ESG: é sobre grana

Ou encontramos um caminho para que lucro e regeneração se acoplem, ou teremos que frear bruscamente a economia global

Crédito: Dinachi e Just/ Super/ Getty Images

Erlana Castro 2 minutos de leitura

Há uma expectativa recorrente de posicionar o ESG como uma agenda alternativa ao capitalismo. Mas ESG é, essencialmente, capitalismo – só que evoluído. Sua tese central é simples e provocativa: lucrar regenerando e regenerar lucrando.

Ou seja, os mecanismos fundamentais do sistema (lucro, consumo etc.) não desaparecem, mas produzem um novo output: reconstruir e regenerar em vez de apenas explorar e oprimir. Integrar lucro e regeneração.

Isso significa que as empresas podem e devem embarcar na agenda ESG por razões meramente capitalistas: crescer, lucrar e perpetuar. A pergunta não é mais “como ser sustentável sem comprometer o lucro?”, mas “como lucrar a partir da regeneração?”. Será possível? Esse é o grande desafio criativo do ESG.

FIM DO MUNDO VERSUS FIM DO CAPITALISMO

Há uma frase famosa do filósofo britânico Mark Fisher, no livro "Realismo Capitalista", mas eu a ouvi da boca do antropólogo Eduardo Viveiro de Castro, em uma conversa com o líder indígena Aílton Krenak.

Aqui reside o cerne da big idea do ESG. Se não há um cenário realista onde o capitalismo desapareça, então a única saída é fazer do lucro e do consumo um mecanismo de regeneração.

O processo produtivo humano precisa criar regeneração em escala. Ou encontramos um caminho para que lucro e regeneração se acoplem, ou teremos que frear bruscamente a produção global como vimos na pandemia: golfinhos na baía de Guanabara, águas cristalinas em Veneza, céu azul em Xangai.

UMA NOVA EQUAÇÃO QUE INCLUA LUCRO E REGENERAÇÃO

A ideia de que o lucro seja o principal meio para gerar regeneração pode parecer distopia, até causar desconforto aos colegas “regeneradores” e aos “lucradores” de carteirinha. O poder dessa abordagem, porém, reside justamente na provocação: o ESG não é negar o capitalismo. É salvar o capitalismo.

Aqui entra o desafio das empresas, dos empreendedores e dos inovadores. ESG não é um modelo pronto, coerente e pacificado, mas sim um exercício de reinvenção, simultâneo, global e em tempo real, aqui e agora.

No Business Model (RE)Generation Canvas, proposto pelo Think Tank #ESGpraJá há, por exemplo, 32 provocações à lógica dos negócios que ajudam a reformular essa nova equação para criação de valor.

O verdadeiro insight não é um dilema, e sim um caminho criativo. Mas, antes, é preciso encarar a sustentável dureza do ESG: é sobre grana.


SOBRE A AUTORA

Erlana Castro é palestrante internacional, autora, pesquisadora independente e professora convidada da Fundação Dom Cabral, fundadora ... saiba mais