Americanos aproveitam imagem do Papa Leão XIV para faturar
Animados com a oportunidade, empresas de diferentes setores e portes transformam o novo líder da Igreja Católica, nascido em Chicago, em fontes de receita para empreendedores

Quando a notícia, em 8 de maio, de que o sucessor do Papa Francisco seria o primeiro americano a ocupar o cargo sagrado — mais especificamente um cidadão de Chicago — as comemorações e memes específicos da Cidade dos Ventos explodiram. Não demorou muito para que alguns desses memes se transformassem em camisetas à venda. Afinal, estamos falando de Robert Prevost, um religioso nascido nos Estados Unidos, a maior economia do mundo.
A NOVA ONDA DO PAPA
À medida que a conversa em torno do Papa Leão XIV rapidamente se espalhava para suas inclinações ambientalistas e opiniões políticas, a fonte de mercadorias não autorizadas se espalhava muito além das camisetas com os dizeres "Da Papa".
A expressão faz referência a uma das preferência do novo líder religioso, o clube americano de futebol Chicago Bears. A frase da Bears", que inspirou "Da Papa", serve para identificar a equipe na comunidade e nas notícias esportivas, como uma abreviação.
O que desabrochou nos dias seguintes foi uma economia papal mais ampla, que abrange roupas, memorabilia, comida, turismo e muito mais — tanto nos EUA quanto em Roma. A demanda em ambos os lugares parece ser impulsionada em grande parte pelos americanos.
PARA FRANCISCO ESTIMULOU NEGÓCIOS
O fervor americano por produtos do papa não é inédito, é claro. Uma indústria artesanal pontifícia surgiu em torno da visita do Papa Francisco à Filadélfia em 2015, por exemplo.
Além das camisetas comemorativas do evento, as ruas da Filadélfia estavam repletas de bonecos de pelúcia do papa, recortes de papelão em tamanho real e outros brindes relacionados a Francisco. Havia até queijo do papa, uma bola de mussarela em formato do bispo de Roma.
Considerando que esse nível de entusiasmo empreendedor marcou a ocasião em que um papa em exercício apenas visitava os EUA, não é de se admirar que tantas pessoas tenham encontrado maneiras criativas de capitalizar a ascensão de um americano ao papado.
NÃO HÁ NEGÓCIO COMO O DE UM PAPA
O escopo do império de produtos do papa já é vasto. Ele tem um lado devocional, com vários varejistas online religiosos fazendo fila para vender cartões de oração, retratos emoldurados e um livro instantâneo chamado "Quando a Fumaça Branca Dissipar: Um Guia para os Primeiros Dias do Papa Leão XIV", com data de lançamento prevista para 30 de junho.
A Topps, especialista em cards colecionáveis, ofereceu um card colecionável com o tema do Papa Leão em edição limitada por quatro dias em maio, e supostamente vendeu 133.535 unidades a US$ 8,99 cada.
Uma curiosidade. Embora os cards façam parte de uma coleção especial da Topps que marca momentos significativos do esporte e da cultura, os cards colecionáveis do Papa datam do início do século XX.
Os cards do Papa Leão estão sendo anunciados por até US$ 199 no eBay. Para quem prefere algo um pouco mais tridimensional, o National Bobblehead Hall of Fame and Museum recentemente colocou em pré-venda duas edições separadas do Papa Leão por US$ 30 cada.
Também há conteúdo muito interessante a caminho: o próximo documentário da Castletown Media, Papa Leão XVI: O Caminho de um Pontífice, que deve ser disponibilizado em um futuro serviço de streaming baseado na fé chamado CREDO. Talvez alguns dos muitos espectadores que viram o "Conclave", indicado ao Oscar de 2025, um grande sucesso no streaming durante a eleição do Papa Leão estejam entre os primeiros a assistir.
PAPA VENDE MAIS DO QUE OUTROS ATLETAS
Sem surpresa, Chicago se tornou o epicentro da Papamania nos Estados Unidos. O frenesi por produtos inclui camisas personalizadas do White Sox (equipe de basebol de Chicago), após o irmão do Papa Leão ter dissipado rumores de fanatismo pelo Cubs (clube adversário) e imagens de arquivo confirmando sua credibilidade no time.
A loja de artigos esportivos Grandstand, de Chicago, afirmou à Sports Illustrated que suas camisas do Sox com o nome do Papa estão vendendo mais do que as de qualquer outro jogador do time. A casa do Sox, o Rate Field, tornou público o amor papal do time, instalando um mural dele no estádio.
A conhecida rede de restaurantes Portillo's, de Chicago, também batizou um novo sanduíche de The Leo, que descreve como "carne bovina italiana divinamente temperada, batizada em molho". Enquanto isso, em Evanston, a Bennison’s Bakery está oferecendo biscoitos de edição limitada com a imagem do Papa Leão.
Chicago pode eventualmente se tornar um destino turístico ainda maior para os fiéis. O proprietário da igreja da infância do Papa Leão, agora em condições ruins, Santa Maria da Assunção, na zona sul de Chicago, está supostamente em negociações para converter o espaço em um local de culto para congregações locais, com um banco de alimentos com o nome do novo papa.
O subúrbio da cidade onde ele cresceu pretende comprar a casa de sua infância, que estava à venda, ou obtê-la por meio de desapropriação, e permitir que ela "seja vista e visitada pelo público como um local histórico".
ROMA, O CORAÇÃO DO TURISMO CATÓLICO
Dados do Vaticano, referentes a dezembro de 2022, apontam que a Igreja Católica tem cerca de 1.389.573.000 seguidores em todo o mundo - 17% da população mundial. A maioria está no continente americano, com cerca de 550 milhões de fiéis, o equivalente a 64% a população.
Grande parte do turismo papal, no entanto, está ocorrendo atualmente em Roma. Os americanos já representam o maior segmento de visitas turísticas à capital italiana, com um recorde de 2,5 milhões de visitantes somente em 2024, de acordo com o "The Guardian".
Agora que um americano passou a ocupar a Cátedra de São Pedro na Cidade do Vaticano, vendedores e vários prestadores de serviços estão se preparando para uma invasão total de turistas religiosos.
Empresas de turismo estão relatando um aumento nas reservas para peregrinações, especialmente de americanos. O proprietário do Atlante Star, um hotel em Roma conhecido por sua vista impressionante da Basílica de São Pedro, disse ao "The Guardian", antes da cerimônia de posse do Papa Leão XIV, em 18 de maio, que o hotel estava "em sua maioria lotado de pessoas da América do Norte, e não apenas de peregrinos".
E, assim como em Chicago, donos de estabelecimentos culinários perto do Vaticano, incluindo fabricantes de sorvetes e cervejarias, estão oferecendo doces com o tema do papa para atrair visitantes americanos.
Nas ruas de Roma, alguns vendedores começaram a vender cartazes e lembrancinhas com o nome e a imagem do novo papa 48 horas após sua eleição. Nenhum santinho ou rosário oficial do Papa Leão XIV foi colocado à venda na loja de presentes do Vaticano, nem em muitos outros pontos comerciais de souvenirs pela cidade. Supostamente estariam aguardando "a autorização do dicastério", um departamento dentro do órgão administrativo da Santa Sé, para poder vender itens em homenagem ao novo papa. Esperar parece uma decisão sábia — e não apenas porque isso dará a todos os produtos oficiais restantes do Papa Francisco uma chance de se esgotarem.
PROTEÇÃO DIVINA DE DIREITOS AUTORAIS
O Vaticano, ao que parece, tem um longo histórico de proteção legal da imagem do papa. Em 2009, próximo ao fim do mandato do Papa Bento XVI, a Santa Sé essencialmente declarou direitos autorais divinos.
Citando um "grande aumento de afeto e estima pela pessoa do Santo Padre" como contribuição para o uso mais amplo do nome e da imagem do Pontífice, o Vaticano enfatizou que "somente ele tem o direito de garantir o respeito devido aos Sucessores de Pedro" e, portanto, de proteger o Papa de usos não autorizados de seu nome, imagem ou quaisquer símbolos relacionados.
Talvez inspirado por todos os itens papais que o Papa Francisco e seus assessores teriam visto durante a viagem aos EUA em 2015, o Vaticano partiu para a ofensiva dois anos depois. Em 2017, contratou o escritório de advocacia global Baker McKenzie para proteger os direitos de sua propriedade intelectual (representantes da Baker McKenzie não responderam ao pedido de comentário da Fast Company sobre o trabalho que a empresa pode ter feito, ou continua fazendo, para a Igreja Católica.)
Não está claro quanto tempo levará para o Vaticano autorizar produtos oficiais do Papa Leão XIV. De acordo com a agência de notícias italiana Agenzia Nazionale Stampa Associata, pode levar apenas algumas semanas.
BRECHAS NA PROTEÇÃO DE PROPRIEDADE
Enquanto isso, as almas empreendedoras que vendem bugigangas e sanduíches com o nome do papa parecem estar se aproveitando de um momento de faroeste com a lenta aplicação de marcas registradas.
A longo prazo, as camisetas "Da Pope" feitas nos Estados Unidos se enquadram na permissão de paródia da doutrina do uso justo, mas a loja online de produtos com a audaciosa URL officialpopeleoxiv.com parece destinada a litígios. O operador do site não respondeu a um pedido de comentário, mas a Busca de Domínios WHOIS mostra que ele foi lançado em 9 de maio e opera a partir de Reykjavik, na Islândia.
Varejistas que vendem rosários decorados com o rosto do Papa Leão, e supostamente abençoados por ele, podem operar sem impedimentos por enquanto. No entanto, se alguma pessoa que opere lojas não autorizadas for religiosa, uma punição muito maior do que um litígio poderia servir como dissuasor.
BRASIL, DESTAQUE ENTRE CATÓLICOS
No Brasil, a onda Leão XIV também já chegou. Quem visita centros religiosos católicos, como em Aparecida (no Vale do Paraíba, em SP), já vê a imagem do novo papa por camisetas, canecas e bibelôs. Da mesma forma, quem procura por itens papais também encontra variedade nos marketplaces com operação nacional.
O rápido interesse pelo substituto do Papa Francisco tem explicação: a quantidade de brasileiros católicos. Um estudo citado pelo Vatican News (site oficial do Vaticano), de dezembro de 2021, aponta que o Brasil tem cerca de 106 milhões de católicos. O país tem o maior número de católicos - 13% do total, pelas contas do Vaticano -
No caso do Brasil, cerca de metade de sua população se declara como católica, aponta o pesquisa do instituto Datafolha, com dados de dezembro de 2024.
O TAMANHO DO TURISMO RELIGIOSO
O turismo religioso no Brasil, com adeptos de diferentes religiões seguidas, segundo o Ministério do Turismo, movimenta cerca de R$ 15 bilhões por ano e atrai aproximadamente 17,7 milhões de viajantes. Em 2022, levantamento mais recente, o crescimento foi de 10% registrado em relação ao ano anterior.
Ainda segundo a pasta, destinos como Aparecida, que recebe mais de 12 milhões de visitantes anualmente, e Juazeiro do Norte (CE), com cerca de 2,5 milhões de romeiros por ano, são exemplos do impacto desse tipo de atividade na economia. Belém (PA), com o Círio de Nazaré reúne um público superior a 2 milhões de fiéis. O levantamento cita ainda Trindade (GO), com 1,5 milhão de visitantes durante a Festa do Divino Pai Eterno, e Nova Trento (SC), que atrai cerca de 840 mil turistas aos santuários dedicados a Madre Paulina e Nossa Senhora do Bom Socorro.
Estimativas do setor indicam que o turismo religioso representa cerca de 3% da movimentação econômica do turismo nacional, que totaliza aproximadamente R$ 492 bilhões. O impacto, segundo a pasta, é observado nas economias locais, especialmente nas áreas de hospedagem, transporte, alimentação e comércio, além da geração de empregos temporários e permanentes.