Brasil pode ser o ponto de virada para implementação das metas climáticas

As condições que estão em movimento, a seis meses da COP30, já a colocam como um dos principais eventos geopolíticos desta era

Crédito: Threeart e Pict Rider/ Getty Images

Flora Bitancourt 4 minutos de leitura

O Brasil possui histórico de inaugurar novos ciclos na arena global sobre o clima e a COP30, em Belém, reúne elementos para ser o ponto de virada para a implementação das metas climáticas e de redução das emissões de gases de efeito estufa.

A World Climate Foundation tem participado das COPs nos últimos 15 anos, articulando negociações intersetoriais para a definição de políticas, e vem acompanhando a evolução do entendimento de governos e mercado sobre a urgência nas decisões e atos.

A presidência da COP30 está posicionando com clareza e difundindo globalmente a palavra “mutirão pelo clima”, chamando todos para a ação coletiva. As condições que estão em movimento, a seis meses da cúpula, já a colocam como um dos principais eventos geopolíticos não apenas do ano, mas desta era.

Não se trata de otimismo sem lastro, a despeito das preocupações quanto ao cronograma logístico, existente em todo evento de magnitude. O Brasil é reconhecido globalmente por sua alta capacidade de conduzir reuniões multilaterais.

O país sediou com êxito a Rio92, reunindo líderes de 179 nações, milhares de ONGs, organismos internacionais e representantes de povos e comunidades, naquela que foi a maior conferência sobre o clima, até então.

Nela estabeleceu-se o conceito de desenvolvimento sustentável e foi criada a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), o marco legal para ação conjunta no combate às mudanças climáticas, essencial para que, em 1995, houvesse a primeira COP, em Berlim.

Em 2012, a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, fixou os 17 ODS (objetivos de desenvolvimento sustentável) e lançou consulta global sobre a Agenda 2030, que na COP de dois anos depois seria adotada como prazo para as metas climáticas de redução das emissões, no Acordo de Paris.

A presidência da COP30 está posicionando com clareza e difundindo globalmente a palavra “mutirão pelo clima”.

Dez anos depois, o pragmatismo tem razão de ser com o trabalho em curso para a formação de acordo sobre mecanismos de financiamento, para enfim as nações apertarem o play da economia verde. Estamos a um passo da implementação, envolvendo toda a sociedade e com especial impacto no setor produtivo, que nesses últimos anos vem ampliando a presença nas cúpulas. 

A história tem mostrado que as coalizões precisam ser conduzidas em ambientes específicos. A união em torno de interesses em comum requer esforços. Em um momento tão especial para a agenda 2030, a qualidade dessas frentes é o que permitirá que os atores combinem recursos e influências, ampliando de forma significativa sua capacidade de ação.

Como disse Jens Nielsen, CEO da World Climate Foundation, no Web Summit Rio, “precisamos unir todos os interessados: quem tem os recursos, quem tem as soluções e quem tem poder de decisão devem agir de forma colaborativa e construir alianças para podermos avançar no cumprimento das metas climáticas.”

CONVERSAS PRELIMINARES

Há 15 anos a World Climate Foundation vem atuando para formular ambientes de coalização. Para esta próxima COP, estamos articulando desde Davos, na Suíça, onde promovemos encontros com investidores, empresas e governos, durante o Fórum Econômico Mundial, em janeiro.

Em 26 de junho vamos nos reunir com o mercado no World Climate Investment Summit, evento em parceria com a London Stock Exchange, durante a London Climate Action Week.

Em setembro, estaremos com stakeholders em Nova York, na Climate Week, ampliando as conversas sobre a intersecção entre clima e natureza no World Climate & Biodiversity Summit, e fortalecendo os compromissos e alianças que levaremos à COP.

Crédito: Ildo Frazão/ iStock

E em novembro, em Belém, seremos anfitriões do principal espaço de eventos paralelos que já fizemos em 15 anos, comemorando a 16ª edição do World Climate Summit. Será um dia exclusivo para reunir o setor financeiro na Investment COP, a fim de facilitar as conversas intersetoriais neste momento fundamental para as nações e toda a forma de vida na Terra.

No ano passado, já tivemos o registro de temperatura média superior ao limite de 1,5ºC estabelecido nas metas climáticas do Acordo de Paris, o que torna tudo ainda “mais quente”. Como diz Nielsen, chegou o “momento da verdade para o clima”.

Estamos empenhados de forma especial para ampliar a articulação intersetorial, facilitando os processos e alianças necessárias para acelerar os compromissos com a transição. Com o que temos feito e visto, o Brasil tem tudo para realizar, novamente, mais uma contribuição histórica nas negociações globais do clima.


SOBRE A AUTORA

Flora Bitancourt é líder da World Climate Foundation no Brasil e co-fundadora da Impact Beyond, ecossistema de plataformas de impacto ... saiba mais