Gravadoras começam a negociar o uso de suas músicas para criações feitas com IA
Sony, Warner e Universal também defendem o direito de artistas optarem por não ter suas obras envolvidas em certos usos de IA

À medida que a inteligência artificial se infiltra cada vez mais profundamente na cultura pop, as grandes gravadoras começam a se mexer para proteger os interesses de seus artistas.
Sony Music, Warner Music e Universal Music Group iniciaram negociações com as startups Suno e Udio, que permitem aos usuários compor músicas originais. O objetivo: estabelecer parâmetros de compensação quando as obras de seus catálogos forem utilizadas no treinamento de modelos de linguagem e ferramentas musicais baseadas em IA.
As tratativas ocorrem em meio a disputas judiciais. Ambas as empresas de IA enfrentam um processo movido pela Associação Americana das Gravadoras (RIAA, na sigla em inglês), que as acusa de violação de direitos autorais. No ano passado, as próprias gravadoras também ingressaram com ações semelhantes, ainda em andamento.
Em sua defesa, a Suno evitou admitir diretamente o uso de obras protegidas por direitos autorais, alegando que seus modelos foram treinados com “basicamente todos os arquivos musicais de qualidade razoável disponíveis na internet aberta, respeitando paywalls, proteções por senha e similares, combinados com descrições de texto acessíveis da mesma forma”.
A empresa sustenta que seu uso se enquadra nas exceções previstas pelo “fair use” (uso justificado) da legislação dos EUA. “O que as grandes gravadoras realmente temem é a concorrência”, escreveu a Suno em resposta ao processo.
“Enquanto a Suno vê músicos, professores e pessoas comuns utilizando uma nova ferramenta para criar música original, as gravadoras enxergam uma ameaça à sua fatia de mercado.”
As gravadoras seguem os passos de outros setores que passaram a negociar com empresas de IA.
Além da compensação financeira, as gravadoras querem participar ativamente do desenvolvimento dos produtos oferecidos pelas startups. A ideia é implementar tecnologias de identificação que permitam rastrear como e quando músicas são usadas na criação de obras com IA. Também pressionam para influenciar parâmetros técnicos e de negócios das novas plataformas.
A Universal Music Group, que representa artistas como Taylor Swift, Lady Gaga e Drake, já demonstrou linha dura em negociações semelhantes. Em 2023, rompeu com o TikTok, retirando seu catálogo do aplicativo e exigindo a exclusão de qualquer música associada a compositores sob contrato com a gravadora.
“Não pode haver passe livre para plataformas globais que se recusam a enfrentar de verdade os desafios da IA, da segurança digital ou a pagar uma remuneração justa pelo trabalho de nossos artistas e compositores”, declarou o CEO da UMG, Lucian Grainge, na época.
SINATRA CANTANDO NIRVANA?
As três gigantes também defendem o direito de artistas optarem por não ter suas obras envolvidas em certos usos de IA. No ano passado, nomes como Billie Eilish, Billy Porter, Jon Batiste e Jon Bon Jovi assinaram uma carta aberta criticando a inteligência artificial, exigindo regras mais rígidas contra práticas que “infrinjam e desvalorizem os direitos dos artistas humanos”.
Famílias de ícones da música como Frank Sinatra e Bob Marley também endossaram o documento, após verem as vozes desses artistas recriadas digitalmente para interpretar canções de outros músicos.

As gravadoras seguem os passos de outros setores que, após resistirem inicialmente, passaram a negociar com empresas de IA. Editoras de livros e veículos jornalísticos como News Corp., Reuters, The New York Times, Vox Media e Axel Springer já fecharam acordos semelhantes.
Embora as conversas com Suno e Udio ainda estejam em fase inicial – e estejam sendo conduzidas separadamente por cada gravadora –, uma solução bem-sucedida poderá incluir participação acionária nas startups, como já ocorreu com plataformas de streaming como o Spotify. Um eventual acordo financeiro também pode encerrar as disputas judiciais em curso.