Como se recusar a atender um pedido antiético sem se prejudicar no trabalho

Estratégia ajuda você a manter seus valores sem colocar seu emprego em risco

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Justin Jones-Fosu 4 minutos de leitura

Há alguns anos, um executivo de vendas com quem trabalhei passou por uma situação delicada. Sua empresa estava prestes a ser vendida e seu diretor pediu que ele apresentasse uma versão da história que, embora tecnicamente verdadeira, deixava de fora informações importantes. A dúvida que surgiu era se se tratava de um pedido antiético

O objetivo era passar uma imagem mais sólida da empresa, garantindo uma boa avaliação de mercado e preservando os cargos da liderança após a venda.

Ele sabia que não era exatamente uma mentira, mas também não se sentia confortável. Aquilo era só uma jogada de marketing ou havia um problema ético envolvido? Como lidar com isso sem colocar em risco sua reputação e seu futuro na empresa?

Ele optou por uma terceira via. Em vez de simplesmente se recusar – o que poderia prejudicar sua carreira –, começou fazendo perguntas. Quis entender qual era o verdadeiro objetivo da liderança com aquela apresentação. Havia uma forma de contar uma história mais completa, reconhecendo os desafios, mas também destacando o potencial futuro?

No fim, conseguiu convencer a liderança a reformular a mensagem, focando em como a empresa havia aprendido com as dificuldades e estava pronta para evoluir. Não foi uma maquiagem dos fatos. Foi uma abordagem honesta, otimista e voltada para o futuro. O CEO elogiou o resultado e o executivo preservou sua integridade sem prejudicar a carreira.

Uma pesquisa do Instituto de Ética nos Negócios do Reino Unido mostra que um em cada três profissionais já se sentiu pressionado a fazer algo que comprometesse os valores da empresa. Muitos acabam cedendo por medo – de retaliações, de serem vistos como problemáticos ou de perderem espaço. Mas há maneiras de manter seus princípios sem colocar a carreira em risco.

ENTENDA SE É MESMO UM PEDIDO ANTIÉTICO

Quando nos deparamos com um pedido duvidoso, geralmente reagimos de duas formas: aceitamos calados, por medo, ou recusamos de imediato, correndo o risco de perder o emprego. Mas existe uma terceira opção: tentar entender melhor o contexto.

Nem todo pedido que gera desconforto é, de fato, antiético. Pode ser apenas uma falha de comunicação ou algo que vai contra seus valores pessoais, mas não necessariamente contra os da empresa. Veja três dicas sobre o que fazer nesses casos:

  • Busque esclarecimento: comece tentando entender melhor o que está sendo pedido. Pode ser que o problema não seja ético, mas apenas uma questão de desconforto pessoal.
  • Questione: entenda qual é o objetivo com aquele pedido e se a solução apresentada é realmente a melhor. Às vezes, perguntas bem-feitas fazem o próprio líder repensar a abordagem.
  • Redirecione: sempre que possível, sugira uma alternativa que atinja o mesmo objetivo sem comprometer seus princípios. Em vez de esconder o problema, por exemplo, mostre como os desafios impulsionaram melhorias ou inovações.

Muitas vezes, quem faz o pedido está aberto a outras ideias – só não havia pensado nelas ainda.

ANTIÉTICO OU ILEGAL?

Se, mesmo depois de esclarecer e questionar, algo ainda parecer errado, é importante entender se é o caso de um pedido antiético, questionável, ou se ultrapassa os limites da legalidade. Essa distinção é essencial para decidir os próximos passos.

Se for ilegal, é preciso agir com cuidado. Caso se sinta seguro, comece a registrar a conversa por e-mail – embora seja possível que o gestor evite se comprometer por escrito. Se sua empresa tiver um RH, vale reportar a situação e explicar seu desconforto.

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Um conhecido que trabalha com compliance viveu isso na prática. Seu gerente pediu que ele alterasse dados – o que seria uma violação clara das normas internas.

Ele respondeu por e-mail, explicando por que o pedido era ilegal e citando o regulamento da empresa. Nunca mais recebeu esse tipo de solicitação. Às vezes, apenas deixar claro o que está em jogo já é suficiente para encerrar o assunto.

Agora, se o pedido for apenas antiético, mas não ilegal, a decisão é mais pessoal e deve levar em conta o que vai deixar você mais tranquilo no futuro.

O MÉTODO DE MINIMIZAÇÃO DO ARREPENDIMENTO

Se você está passando por uma situação como essa, já é sinal de que não é algo simples. Não existe um manual à prova de falhas. Às vezes, mesmo agindo com ética, a pessoa pode sofrer consequências ou ter a carreira afetada. É por isso que sugiro aplicar o que chamamos de critério do arrependimento.

Pergunte a si mesmo: daqui a 10 anos, vou me arrepender de como agi nessa situação?

é importante entender se é um pedido antiético, questionável ou se ultrapassa os limites da legalidade.

Esse é o princípio do método de minimização do arrependimento, popularizado por Jeff Bezos. Ele não garante o melhor resultado imediato, mas ajuda a fazer escolhas que evitam arrependimentos no longo prazo.

Ao usar esse método, você deixa de pensar apenas se vai manter o emprego no mês seguinte. Passa a refletir sobre qual versão de si mesmo quer proteger, a de agora ou a de daqui a uma década. Você quer ser a pessoa que se calou para não criar problema ou alguém que manteve seus princípios quando mais importava?

Isso não significa denunciar a empresa ou sair discutindo com todo mundo. Significa agir da forma mais coerente possível com seus princípios – para que, no futuro, possa olhar para trás com a consciência tranquila de que fez o melhor que podia com as informações e os recursos que tinha.


SOBRE O AUTOR

Justin Jones-Fosu é fundador da consultoria Work.Meaningful e autor do Livro "I Respectfully Disagree" (Respeitosamente, discordo). saiba mais