Taylor Swift readquire direitos sobre suas músicas e inspira uma geração de mulheres
A mensagem por trás do gesto: com talento e estratégia, é possível mudar tudo

Estava em uma conferência sobre – veja só – alianças entre homens e mulheres quando recebi uma notificação no celular: Taylor Swift havia conseguido readquirir os direitos sobre todas as suas gravações master e materiais relacionados às suas músicas antigas. Por cerca de US$ 360 milhões, ela passou a ser dona de tudo o que já criou – incluindo seus seis primeiros álbuns, os clipes, as capas e toda a parte artística.
Os swifties, como são chamados os fãs da cantora, vibraram nas redes sociais com mensagens de apoio e celebração. Em poucas horas, a notícia se espalhou pela imprensa. E, em menos de um dia, os álbuns antigos da artista já ocupavam o topo dos rankings nas plataformas de streaming – com "Reputation", o relançamento mais esperado, em primeiro lugar. Era a base de fãs demonstrando seu poder da maneira mais eficaz: com o bolso.
Taylor construiu uma fortuna – ampliada com o sucesso da Eras Tour – e usou sua força financeira para recuperar o controle sobre suas próprias obras, deixando para trás, no esquecimento, aqueles que tentaram prejudicá-la.
Mas não fez isso sozinha – e está longe de ser a primeira. Há décadas, séculos, talvez desde sempre, pessoas oprimidas vêm lutando para serem vistas, ouvidas e reconhecidas. E muitas já conseguiram retomar o que sempre foi delas por direito.
Dolly Parton é um ótimo exemplo. Há quase 50 anos, ela rompeu com a lógica dominante da indústria do entretenimento, que limitava o poder das mulheres, e abriu caminho com seu próprio talento.
Em 1974, Dolly entrou no escritório de Porter Wagoner para dizer que estava deixando o programa que levava o nome dele – justamente o que a lançou à fama. Como gesto de gratidão, cantou para ele uma música que compôs especialmente para a ocasião: “I Will Always Love You”.
Ela já havia superado o papel de coadjuvante ao lado de Porter. Mas sair exigiu coragem, planejamento e muita força. Porter a processou – uma tática comum de quem quer manter o controle –, mas, por meio do diálogo, da empatia e de uma boa quantia em dinheiro, os dois chegaram a um acordo.
INDEPENDÊNCIA
Como algumas mulheres ao longo da história conseguiram reunir os recursos necessários para conquistar sua independência? Muitos apontam para o movimento sufragista, no início do século 20. Ainda assim, mesmo naquele momento, as mulheres precisaram fazer alianças com homens.
Em agosto de 1920, o voto decisivo para aprovar a 19ª Emenda da Constituição dos EUA – que garantiu às mulheres o direito de votar – veio de um senador republicano do estado do Tennessee chamado Harry T. Burn. Sua decisão, inesperada, abriu caminho para a autonomia econômica e política das mulheres ao longo do século.
A história está repleta de mulheres e pessoas oprimidas que souberam usar os recursos e as posições que tinham para conquistar influência, ganhar poder e assumir o controle de suas próprias vidas.

Hoje, em um momento no qual direitos fundamentais estão sendo questionados, Taylor Swift volta a nos mostrar que, quando usamos nossos talentos mais profundos, somos capazes de mover montanhas.
Podemos tocar as pessoas de verdade, despertando nelas o desejo de fazer parte de algo maior – algo com propósito, intensidade e alma. E, como aprendi na conferência que participava na Universidade Johns Hopkins, fazer alianças – mesmo com parceiros improváveis – pode gerar mudanças reais e transformadoras.
Torcemos por Taylor Swift porque nos reconhecemos nela. Como toda pessoa oprimida que escolhe lutar, ela representa esperança – a esperança de que, com talento e estratégia, é possível mudar tudo.