Disney planeja construir 1,3 mil moradias de baixo custo na Flórida
Em 1966, quando Walt Disney revelou seu sonho de ser o responsável por um grande projeto no centro da Flórida, ele o chamava de Protótipo Experimental de Comunidade para o Futuro (Experimental Prototype Community of Tomorrow – ou EPCOT, na sigla em inglês). Ele imaginava que aquela seria uma cidade de 20 mil habitantes, com ênfase na experimentação industrial e cívica. Uma cidade utópica, com um pouco da magia dos parques temáticos da Disney logo ao lado.
Mas Disney morreu no final daquele ano, antes que seu sonho pudesse tomar forma. E quando a Disney World abriu, em 1971, aquele seu experimento utópico foi deixado de lado. Em um parque temático totalmente comercial, o EPCOT Center é apenas mais uma dentre as várias atrações.
Mas agora, mais de 50 anos depois, a parte mais urbana do idealismo utópico de Disney está tomando forma. A empresa está anunciando um novo projeto para aumentar seu vasto parque temático com o desenvolvimento de resorts que incluirão 1,3 mil unidades habitacionais a preços acessíveis, situadas em 80 acres de terra ao lado da Disney World.
O projeto ainda está nos estágios iniciais e sujeito a aprovações governamentais, mas a Walt Disney Company espera trabalhar com uma construtora de moradias acessíveis terceirizada (e ainda não identificada) para construir um projeto que, segundo o que vem sendo dito na imprensa, fará “uma diferença importante para resolver um problema local e um dos maiores desafios do país”. A empresa, no entanto, se recusou a disponibilizar um representante para falar sobre esse assunto.
ALUGUEIS EM ALTA
O anúncio da Disney observa que esse tipo de moradia estará disponível para candidatos com qualificação de renda do público em geral, bem como para seus próprios funcionários. Esse é um reconhecimento de que a escassez de moradias populares na região também é um problema para os trabalhadores do conglomerado.
Orlando tem uma carência de mais de 60 mil unidades habitacionais para pessoas de baixa renda.
Na região de Orlando, os aluguéis estão aumentando. O número de moradores que gastam mais de um terço da renda com aluguel está entre os mais altos dos Estados Unidos. Em 2019, a National Low Income Housing Coalition apontou Orlando como a pior cidade do país em termos de moradias acessíveis, com apenas 13 casas a preços baixos para cada 100 locatários de baixa renda.
O relatório estima que a área metropolitana de Orlando tem uma carência de mais de 60 mil unidades habitacionais para aqueles com renda extremamente baixa. Os planos de habitação acessível da Disney claramente não estão acontecendo por acaso.
Muitos funcionários da Disney World ganham US$ 15 por hora, ou o equivalente a apenas US$ 31,2 mil por ano. Construir moradias mais acessíveis é uma maneira de ajudá-los. Outra forma seria aumentar os salários.
Esta não é a primeira incursão da Disney no desenvolvimento imobiliário residencial. A Celebration, comunidade planejada na Flórida inaugurada em 1996, foi um de seus primeiros experimentos na construção de bairros. No início deste ano, a empresa anunciou outro projeto de habitação à venda em grande escala na Califórnia, que pretende criar o que chama de “storyliving”: em bairros temáticos, os moradores “poderão fazer parte da Disney o tempo todo”. Esse projeto também será fruto de parceria com uma construtora.
CASAS DO FUTURO
A Disney não é a única grande empresa de entretenimento a se aventurar no mercado de moradias acessíveis. A Universal Parks and Resorts anunciou recentemente uma parceria com a desenvolvedora de moradias populares Wendover Housing Partners para construir mil unidades de moradia a preços acessíveis e de renda mista em 20 acres de terra perto de seu próprio parque temático na Flórida.
A Universal vai construir mil unidades de moradia a preços acessíveis e de renda mista.
Tendo batizado seu projeto de Housing For Tomorrow, a Universal também reconheceu que a escassez de moradias populares afeta diretamente seus próprios trabalhadores. “Há muito tempo acreditamos na importância de retribuir à comunidade que nos apoiou e ao lugar onde os membros de nossa equipe vivem e criam suas famílias”, diz a empresa no site do projeto.
Para grandes proprietários de terras, como a Disney e a Universal, o desenvolvimento residencial é uma jogada de negócios muito fácil. Em contraste com a expansão do parque temático, a construção de novas casas pode acontecer de forma relativamente rápida. Acrescente uma grave escassez de moradias populares na região, e as oportunidades desse negócio são ainda maiores.
Além disso, ao fazer parceria com desenvolvedores de moradias populares, como cada empresa planeja, seus empreendimentos provavelmente poderão explorar fontes de financiamento subsidiadas pelo governo. Isso reduz ainda mais os custos de desenvolvimento das moradias populares e, ao mesmo tempo, aumenta seus pequenos (mas ainda rentáveis) retornos.