Parada do Orgulho de Nova York perde um quarto dos seus patrocinadores

Em todo os EUA, celebrações do Mês do Orgulho sofrem com o recuo de grandes empresas diante dos ataques de Trump à comunidade LGBTQIA+

Crédito: Anton Vierietin/ Getty Images

Grace Snelling 3 minutos de leitura

Na semana passada, a organização responsável pela Parada do Orgulho de Nova York anunciou que um quarto dos seus patrocinadores cancelaram ou reduziram seu apoio. O recuo resultou em um déficit estimado de US$ 750 mil no orçamento, justamente às vésperas do evento mais importante do ano (marcado para 29 de junho).

Segundo Chris Piedmont, diretor de mídia da Heritage of Pride, muitos patrocinadores alegaram incertezas sobre os impactos econômicos das tarifas de importação estabelecidas pelo governo Trump como justificativa para o corte.

Outros, no entanto, disseram estar “preocupados com possíveis represálias do governo atual por apoiarem publicamente a Parada e outras iniciativas ligadas à diversidade, equidade e inclusão (DEI)”.

O movimento não se limita a Nova York – está acontecendo em diversas partes dos EUA. Joanna Schwartz, professora da Universidade Estadual da Geórgia e especialista em marketing voltado à comunidade LGBTQIA+, afirma que, embora as empresas já estivessem mais cautelosas nos últimos anos, o clima político atual aumentou ainda mais o medo de retaliações.

Diante disso, ela ressalta que nunca foi tão importante que as marcas que realmente se importam com a comunidade continuem firmes em seu compromisso, e não simplesmente a abandonem.

Em um comunicado enviado aos apoiadores, a Heritage of Pride informou que pretende arrecadar US$ 25 mil até o dia 30 de junho para ajudar a cobrir o déficit. Embora o número de empresas parceiras tenha subido de 70, no ano passado, para 76 neste ano, o valor total arrecadado caiu consideravelmente.

Segundo o porta-voz Kevin Kilbride, marcas como PepsiCo, Skyy Vodka, Target, Nissan e Mastercard estão entre as que cancelaram o patrocínio, reduziram o apoio ou pediram que seus nomes não fossem vinculados publicamente ao evento.

participantes da Parada do Orgulho de Nova York levam faixa com pedido de doções para a organização do  evento
Crédito: Heritage of Pride

Com isso, a organização deve enfrentar dificuldades para realizar a Parada deste ano. De acordo com o comunicado, a redução de 25% no orçamento pode significar menos carros alegóricos e atrações, além de prejudicar os programas de apoio à comunidade queer de Nova York e afetar a contratação de equipes de segurança.

Esse cenário tem se repetido em várias cidades dos Estados Unidos. Em St. Louis, no estado do Missouri, a Anheuser-Busch – patrocinadora do evento há mais de 30 anos – não renovou seu apoio para 2025. Com a saída de outros parceiros, o déficit chegou a US$ 150 mil.

As empresas que estavam apenas tentando lucrar com a causa foram as primeiras a sair.

Em São Francisco, os organizadores disseram à “Bloomberg”, em abril, que o evento perdeu quase US$ 200 mil após empresas como Anheuser-Busch, Comcast, Benefit Cosmetics e Diageo retirarem seus patrocínios.

Para Piedmont, é “profundamente desanimador” ver marcas recuando diante da pressão pública justamente quando a comunidade LGBTQIA+, em especial as pessoas trans, está sendo alvo de ataques como nunca antes. “Precisamos que empresas e parceiros de todos os tamanhos se posicionem, fiquem do lado certo da história e apoiem toda a comunidade.”

TENDÊNCIA DE RETROCESSO

Algumas empresas têm recuado publicamente em iniciativas de diversidade, mantendo apenas ações internas mais discretas, como grupos de apoio a funcionários LGBTQIA+.

Schwartz também observa uma mudança no tom das marcas: muitas têm evitado qualquer menção direta a pessoas trans ou não-binárias, com medo de se tornarem alvo da mídia conservadora ou da base política ligada a Trump. Para ela, esse receio é o principal motivo pelo qual tantas empresas estão se afastando das celebrações do Mês do Orgulho este ano.

“Algumas dizem que estão ‘reavaliando suas estratégias e ajustando os orçamentos de marketing’. Mas, na prática, é uma maneira educada de dizer que estão com medo – e que não querem assumir isso nem se indispor com a comunidade LGBTQIA+”, explica Schwartz.

Para muitos membros da comunidade, a sensação é de que certas empresas só estiveram presentes enquanto era conveniente. Agora que o apoio público já não traz os mesmos ganhos de imagem, elas estão recuando. No Reddit, usuários têm criado listas de empresas consideradas “amigas de ocasião” por essa mudança de postura.

“A comunidade queer foi totalmente abandonada por várias grandes marcas, de diversos setores”, diz Schwartz. “As empresas que estavam apenas tentando lucrar com a causa foram as primeiras a sair. Nesse sentido, ao menos há um lado positivo: talvez fiquem só aquelas que realmente se importam.”


SOBRE A AUTORA

Grace Snelling é colaboradora da Fast Company e escreve sobre design de produto, branding, publicidade e temas relacionados à geração Z. saiba mais