ela, a mudança não está apenas tentando refletir os ventos políticos. "O governo Trump deixou claro que as empresas correm o risco de ter fusões multimilionárias bloqueadas ou contratos com o governo rescindidos se não eliminarem os esforços para diversificar a contratação, o treinamento e a promoção."

É sob essa perspectiva – empresas de tecnologia ameaçadas de perder dinheiro – que as decisões estão sendo tomadas, avalia Keller. A Meta não respondeu a um pedido de comentário para esta matéria.

A PLATAFORMA DE "LIBERDADE DE EXPRESSÃO"

No caso de Elon Musk, depois que ele assumiu o Twitter, a empresa adotou novas políticas para permitir mais liberdade, segundo o novo dono, para que as pessoas dissessem coisas que poderiam ser ofensivas, mas não ilegais, ao mesmo tempo em que restringia o uso de outros termos, como cisgênero.

Discursos de ódio e tuítes racistas aumentaram quase pela metade no período após Musk assumir o controle da plataforma, de acordo com um estudo de fevereiro de 2025 realizado por pesquisadores da Escola de Engenharia Viterbi, da USC. Nem Musk nem a assessoria de imprensa do X responderam a um pedido de comentário sobre esta matéria.

"Em geral, eu diria que as plataformas têm se alinhado com iniciativas anti-DEI, mostrando que suas posturas pró-BLM eram só fachada", diz Are.

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A mudança nas políticas da Meta em janeiro foi duramente criticada por algumas das mesmas organizações de direitos civis às quais a rede social costumava recorrer para pedir conselhos sobre suas decisões.

A plataforma demonstrou um "desrespeito cínico" pela diversidade de sua base de usuários, dizia uma carta organizada pela organização sem fins lucrativos Common Cause.

No entanto, o último relatório de transparência da Meta mostra que o discurso de ódio caiu no Facebook: a média era de um usuário que se deparava com cerca de 10 postagens contendo o discurso para cada 10 mil que via. Hoje são cerca de dois, segundo a empresa.

Mas esses dados são anteriores à grande mudança implementada em janeiro. O que parece acontecer cinco anos depois dos manifestantes do Black Lives Matter gritando "Sem justiça, sem paz" nas ruas dos EUA terá que esperar pelo próximo relatório de transparência da Meta.


SOBRE O AUTOR

Chris Stokel-Walker é um jornalista britânico com trabalhos publicados regularmente em veículos, como Wired, The Economist e Insider saiba mais