Conheça os 3 tipos de inteligência e como fazer para que elas trabalhem juntas

Como a IA influencia nossa forma de pensar e o que acontece quando ela se junta à inteligência humana

Créditos: metamorworks e Olemedia/ Getty Images

Bob Wollheim 4 minutos de leitura

Diante das complexidades do mundo atual, nunca foi tão importante entender como aprendemos, aplicamos e adaptamos o conhecimento.

Na década de 1940, o psicólogo Raymond Cattell ajudou a popularizar uma ideia que sempre me chamou a atenção: a inteligência humana não é única – ela se divide em duas. Anos depois, seu aluno John Horn aprofundou essa teoria e detalhou os dois tipos:

- Inteligência fluida é a capacidade de resolver problemas novos – o raciocínio que usamos quando não há um manual.

- Inteligência cristalizada é o que acumulamos ao longo da vida: conhecimento, vocabulário, experiências, aprendizados. É o repertório que carregamos conosco.

Lembrei desses conceitos enquanto lia “Cada vez mais forte: como encontrar sucesso, felicidade e propósito na segunda eetade da vida”, de Arthur C. Brooks. Ele defende que o segredo para uma vida mais plena está justamente em saber quando – e como – fazer a transição da inteligência fluida, que tende a diminuir com o tempo, para a cristalizada, que continua a crescer.

Agora, com a IA cada vez mais presente no nosso dia a dia, fico me perguntando: o que acontece com essas duas formas de inteligência humana quando adicionamos uma terceira – a artificial?

O PAPEL DA IA NO NOSSO MODO DE PENSAR

Todo mundo quer saber se a IA vai nos substituir. Mas talvez a pergunta mais importante seja: como ela influencia nossa forma de pensar? E o que acontece quando esses três tipos de inteligência se combinam?

A inteligência artificial funciona de forma diferente da nossa mente, mudando a maneira como resolvemos problemas e aplicamos nosso conhecimento. Ao tentar encaixá-la no modelo proposto por Cattell e Horn, cheguei a duas conclusões:

A IA expande nossa inteligência fluida. Ela nos ajuda a pensar mais rápido, testar hipóteses e simular cenários. Funciona como uma parceira que nunca se cansa.

• A IA fortalece nossa inteligência cristalizada. Ela conecta informações, identifica padrões, resgata conhecimentos esquecidos e adiciona contexto. Quando usada com clareza, estimula nossa capacidade de estabelecer conexões.

QUANDO HUMANOS E MÁQUINAS PENSAM JUNTOS

Quando conseguimos usar, ao mesmo tempo, a inteligência fluida e a cristalizada em conjunto com a inteligência artificial – e não apenas fazendo perguntas a ela –, surge um novo tipo de potencial: o da colaboração entre humano e máquina.

Mas isso não acontece do nada. É preciso intenção e estratégia. Não se trata de controlar a IA nem de abrir mão da inteligência humana. É saber quando confiar no próprio raciocínio, quando recorrer à tecnologia e como equilibrar os dois.

O grande desafio é equilibrar de forma consciente a inteligência artificial e a humana,

No fim, somos nós que damos sentido às informações. Inteligência é o que fazemos com o que sabemos – e as experiências vividas moldam nossa intuição. Essa intuição, construída ao longo dos anos, é uma ferramenta essencial para tomar boas decisões.

Como, então, podemos aproveitar ao máximo esses três tipos de inteligência?

1. Desenvolvendo autoconsciência estratégica

Entender onde você se encontra no espectro entre inteligência fluida e cristalizada ajuda a usar com mais propósito suas habilidades naturais e adquiridas. Os avanços da IA nos desafiam a fazer esse exercício de autoconhecimento.

Recentemente, ajudei a planejar uma reunião semestral com os sócios da empresa. Sabendo que meu ponto forte é a inteligência cristalizada, organizei a agenda de forma que eu tivesse tempo para trazer informações relevantes que já vinha reunindo há meses.

Isso me permitiu compartilhar insights com outros colegas que também valorizam profundidade e contexto. O resultado foram conversas mais ricas e criativas.

Usei a inteligência artificial de forma estratégica – sabendo quando recorrer a ferramentas mais analíticas (inteligência cristalizada) e quando buscar respostas rápidas e inspiradoras (inteligência fluida). Ter clareza sobre onde estou nesse espectro – e como orientar a IA com base nisso – fez toda a diferença.

2. Usando a IA com mais propósito

A IA precisa ser tratada como uma parceira de verdade, alinhada aos seus objetivos. Quando você entende como funcionam sua inteligência fluida e cristalizada, fica mais fácil saber o que extrair das ferramentas que usa.

Créditos: dimdimich/ iStock

Alguns enxergam a inteligência artificial como um oráculo; outros, como um autocompletar superpoderoso ou um organizador robótico. E todos têm razão: a IA responde conforme o comando e o contexto que você fornece.

Com um direcionamento claro, ela oferece ótimas respostas. Com instruções vagas, erra feio. Quando você aprende a acessar suas próprias formas de inteligência por meio dela, consegue extrair mais valor – e evitar armadilhas comuns.

3. Atuando como verdadeiros maestros

O grande desafio é equilibrar de forma consciente a inteligência humana – tanto a fluida quanto a cristalizada – e a inteligência artificial. Quem consegue fazer isso bem se torna um verdadeiro maestro do mundo moderno, e não apenas um espectador.

No início, éramos nós que controlávamos tudo. Mas agora, agentes inteligentes também fazem parte da equação. Em pouco tempo, nos vimos diante de um cenário no qual ferramentas, agentes e pessoas trabalham juntos. Quanto melhor entendermos essa dinâmica, maior será nossa capacidade de gerar impacto.

Fluida. Cristalizada. Artificial. Todas juntas. Trabalhando em conjunto.


SOBRE O AUTOR

Bob Wollheim é vice-presidente de Growth & People na CI&T, empresa de transformação digital movida por IA. saiba mais