Carne bovina é o novo combustível fóssil no meio ambiente?
Os derivados do petróleo sempre foram o principal foco dos ambientalistas e da sociedade em geral por conta dos impactos ambientais, desde os riscos de extração ao pós-consumo. A conscientização sobre o aquecimento global reforçou ainda mais a atenção sobre a necessidade de rever as matrizes energéticas.
Em paralelo, outras atividades econômicas entraram no rol de análises sobre impactos ambientais, incluindo o ecossistema de alimentação – fundamental para promover, a longo prazo, a evolução da produção em condições sustentáveis que atenda as demandas futuras de alimentos e, mais especificamente, de proteínas. Nesse contexto, a indústria de carne bovina, produto do qual o Brasil é lider mundial, se tornou o centro de atenções.
Seria a carne bovina o novo combustível fóssil? A questão foi levantada por Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade e comunicação corporativa da Marfrig (uma das maiores empresas de carne bovina do mundo), em evento coordenado pela Embrapa Carnes, que contou também com a participação de representantes da Nestlé e da Minerva Foods. A resposta unânime é que a carne bovina não deve ser rotulada e comparada com os derivados do petróleo, ganhando equivalente status de preocupação ambiental.
“Os desafios são imensos, ainda mais num país com a dimensão do Brasil, contando com 2,5 milhões de produtores rurais que atuam com proteína animal. As iniciativas precisam ser endereçadas pelo setor em termos de promover as melhores práticas em toda a cadeia produtiva e consolidar as ações, de modo que sejam demonstráveis, que possam ser divulgadas e promovidas em todo o mundo”, ressalta Paulo.
A gestão ganha complexidade considerando-se que há a necessidade de garantir a origem de procedência dos animais, com mecanismos de monitoramento e rastreabilidade de fornecedores diretos e indiretos, bons tratos no manejo, gestão energética e controle de emissão de metano e de consumo de água.
INVESTIMENTO EM GESTÃO SUSTENTÁVEL
As iniciativas do setor precisam promover e consolidar as melhores práticas em toda a cadeia produtiva.
Há mais de 10 anos, a Marfrig investe na estruturação de práticas de gestão sustentável. O programa Marfrig Verde+ recebeu investimentos de US $30 milhões na gestão da cadeia de fornecedores localizados na Amazônia e no Cerrado. Outros €$ 1,75 milhão estão previstos até 2025 em ações de apoio técnico e ambiental a pequenos produtores. As iniciativas incluirão orientação sobre melhores práticas de produção, assistência técnica para melhoramento genético e do pasto, suporte à legalização fundiária e ambiental, além de auxílio no acesso a linhas de financiamento adequadas.
Hoje, a empresa consegue ter 100% das propriedades fornecedoras diretas monitoradas, sendo que 63,2% desses produtores diretos, com fazendas no Bioma Amazônia, prestaram contas de seus fornecedores quanto as práticas de manejo. Com isso, a empresa passou a ter informações dos fornecedores indiretos. Outros 67,2% dos produtores diretos localizados no Cerrado também enviam informações sobre suas cadeias de valor, dando visibilidade aos fornecedores indiretos.
Tais iniciativas se somam à ampliação do escopo de monitoramento e rastreabilidade, reforçando o compromisso com a transparência das informações e melhoria contínua dos processos. Entre as iniciativas, está o Mapa de Risco de Desmatamento, ferramenta ativada em 2021 que realiza o cruzamento das informações de mapas com vegetação nativa e de produção pecuária, permitindo a identificação de riscos socioambientais nos biomas Amazônico e Cerrado.
Também em 2021 entrou em operação o Conecta, plataforma de rastreabilidade baseada em blockchain. Ela cruza informações sobre fazendas e rebanhos (disponibilizadas pelos fornecedores por meio de um aplicativo) com dados públicos.
A Marfrig obteve ainda 100% de aprovação no Protocolo Unificado “Boi na Linha”, que monitora a procedência de gado da região amazônica, para promover práticas de manejo sustentável e garantir que o gado proceda de áreas livres de desmatamento, que não tenham conflito agrário, e nem estejam sobrepostas a terras indígenas e unidades de conservação, e de produtores que não utilizem trabalho escravo.
CONSOLIDANDO RESULTADOS
o Mapa de Risco de Desmatamento permite a identificação de riscos socioambientais nos biomas Amazônico e Cerrado.
Entre as diversas iniciativas da empresa, a Marfrig teve suas metas de redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE), submetidas no ano passado, aprovadas pela Science Based Targets initiative (SBTi). A companhia brasileira é a única do setor de proteína bovina nas Américas a ter suas metas aprovadas e a se comprometer a limitar o aumento da temperatura global a até 1,5ºC.
A SBTi é uma iniciativa internacional que mobiliza empresas para implementarem metas de redução das emissões de GEE com base na ciência, alinhadas com os esforços necessários para limitar o aquecimento global. “A resposta da SBTi é um reconhecimento do nosso trabalho. Nosso maior desafio está no escopo 3 (emissões de metano pelos animais), que representa 98% de todas as emissões da Marfrig”, diz Paulo Pianez.
Todas as grandes empresas que trabalham com proteína animal no Brasil têm investido em ações que garantam alinhamento com as melhores práticas de sustentabilidade. Durante a Anufood 2022 – Feira Internacional para o Setor de Alimentos e Bebidas (da qual fez parte o evento promovido pela Embrapa Carnes), Nestlé e Minerva também apresentaram diversas iniciativas no sentido de melhorar a qualidade e produtividade na produção de leite e de carne bovina, atreladas a premissas socioambientais, contando com o apoio técnico da Embrapa.